A primeira vez que ouvi falar no Uzbequistão foi na Rússia, quando nossa guia mencionou nomes como Samarkand, Caravansarai, Rota da Seda e falou de noites estreladas no deserto, dormindo em yurts. Na época, aquilo me pareceu um mundo muito remoto e distante, mas ficou impresso na minha mente, naqueles lugares reservados para o sonho. Personalidades históricas como Alexandre, o Grande, Genghis Khan, Timur e Marco Polo davam a ideia de grandiosidade.
Foi em setembro passado que finalmente realizei o sonho de conhecer a Ásia Central. Fui explorar os cinco "stãos" - países que terminam com o sufixo persa "stan", que significa "terra de" (Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão, Tajiquistão e Turcomenistão). Historicamente ligados à antiga Rota da Seda, tiveram um papel importante no intercâmbio de culturas, bens e ideias entre a Europa, a China e a Índia. A Ásia Central era habitada por tribos nômades, também chamadas de Turkic, islamizadas no século 8 - mas o budismo e o zoroastrismo também deixaram um legado importante.
Todos os cinco são ex-repúblicas soviéticas e se tornaram independentes em 1991. A característica mais marcante é justamente ter sido uma encruzilhada entre diferentes civilizações.
Aprendi muito na viagem, pois minha ignorância sobre essa parte do mundo era total. Notei que, cada vez que falava que estava indo para lá, as pessoas me olhavam com uma cara de compaixão - mas posso afirmar com propriedade que é muito seguro e tranquilo.
De todos os lugares em que andei, o que arrebatou meu coração foi o Uzbequistão. O país tem um sem número de joias arquitetônicas, cidades antigas fascinantes congeladas no tempo com seus vendedores de tapetes e sedas, todos profundamente ligados com a história sangrenta e impressionante da Rota da Seda. Sozinho, o Uzbequistão tem atrações suficientes para deixar qualquer viajante deslumbrado.
Samarkand, Bukhara e Khiva são nomes que evocam as caravan sarais que paravam nestas cidades-oásis no deserto. Este comércio intenso trouxe riquezas e culturas de todos os cantos do planeta. Durante a viagem, percebi que os seus maiores tesouros começam com a letra M - mesquitas, mausoléus, minaretes e madrassas, todos cobertos com mosaicos azuis deslumbrantes.
Caminhar pelas ruas da cidade murada de Khiva (foto abaixo) é como se transportar no tempo. Turistas são raros por lá, e quem aprecia aquela sensação de estar desbravando lugares remotos sabe do prazer que traz essa experiência.
Você já deve ter ouvido falar de Bukhara, mas nem imagina o tesouro que está por trás deste nome de padrão de tapete. Com uma história de 5 mil anos, seu centro histórico é considerado patrimônio da humanidade pela Unesco e faz jus a este título. Andar por suas ruas estreitas cheias de tapetes pelo chão, vendedores de peças antigas vindas de lugares como Afeganistão e Índia é como estar em algum cenário de filmes das mil e uma noites.
O turismo está em pleno desenvolvimento, a internet, por todos os lugares, e pode-se beber bons vinhos da Geórgia e cervejas russas. O islã por lá é muito light - as mulheres não andam cobertas, trabalham e, graças aos russos, o índice de analfabetismo é baixíssimo.
E não poderia deixar de registrar que um dos maiores tesouros desta parte do mundo é o povo. Todas as pessoas recebem os turistas sorrindo, mesmo sem falar inglês, se esforçam para ajudar e pedem para tirar fotos. Enfim, me senti muito acolhida por aquela gente que, com uma autonomia recente, ainda está buscando seu próprio caminho.
*Clarisse Linhares é uma das autoras do blog Viajando com Arte
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Clarisse Linhares vai dar uma palestra nesta terça-feira, às 19h, contando suas aventuras por terras exóticas como o Uzbequistão. O endereço é Félix da Cunha, 1.009, no salão de eventos - tem estacionamento no local. É preciso confirmar presença, pois os lugares são limitados, pelo telefone (51) 3025-2607. Valor: R$ 40.