Viagens têm um grande poder transformador. O suíço Sébastien Liechti, 27 anos, é um exemplo disso. Recém formado em Medicina, decidiu deixar Genebra para viajar por quase um ano por África, Ásia e América do Sul. O resultado, segundo Sebastien, foi arrasador: hoje ele não quer mais saber da medicina tradicional, descobriu o poder da fotografia e desenvolveu um "novo eu". Ele nos contou tudo isso em um hostel de Medellín (Colômbia), quase ao final de sua aventura, em julho. Confira trechos do bate-papo.
Viagem - Você diz que a Índia foi um divisor de águas na sua vida. Por quê?
Sébastien Liechti - Na Índia, especialmente no Himalaia, eu senti, pela primeira vez, felicidade. E sem precisar de nada. As montanhas são especiais. Só de olhar para elas me senti relaxado, tinha pensamentos muito profundos e positivos. É muito difícil explicar essa sensação. Estava muito feliz de estar lá naquele momento. Era o final da primeira parte da minha viagem, e eu sabia que tinha descoberto algo importante, um "novo eu". E agora tinha a segunda parte (na América do Sul) para desenvolvê-lo. É o que estou tentando fazer na Colômbia. Aqui encontrei uma boa "vibe" para desenvolver esse "novo eu".
Viagem - Qual foi o momento mais especial?
Sébastien - Os dias que passei em uma pequena vila no vale himalaia estão entre os destaques. Lá, vivi a vida simples. Trabalhar duro na colheita, caminhar, fotografar, brincar com as crianças. Vivi com uma família muito pobre, mas fui tratado como um rei. As mulheres da casa cozinharam a melhor comida que experimentei na vida! Tudo fresco e orgânico, diretamente da terra. De aperitivos a iogurte feito com o leite da vaca que vivia embaixo do meu quarto. Assistíamos ao pôr do sol no telhado da casa bebendo, fumando, comendo e conversando sobre a vida. Me senti muito feliz em ter uma experiência como essa, e agora quero viver mais dessa maneira.
Viagem - O que o fez querer trabalhar com medicina alternativa?
Sébastien - Creio que sempre fui um ser humano espiritual, mas era difícil colocar em palavras o que eu sentia. O tempo que passei na Índia e nos Himalaias me ajudou muito. Cresci em uma família rica da Suíça, me formei no colégio e depois em Medicina não brilhantemente, mas com facilidade. A vida era boa, mas não estava satisfeito. Durante meus estudos, notava que o sistema queria que eu seguisse seu caminho, o único que oferecia, sendo um bom soldado sob seu controle e seguindo suas ordens. Encontrei filosofia, espiritualidade, natureza, simplicidade, felicidade, conectividade, equilíbrio e um gostinho de liberdade quando conheci Udi, um médico ayurvédico de Israel, e sua mulher no terraço de nosso hotel com uma maravilhosa vista dos Himalaias. Ele me contou sobre a Ayurveda e, desde aquele momento, fui capaz de colocar em palavras o que sentia há tanto tempo.
Viagem - Quando você descobriu a paixão pela fotografia?
Sébastien - Estava caminhando em Moçambique, um dos lugares mais especiais que visitei, e vi uma senhora idosa sentada. Senti que havia algo de especial lá, mas tive receio de ir até ela e ouvir uma recusa. Primeiramente passei e disse "oi", depois voltei e pedi, com ajuda do guia que me acompanhava, se poderia tirar uma foto. Era o segundo mês de viagem, e foi a primeira vez que enfrentei o meu medo de fotografar desconhecidos. Ali comecei a gostar de fotografar.
Viagem - É uma forma de mostrar para o mundo as condições em que vivem, né?
Sébastien - Claro. Agora eu quero expor as minhas fotografias e, se possível, vendê-las para fazer algo com esse dinheiro. Considerei encontrar ONGs nos países em que fotografei, mas estou pensando no melhor momento que tive até agora nesta viagem, que foi naquela vila nos Himalaias. Com ONGs, você não sabe direito onde vai parar sua doação, mas nesse caso é muito mais pessoal. Eu conheço aquele homem e seus sonhos. Ele quer reformar uma pequena casa por lá e torná-la uma pousada. Ele virou meu amigo e quero recompensá-lo por proporcionar a melhor memória da minha viagem.
Confira as fotos feitas por Liechti: