Além dos famosos bairros portenhos como a chique Recoleta, o boêmio San Telmo ou o turístico La Boca, há poucos meses outra região de Buenos Aires entrou no circuito turístico, o bairro de Flores. E quem colocou esse lugar, pouco conhecido dos turistas, na lista dos visitantes foi um argentino, o papa Francisco.
Jorge Mario Bergoglio nasceu e cresceu nesse bairro modesto de Buenos Aires, que do dia para a noite ganhou fama. Filho de imigrantes italianos, Bergoglio viveu com seus pais e irmãos na casa da Calle Membrillar, 531, que antes passava despercebida por quem caminhava por essa rua. Ainda em Flores, na esquina da sua residência, a pracinha Herminia Brumana, que antes só era conhecida pelos vizinhos do bairro, também ganhou fama. Quando criança, o Pontífice costumava jogar bola ali com seus amigos do bairro. Talvez até tenha sido nessa época que a sua paixão pelo futebol surgiu.
Mesmo com todo o protocolo que o rodeia, o Papa não esconde seu fanatismo pelo clube de futebol San Lorenzo. A imagem dele segurando a camiseta azul e vermelha do time argentino deu a volta ao mundo.
Para saber curiosidades como essas é preciso subir no Papatour, um ônibus que leva os turistas para conhecerem esses e outros lugares que marcaram a vida do até então arcebispo em Buenos Aires, antes de ser eleito o novo líder da igreja católica.
O ponto de partida do passeio é a Basílica de Flores. Nesse lugar, aos 17 anos de idade, o jovem Bergoglio descobriu sua vocação religiosa. Os visitantes também passam na frente do presídio Villa Devoto, onde o Sumo Pontífice celebrava missas aos presidiários durante a Páscoa.
Trajeto papal
Enquanto o ônibus percorre sete bairros portenhos, um guia turístico conta detalhes da vida do argentino que sempre optou por uma vida simples. Muita gente confirma que Bergoglio não gostava de luxo. Ele costumava andar de metrô e ônibus, e comprava jornal nos fins de semana em uma banquinha entre as ruas Hipólito Irigoyen e Bolivar, na frente da Catedral.
O ônibus faz uma parada e todos descem na Paróquia San José del Talar, também conhecida como Santuário da Virgen Desatanudos (Nossa Senhora Desatadora de Nós). A imagem dessa virgem foi trazida da Alemanha a pedido de Bergoglio. Diariamente dezenas de fieis lotam o lugar para rezar.
Entre outros locais, o Papatour também passa na frente do imponente edifício do Teatro Colón, onde, antigamente, o papa Francisco assistia a espetáculos de ópera.
Depois de três horas de passeio e de conhecer além da casa onde morou, as escolas onde estudou, as paróquias nas quais celebrava missa, e os lugares onde Bergoglio trabalhava, antes de ser eleito Papa, o tour termina na Plaza de Mayo. Bem próximo dali, na Avenida de Mayo, 560, fica a Barbearia Romano, outro local que Bergoglio frequentava.
A estátua
Com uma atual crise cambial e problemas de inflação alta, muitos argentinos encontraram na nomeação de Bergoglio uma ponta de esperança.
- Acho que a escolha do novo Papa veio na hora certa. Estávamos mesmo precisando de um empurrãozinho como esse para seguir em frente, porque não estamos vivendo uma época muito boa por aqui - diz Sara Ay, 74 anos, que participou do Papatour.
Os argentinos adorariam receber a visita do Papa o quanto antes, mas, pelo menos por enquanto, não há previsão. A única visita que ele fará à América Latina este ano será ao Rio, para a Jornada Mundial da Juventude.
Depois de ter recebido uma estátua em tamanho natural na catedral de Buenos Aires, Bergoglio acaba de ganhar também um museu dentro da catedral. A sala, que leva seu nome, exibe objetos pessoais e litúrgicos.