Instituto Brennand
Foto: Erik Farina/Agência RBS
Além das águas mornas e transparentes e da farta culinária sertaneja, Recife reserva outro atrativo imperdível aos visitantes: as obras de arte da família Brennand. Expostas em duas grandes áreas - um improvável complexo de castelos em estilo medieval incrustado na Várzea, um dos bairros mais tradicionais da capital pernambucana, e uma antiga oficina cerâmica localizada a poucos quilômetros de lá - , o acervo dos primos Ricardo e Francisco Brennand é comparado ao de alguns museus de Paris e Londres pela riqueza e pela diversidade.
Chegada da Inglaterra em 1820, a família Brennand se tornou uma das mais ricas do nordeste brasileiro ao apostar em negócios que vão de usinas de cana-de-açúcar a fabricação de materiais de construção - posição ostentada sem constrangimentos nos casarões à beira-mar em Pernambuco. Uma parte interessantíssima dessa riqueza está ao alcance dos olhares e dos flashes de turistas no Instituto Ricardo Brennand e na Oficina Brennand.
O Instituto é formado pelos castelos onde estão as coleções da família. Resguardadas por uma réplica bastante convincente de David, de Michelangelo, as construções alaranjadas expõem estátuas de guerreiros e deuses greco-romanos, a maior parte esculpida no século 19, pinturas e tapeçarias produzidas no Brasil nos séculos 17 e 18 e uma vastidão de utensílios medievais e renascentistas, como moedas, cristaleiras e mapas.
O local abriga, ainda, a maior coleção particular de obras de Frans Post, um dos mais importantes pintores a retratar o Brasil Holandês (período de 1630 até 1654). Uma biblioteca com 60 mil documentos e livros raros e um realista cenário de cera de julgamento ocorrido na França no século 17 completam o hall principal.
Mas é o castelo São João que derruba o queixo dos visitantes: uma coleção de mais de 3 mil armas e armaduras produzidas na Europa e na Ásia entre a Baixa Idade Média e os anos 1900. Reluzentes à claridade de rústicas luminárias de ferro que pendem do teto e equipando bonecos em posição de ataque, a coleção desperta o imaginário dos fãs das grandes batalhas medievais - lembra, guardadas as proporções, o Museu de Larmée, em Paris.
Templo oriental à nordestina
O Instituto Brennand inclui, ainda, um espaço para exposições itinerantes - quando estive lá, no início de janeiro, estava à mostra o acervo de Odorico Tavares, um dos maiores colecionadores do Brasil, com obras de Pablo Picasso, Joan Miró, Di Cavalcanti, entre outros.
Deixando o Castelo, uma estrada de chão batido leva à Oficina Brennand, uma grande e amarronzada fábrica de cerâmica datada de 1917, onde o reconhecido escultor contemporâneo Francisco Brennand deu formas à sua concepção de vida e religião. Por entre as fabriquetas de lajes, Francisco criou sua própria versão de um templo oriental (claramente inspirado no mausoléu de Taj Mahal, na Índia) e dos espaços para sacrifícios das civilizações pré-colombianas.
Em cada coluna, no alto dos muros e nos detalhes dos grandes prédios, Francisco deixa sua marca com estruturas em formas arredondadas, feições assustadas ou ameaçadoras, com muita conotação sexual e valorização da flora e da fauna brasileiras. Uma mescla artística envolvente e perturbadora a poucos quilômetros do suave e previsível mar de Recife.