Caminho pela Ossington Avenue e observo, através da vidraça, dois argentinos tomando mate em um café descolado situado num espaço de efervescência criativa. Um pouco mais tarde, vejo executivos de terno almoçarem em um moderninho restaurante italiano instalado no meio de um caótico bairro chinês e observo senhorinhas comprando pães em uma padaria portuguesa, daquelas cheias de doces com ovos. Visitando a multicultural Toronto, nem deu para estranhar a variedade étnica e a tranquila convivência entre os povos. A maior cidade canadense, aliás, orgulha-se desta diversidade, bem como o respeito às diferenças - de etnia ou orientação sexual.
Estrangeiros são prontamente acolhidos, e o inglês falado na organizada cidade é ouvido com diferentes sotaques. Japoneses, vietnamitas, indianos, paquistaneses, chineses, gregos, ucranianos, brasileiros, italianos, portugueses estão estabelecidos em bairros e guetos. O interessante é que essa riqueza cultural é integrada à cidade de forma natural.
Guia do walking city tour, Carole viveu no Rio de Janeiro na década de 1970 e era parceira da Elke Maravilha. Além de falar português e ser muito divertida, destaca que a conta de energia elétrica recebida pelos moradores sintetiza esse sentimento de igualdade: é escrita em inglês e em outra 17 línguas. Não é difícil encontrar jornais em várias línguas: há mais de cem publicações diárias, semanais, mensais ou quinzenais de imprensa, representando cerca de 40 culturas e idiomas. Por lá, são falados 130 idiomas e dialetos.
Com população de 2,8 milhões de pessoas, há atração para todo tipo de visitante - pontos turísticos, compras, natureza. Mas a graça da cidade vai bem além da CN Tower, espécie de Torre Eiffel do Canadá, com 533 metros de altura e que dá um frio na barriga na subida do elevador. É preciso visitá-la em um dia de sol, para poder contemplar melhor a vista. Quando eu fui, praticamente não tinha fila, o que é quase um milagre para um lugar desses.
Quem gosta de experimentar comidas étnicas (existem 7 mil restaurantes por lá, alguns com uma vista incrível da cidade, como no Canoe, instalado no 54º andar de um prédio) ou conhecer muitas culturas em um curto espaço de tempo nem deve pensar duas vezes ao decidir embarcar para Toronto. Lá, os diferentes são iguais e, para se ter uma ideia, existem cinco Chinatowns, sendo a maior delas entre as avenidas Spadina e Dundas Street West, repleta de lojinhas de badulaques, comidas típicas, frutas exóticas e até caixas eletrônicos dos bancos com inscrições em mandarim. Sim, essa área de Toronto parece ter sido extraída de Hong Kong.
Perto de lá existe Kensington Market, cheio de casas vitorianas coloridas, nas quais são vendidas de roupas a comida. A Greektown, na Danforth Avenue, entre Chester Avenue e Dewhurst Boulevard, é adornada pelas cores azul e branca, da bandeira da Grécia, nos postes e em flâmulas pelas casas. O bairro abriga a maior comunidade grega fora do país europeu e, além de placas escritas em inglês e grego, é repleta de restaurantes deliciosos para quem gosta do estilo.
Esse quê de volta ao mundo é bem maior, já que Toronto abriga, ainda, a Little Italy, a Koreatown, a Little Poland e a Little India, com concentrações de imigrantes europeus e asiáticos. A cidade também é totalmente gay friendly e, embora não precise de delimitação geográfica, há uma área situada entre as ruas Church e Wellesley conhecida como The Gay Village, cheia de bandeiras do arco-íris, símbolo do movimento LGBT, tremulando em supermercados, cafés, lojas restaurantes, bares e boates.
O cerne dessa fusão de culturas aparece até na etimologia de Toronto, palavra indígena que significa lugar de encontro - e não é exagero dizer que o mundo caminha pela cidade.
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Romantismo e vinhos
Pequena e charmosa, dá para entender porque a Niagara-on-the-Lake é um dos destinos favoritos para lua-de-mel no Canadá, situada a duas horas de carro de Toronto. A cidadezinha é cheia de hotéis acolhedores, no estilo bed&breakfest, bem como lojinhas com produtos diversos, sorveterias e cafés distribuídos por toda via principal - a Queen Street -, uma via de estilo inglês com uma torre do relógio que serve como ponto de referência. Deve ser mais interessante para um passeio a dois, mas caminhar despretensiosamente pelas ruas arborizadas na companhia de esquilos não é nada mal.
Não há muito agito por lá, e boa parte dos turistas opta por hospedar-se em Niagara-on-the-Lake para poder visitar as vinícolas dos arredores- são 76 espalhadas pela região, sendo 28 só na cidade. Os passeios são bacanas até para alguém com pouca proximidade com a bebida, como eu. Embora os hits sejam os icewines, vinhos produzidos a partir de uvas expostas naturalmente a temperaturas de -8ºC ou menos, é possível degustar uma variedade deles.
Os canadenses são apreciadores de vinhos nacionais e responsáveis pelo consumo de 75% das garrafas produzidas, tornando o Canadá o quinto mercado mundial, com 13 litros per capita, atrás de Chile, Uruguai, Argentina e França. Há um selo que atesta a qualidade da bebida produzida, o VQA (Vintners Quality Alliance, algo como Aliança de Qualidade dos Vinicultores). Segundo a relações públicas da Inniskillin, a primeira empresa a lançar o icewine no país em 1984, Deborah Pratt, a localização dessas vinícolas é privilegiada:
- As pessoas acham que estamos muito ao norte, que é muito frio para fazermos vinho, mas é a mesma latitude que Bordeaux (uma referência na produção mundial de vinho, na França).
(Canadian Tourism Comission/Divulgação) O icewine é produzido a prtide de uvas expostas naturalmente a uma temperatura de - 8ºC ou menos
A especialidade canadense
Ao explicar sobre o icewine, a anfitriã pede para não chamar o icewine de "vinho doce" e discorre sobre todas as possibilidades de harmonização - de trufa dark chocolate com sal grosso a queijo brie. Curioso que a degustação exclusiva deste tipo de vinho conta com um "elemento surpresa", uma taça desenvolvida especialmente para isso, que empurra a bebida diretamente para o fundo da boca, fazendo com que o gosto adocicado seja percebido por toda língua, intensificado na ponta.
Algumas vinícolas, como a Vineland e a Peller Estates, têm restaurantes gourmet na casa principal e são bem interessantes para quem gosta de comer com calma. Nesta última, o ambiente é requintado, o serviço impecável e é possível provar bebidas acompanhadas por cinco ou sete pratos do menu degustação preparado pelo chef-sensação Jason Parsons.
* A jornalista viajou a convite da Comissão de Turismo do Canadá (CTC) e do Turismo de Toronto
Veja a localização no mapa abaixo: