Pablo Gomes e a mulher, a jornalista e relações públicas Taina Borges, no museu Che Guevara ao lado de uma estátua que simboliza Che quando era garoto
Geralmente me questionam por que sou diferente da maioria quando o assunto é passeio. Procuro fazer incursões aleatórias rumo ao desconhecido, longe do lugar-comum, sempre com a proposta de me emocionar e voltar para casa com a certeza de ter feito a coisa certa.
Foi com esse espírito que, em janeiro deste ano, durante minhas férias, fui parar em um lugar mágico. É a pequena Alta Gracia, uma cidade de cerca de 50 mil habitantes na província de Córdoba, 700 quilômetros a noroeste de Buenos Aires, capital da Argentina.
Prestes a completar 425 anos, Alta Gracia se destaca pela sua importância histórica para todo o continente. Foi por lá que se instalaram os primeiros jesuítas a chegar à América, no século 17. E foi lá que viveu um dos nomes mais reverenciados e, ao mesmo tempo, contestados do século passado, o revolucionário Ernesto Che Guevara.
Na companhia da minha mulher, Taina Borges, 29 anos, e do feto de quatro meses que está em seu ventre, a viagem durou apenas cinco dias, mas alcançou a proposta de conhecer um pouco mais sobre a história e o modo de vida simples e prazeroso dos hermanos do interior.
Se a primeira impressão é a que fica, Alta Gracia nos encantou já de imediato. Logo de cara, deparamos com um posto de informações turísticas. A atendente, prestativa, nos entregou um mapa da cidade com os principais pontos, opções de hospedagem e gastronomia e deu a boa notícia: aquele fim de semana estaria cheio de eventos por lá.
Com um calor imenso, mesmo em uma região serrana, executamos o primeiro grande plano da viagem: conhecer o Museu Casa Ernesto Che Guevara. Duas horas ali, um cochilo para descansar e, à noite, peças teatrais gratuitas na praça, festival de danças típicas, feira de artesanato e bares lotados até a madrugada. A cidadezinha se agigantou de uma hora para outra. Tinha turistas de toda a Argentina. Mas quase ninguém do Brasil.
O povo de Alta Gracia e seus visitantes nos acolheram muito bem, com atenção e simpatia. Quando percebiam o idioma português, aquele sotaque diferente que vinha do outro lado da fronteira, único no continente, apressavam-se a nos cumprimentar e atender.
Cerveja gelada, comida gostosa, comércio variado, pousadas confortáveis, praças bonitas, ruas limpas, trânsito organizado, postos de informações turísticas abertos até tarde da noite, pessoas queridas, policiais por todos os lados para garantir a segurança.
Bastou um único fim de semana para nos apaixonarmos por Alta Gracia. Uma das melhores viagens de nossas vidas e que pretendemos repetir o quanto antes.
Museu Nacional Estância Jesuítica
Residência dos primeiros jesuítas que chegaram à América do Sul, no século 17. A estrutura foi adquirida pelo governo da Argentina em 1969, e o museu foi inaugurado em 1977, preservando sua arquitetura original. Em 2 de dezembro de 2000, o local foi declarado como Patrimônio Histórico da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Paroquia Nuestra Señora de La Merced
De estilo barroco colonial, a igreja foi construída entre 1723 e 1762, tem uma única nave e se caracteriza pela curvatura das paredes de cima para baixo.
Gruta Virgem de Lourdes
Réplica da existente na França, fica a três quilômetros do centro de Alta Gracia e foi construída entre 1915 e 1916. Uma década depois, em estilo colonial, foi erguida a capela da gruta. Em setembro de 2011, a aparição da santa, cuja imagem havia sido retirada do local para reforma, chamou a atenção de todos e, desde então, o local passou a atrair muitos fiéis de toda a Argentina.
(fotos: Pablo Gomes)
El Tajamar
É a mais antiga represa artificial construída pelos jesuítas, em 1659. O fluxo de água permitiu a irrigação de culturas e a operação de duas fábricas de farinha. Atualmente, é um dos maiores parques da cidade, onde se encontram famílias inteiras que vão passear, praticar esportes ao ar livre e até pescar no lago.
Museu Casa Ernesto Che Guevara
Seja qual for, todos têm algum sentimento por Che Guevara. E pela relevância histórica deste personagem é que vale a visita à casa construída em 1911. Che se mudou para a residência com a família ainda bebê sob orientação médica em busca do ar puro e seco vindo das serras que cercam a região, a fim de aliviar a asma que o acometia. Ali, ele morou durante seis dos 11 anos em que viveu em Alta Gracia.
Conhecida como Villa Nydia, em homenagem à filha mais nova do primeiro proprietário do imóvel, e declarada como Bem Patrimonial pela prefeitura de Alta Gracia, que a comprou em novembro de 2000, a casa foi aberta como museu em 14 de julho de 2001. Lá, encontra-se um rico acervo composto por fotos, roupas, documentos, livros e objetos pessoais de Che.
Entre as principais atrações estão La Poderosa, bicicleta com a qual Che percorreu quatro mil quilômetros na Argentina quando tinha 21 anos e conheceu de perto as grandes diferenças sociais que assolavam o país; e La Poderosa 2, a moto com a qual Che, quando era estudante de Medicina, viajou pela América Latina com o amigo Alberto Granado - uma aventura que inspirou o filme Diários de Motocicleta, dirigido pelo brasileiro Walter Salles e estrelado por Gael García Bernal.
Também atraem a atenção dos visitantes uma sala onde é exibido um filme de 20 minutos sobre a vida de Che, com depoimentos de amigos de infância e antigas imagens produzidas pela própria família. Em outra, estão expostas fotos de uma visita feita ao museu pelo então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e pelo ex-presidente de Cuba Fidel Castro, em julho de 2006.