É só gastar da forma certa, ser minimamente disciplinado e ter um pouco de paciência para ganhar um baita presente na hora da viagem de avião: passagem a custo zero. O benefício vem por meio das milhas acumuladas em programas de fidelidade, serviço que ainda gera dúvidas em muitos viajantes, que o consideram complexo demais. Comum fora do país, o uso das milhas vem - de forma lenta - ganhando espaço entre os consumidores brasileiros.
Entenda como funcionam os programas de milhagem
A adesão de clientes está em uma curva ascendente, de acordo com Leonel Andrade, CEO da Smiles. Parceira da Gol, a empresa de multifidelização tinha aproximadamente 9 milhões de clientes em 2013 e, agora, já alcançou a marca de 11 milhões. Mas o engajamento do público ainda deixa a desejar.
- Os serviços estão mais estruturados, com foco no cliente e uma comunicação específica. O que falta ao consumidor é mais atenção. Precisa de disciplina para juntar milhas - avalia Andrade.
A falta de comprometimento pode ser fatal para quem quer se beneficiar do serviço. Um levantamento do Banco Central junto a emissores de cartões de crédito, uma das principais maneiras de acumular pontos, mostrou que 53,4 bilhões de milhas expiraram em 2014 por falta de uso. Ou seja: muita gente deixou de aproveitar passagens de graça.
- Há falta de atenção ou mesmo falta de costume na utilização. Para possibilitar o máximo de aproveitamento, realizamos diversas campanhas e enviamos e-mails periódicos aos clientes - diz Carolina Torres, gerente sênior de Marketing e E-commerce da Multiplus, ligada à TAM.
Se a ideia for viajar para fora do país nos próximos meses, deixar escapar esses pontos é quase como jogar dinheiro fora. A alta do dólar encareceu as passagens para destinos estrangeiros, assim, as milhas surgem como grandes aliadas na economia.
- O acúmulo dos pontos também foi prejudicado, pois a conversão geralmente é baseada no dólar. Mas, de qualquer maneira, quem usa o programa economiza dinheiro no fim das contas. É uma grande oportunidade - opina o advogado Eloy da Fonseca Neto, que comanda o site Mestre das Milhas.
Para ajudar a quem quer ingressar nesse mundo, o Viagem fez, nesta edição, um guia de como utilizar o serviço. ACESSE AQUI.
Exterior acessível
O foco de Tania Pacheco, 53 anos, com as milhas é apenas um: passear no Exterior. Usuária de um programa de fidelidade há cerca de cinco anos, a engenheira civil tenta viajar pelo menos três vezes por ano para outros países. No fim de outubro, embarcou para os Estados Unidos usando suas milhas acumuladas.
- Por conhecer pessoas que viajavam com milhas, vi que era uma possiblidade. Aí pesquisei e comecei a usar. Tem que ter boa vontade e incorporar alguns hábitos no dia a dia - explica.
O principal aliado de Tania na hora de acumular milhas é o cartão de crédito. Ela elegeu o programa de fidelidade de uma companhia aérea e, para acumular pontos, usa o cartão para tudo - até se a compra for um simples chiclete. Quanto mais gasta, mais acumula. Assim também ocorre com os postos de gasolina conveniados, outra aposta da engenheira. Depois de reunir a pontuação necessária, ela faz a transferência online para o serviço conveniado. Nesse quesito, é preciso certa dedicação.
- O processo é uma barbada, realmente não é difícil. Quando acumula um pouco, já faço a transferência porque viajo bastante. Vejo muita gente reclamando, mas eu nunca perdi uma milha. É só ter atenção - conta.
Uma tática de Tania para sair ganhando é ficar de olho nas promoções. No site do programa, por e-mail ou nas redes sociais, são divulgadas boas oportunidades diariamente. E se surgir alguma dúvida, ela avisa:
- Acabo ligando para o call center. Me ajuda bastante.
De geração em geração
O hábito de Ana Paula Poppi, 23 anos, em usar milhas vem de família. Há pelo menos cinco anos, a mãe dela, Maria, começou a utilizar os programas de fidelidade das companhias aéreas para conseguir passagens grátis. Quando a mãe da estudante de Relações Internacionais se mudou para Brasília, em 2012, as viagens para a capital do Brasil se tornaram mensais. A partir daí, a jovem deu início a sua caminhada nos serviços de milhagem.
- Comecei com apenas um programa e, depois, me inscrevi em outros. Por viajar bastante, achei que valia a pena para conseguir comparar os serviços - conta Ana.
Como viaja muito, a principal maneira de a estudante acumular milhas é aproveitando os próprios trechos feitos para ganhar pontos. Pelo menos uma vez por mês ela utiliza passagens aéreas. A cada bilhete, consegue juntar determinada quantidade de milhas.
- Usar o cartão de crédito não é uma prática minha. Quando faço o check-in, já digo que quero acumular milhas com aquele voo. É assim que eu ganho. Já é automático para mim e funciona bem - diz.
Outras opções usadas por Ana são a transferência e o complemento com um valor em dinheiro. Se a mãe tem muitos pontos, é possível passar para a filha comprar a passagem. Já caso faltem algumas milhas para garantir um lugar no voo, pode-se usar os pontos agregados a um valor em reais.
- Quem quer começar a usar tem que ter um pouco de paciência. Às vezes demora para encontrar uma passagem que vale a pena. Mas, no fim, é sempre bom financeiramente. Eu sustento minhas viagens assim - afirma a estudante.
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