Contemplar o Caribe ou desbravar o território maia encravado na floresta? Lojas de grife ou um mergulho em piscinas naturais formadas em rios subterrâneos? Um mojito em uma das melhores baladas do mundo ou tortilhas fumegantes com sal e limão preparadas por artesãs maias em casas singelas? Isso, tudo isso, é Cancún.
Erguida do zero a partir da década de 1970 na Península de Yucatán, porta de entrada para o Golfo do México, Cancún se mantém no topo da lista dos destinos de quem procura mordomias com cenários paradisíacos, compras e vida noturna que, por si só, já valeriam a viagem.
Apesar de ter sido construída em pouco mais de 30 anos, quem a escolhe pode conhecer um destino pitoresco e carregado de história, bem além do que os folders repletos de areias brancas e águas azuis-turquesa sugerem.
Santuário maia
Cento e vinte degraus irregulares e em pedra escorregadia levam ao topo de uma das raras grandes pirâmides maias que ainda podem ser escaladas. Do alto de seus 42 metros, a Nohoch Mul (Grande Cerro) recompensa: vê-se apenas o verde infinito da planície de mata densa e as ruínas da civilização milenar.
Há 1,5 mil anos, porém, o entorno da Nahoch Mul fervilhava.
Estamos no coração de Cobá, uma cidade que desapareceu bem antes dos espanhóis chegarem à América. Em seu esplendor, entre os anos 300 d.C e 900 d.C., Cobá funcionou como uma metrópole de negócios entre a costa do Caribe e as cidades do interior. Essa história está contada em 53 grandes estelas, placas de pedra espalhadas nos arredores da grande pirâmide.
Entre 30 mil a 40 mil pessoas circulavam por seus sacbés (caminhos brancos) - vias elevadas que serviam como estradas e também como territórios de imunidade diplomática. Foram demarcados 34 sacbés - um deles com quase 100 quilômetros - interligados com outras cidades do mundo maia.
Nos arredores de Cancún, há três dezenas de sítios arqueológicos. O mais imponente, porém distante cerca de duas horas ônibus, é Chichén Itzá, outro polo regional cujo auge coincidiu com o declínio de Cobá. Alguns historiadores atribuem o fim de Cobá à supremacia de Chichén Itzá, hoje uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno.
Muitos desses vestígios permaneceram encobertos na selva até a consolidação de Cancún como área turística. A península foi pouco povoada até os anos 1970, quando investidores vislumbraram a exploração das faixas de areia que separam o Caribe de uma sequência de lagoas. O próprio Estado de Quintana Roo, onde está situada Cancún, só foi fundado em 1972.
Os templos de Cobá foram abandonados, mas os maias contemporâneos estão presentes e dão alma à região. Nas localidades ao redor das ruínas, como em assentamento Hidalgo, há casas e escolas de sapé onde é possível visitar, com indicações de guias, famílias de artesãos, que se enfeitam para receber os turistas. Vivem da venda de bordados coloridos, máscaras e os complexos calendários maias esculpidos em pedra.
Forasteiros atraídos pela cultura ancestral também tratam de perpetuá-la associando-se aos nativos. O resultado disso são templos xamânicos e casas construídas em integração com a natureza, tão escondidas em meio à mata que só um guia sensível poderá mostrar.
Em dezembro passado, o local passou por um frenesi turístico provocado pelo solstício de 21 de dezembro - talhado nos calendários esféricos dos maias, despertando as mais sortidas profecias apocalípticas. Passada a data sem que o mundo acabasse, vale a pena conhecer o universo dos maias, povo vivo e para quem apenas concluímos uma era de 5 mil anos. E detalhe: a indicação precisa do início dela está lá, nas estelas semi-apagadas de Cobá.
Sítios arqueológicos
Civilização maia ocupou territórios de 450 mil quilômetros quadrados, do sul do México, englobando Guatemala, Belize, parte de El Salvador e Honduras. Começou a evoluir aproximadamente em 2000 a.C e até 1516 existiam cidades maias.
Há cerca de 30 sítios arqueológicos relativamente próximos a Cancún. A região integrava uma rede comercial pela costa da Península de Yucatán até Honduras. Há sítios perto do mar, nas ilhas, dentro das cidades ou no meio da floresta, todos com vestígio arqueológico. Para quem está hospedado em Cancun convém conhecer: El Rey, El Meco, Muyil, Cobá, Tulum, Xel Há, Xcaret, Uxmal e Chichén Itzá. Existem excursões e guias certificados.
Estelas
Nas estelas estão gravadas a história de governantes, guerras, nascimentos, mortes, eventos astronômicos, casamentos e alianças. Em uma estela em Cobá, consta o que seria a data de criação da civilização maia, 13 de agosto de 3.113 a.C. A data do fim está em dois sítios em Tabasco.
Xcaret
No mundo maia, Xcaret teria sido um porto maia para ir a Cozumel - ilha das andorinhas. Agora, é lugar de um parque para se passar o dia, culminando com um espetáculo noturno impressionante, que reconta a história dos maias.
fotos: Vivian Eichler
Transporte inusitado
Para circular pelo sítio arqueológico de Cobá, é possível alugar bicicletas ou riquixás. Apesar de cansar menos, é inevitável a gente não se sentir constrangido com o esforço do motorista desse "taxi-bicicleta". Mas são o meio de transporte mais comum lá dentro.
Jogos e rituais de sangue
Em suas celebrações, como o jogo da bola - uma espécie de futebol na qual a bola impulsionada apenas com as nádegas e coxas precisa passar por dentro de pequenos aros instalados em laterais mais elevadas. Há divergências sobre o que ocorria com os vencedores, mas algumas interpretações sugerem que os jogos antecediam rituais de sangue.
Nado com golfinhos
Eles são fofos, inteligentes e carinhosos. Passar uma meia hora nadando e afagando esses mamíferos é inesquecível. Há mais de um local para se nadar com golfinhos. Alguns dos recintos são construídos no mar.
Para as branquelas como eu: vá nos horários mais cedo da manhã e da tarde porque não é permitido o uso de protetor solar, que agride os olhos dos golfinhos. Eu fiquei um pimentão.
Ruínas à beira-mar
Em 180 quilômetros, de Cancún a Tulum, há 114 quilômetros de praias e é o caminho para os principais parques temáticos. Ao fim, está Tulum (foto abaixo), as únicas ruínas maias na beira do mar. Cercada por uma muralha de aproximadamente cinco metros de espessura, Tulum teria servido como porto dos maias, com 7 mil moradores. Desses, porém, apenas 1,5 mil moravam dentro do recinto interno.
Playa Del Carmen
Boa parte dos turistas que vai para Playa del Carmen fica apenas lá, contemplando a natureza e, à noite, curtindo os barzinhos, restaurantes e lojinhas na 5ª Avenida.
*A jornalista viajou a convite da Best Day Travel e da Aeroméxico