Uma hora separa Barcelona do aeroporto de Girona, e esse é o ponto que a maioria dos viajantes conhece dessa província catalã. Mas quem desvia da rota e vai parar nas praias da Costa Brava, um paraíso na parte mais ao norte da Espanha, só deseja uma coisa: ficar.
Rochas cercam o Mediterrâneo e formam calas belíssimas. A dica é: alugue um carro no aeroporto e siga até Palafrugell, uma cidadezinha com cerca de 20 mil habitantes que preserva o catalão como idioma, mas que, nos meses mais quentes, entre julho e agosto, parece ser habitada essencialmente por franceses e holandeses.
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Ponto central da Costa Brava, Palafrugell é um dos recantos com melhor infraestrutura na região. A três quilômetros da área urbana, chega-se a Calella de Palafrugell, com suas ruazinhas apertadas, casinhas brancas charmosas e um Mediterrâneo que sorri entre o verde e o azul.
É impossível descrever o lugar com a mesma paixão que se sente ao caminhar pelas ruelas, passar pela areia e entrar naquelas águas. Crianças desbravam o mar sozinhas, com seus snorkels, e mulheres se deixam banhar pelo sol (o topless é prática de novinhas a senhoras). Com aproximadamente 5 euros, é possível comprar, por ali mesmo, um óculos e um respirador e, então, imitar os pequenos nos mergulhos.
Com dois ou três passos mar adentro, os pés perdem o fundo, a água salgada permite que se flutue com mais naturalidade e, de repente, a gente vira mar e ele nos engole. Peixes de diferentes tamanhos e cores, rochas e a imensidão azul ao dispor. Passa-se fácil mais de uma hora nesse clima – e, quando resolvemos voltar à beira-mar, lá estão nossas coisas, onde deixamos. A confiança predomina no lugar.
De carro, é possível vencer o sobe e desce e mudar de praia em poucos minutos – mas use-o somente para trocar o endereço da canga, porque é possível mudar de praia caminhando pela calçada que margeia a beira-mar. Nadando se encontra refúgios impossíveis de conhecer por terra.
Um dia de aventura
A hospedagem de frente para o mar em Palafrugell é cara para quem não ganha em euros – por isso, a salvação foi o Airbnb. Nosso anfitrião era um alemão que tinha vivido uma década inteira na Argentina, e, depois de três anos na Catalunha, estava de mudança marcada para Palma de Mallorca.
Caloroso, ele nos adotou naqueles dias e nos deu de presente o seu lugar favorito: El Golfet. Não se chega fácil a essa praia. Do centro da cidade até lá, é preciso seguir de carro por uns 10 minutos. Graças ao Google Maps, conseguimos estacionar no ponto em que começa a escadaria. A descida é longa e passa por túneis naturais entre as rochas. Mas faríamos tudo de novo, todos os dias, se preciso.
El Golfet é uma praia que não tem mais de 50 metros de faixa de areia entre uma ponta e outra. O snorkel virou nosso parceiro e foi muito útil por ali. Devidamente equipados, pelo mar chegamos a outras pequenas praias e cavernas. Vale muito o passeio, mas é preciso levar lanchinhos e água na mochila. Entre tanta rocha e escada, fica difícil manter comércio.
Roteiro Dalí
A cerca de 30 minutos do centro de Palafrugell, fica Púbol. Foi nessa cidade que Salvador Dalí construiu, em um edifício medieval, o castelo para Gala, sua mulher. Sugestão: reserve um horário bem cedo e gaste o resto do dia conhecendo Palms e Begur. Esse último é um importante centro turístico da província de Girona.
Do Castelo de Begur, ponto mais alto da cidade, avista-se toda a beleza do lugar. Dizem os moradores que a cidade tem influência forte da cultura cubana. Praias como Sá Tuna e Aiguafreda merecem um mergulho estratégico.
Um pouco mais longe, a aproximadamente uma hora de Palafrugell, está a praia de Port Lligat, onde Dalí e Gala viveram por mais tempo. Para chegar lá, é preciso passar por uma serra com estradas que exigem cautela, mas são bastante seguras, por isso sugiro que se saia com antecedência e se marque um horário pelo meio da manhã.
Em 1930, atraído pela paisagem, pela luz e pelo isolamento, o pintor adquiriu a propriedade e lá viveu com a mulher até 1982, quando ela morreu. Reservar a entrada antes é essencial. Só entra um grupo de oito pessoas a cada 15 minutos. A visita guiada por dentro da casa é rápida, mas depois é possível passar mais tempo por ali. O lugar está, disse a guia, exatamente como Dalí deixou e dá a dimensão da criatividade do artista.
Duas atrações têm de estar no roteiro de quem vai a Port Lligat: Cap de Creus, ponto mais oriental da Península Ibérica, declarado parque natural por sua riqueza geológica; e Cadaqués, uma praia entre duas montanhas onde, até o final do século 19, só se chegava pelo mar.
Para fechar o roteiro, é preciso seguir até Figuerès (fala-se Figueras) e conhecer o impressionante Teatro Museu-Dalí, concebido e desenhado pelo artista e que mantém a mais ampla coleção de suas obras. Visitar o lugar é entrar na mente genial de Dalí. Finalizei o dia com um tinto de verano do 100 Montaditos, na Praça Gala e Salvador Dalí, com o sol batendo no topo do teatro. Inesquecível.
As noites
Deve-se reservar uma noite para cada praia. Llafranc, Tamariu e Calella de Palafrugell guardam um espetáculo quando o sol cai. Os restaurantes à beira-mar lotam – de turistas e artistas. Escolher um lugar para jantar é muito difícil, tamanha a gama de opções. A gastronomia mediterrânea prevalece, claro, e é incrivelmente saborosa. Mas, para quem não é muito chegado em frutos do mar, a culinária italiana se faz presente (ah, os italianos). Para finalizar, um sorvete artesanal no La Jijonenca.