Do alto de um dos picos do Cânion da Ronda, de onde se avista até o mar, há um banquinho de tronco de árvore. Está lá, perdido no gramado, quase na boca do precipício de 1.650 metros de altura. Em geral, fica vazio. Mal é percebido pelos visitantes perplexos com a vista local.
O banco, na verdade, é um alerta. Ele quer avisar que a serra não vive de pressa. Que uma visita à região mais fria do país pede calma.
Conheça pouco, mas conheça bem. Acorde cedo para ir atrás de campos branquinhos. Dedique horas e horas para conhecer os parques ecológicos, as vinícolas e as fazendas. Tente alguma atividade de aventura. Visite os muitos pomares de maçã e contemple o verde por todos os lados. No alto dos cânions, caminhe acima da linha das nuvens e, claro, sente no banco. Ou na grama, ou nas pedras. No topo dos cânions, a natureza se mostra grandiosa. Então esqueça a pressa. A graça do passeio não está apenas em chegar, ver, fotografar.
Confira algumas das atrações imperdíveis do inverno na região mais fria do Brasil
Serra do Rio do Rastro
Os visitantes que procuram a Serra do Rio do Rastro encontram uma das paisagens mais bonitas de Santa Catarina. Vale a pena ziguezaguear pelas 284 curvas da estrada, muitas delas fechadas. De Lauro Müller (lá embaixo) a Bom Jardim da Serra (lá em cima) são 12 quilômetros, em vários momentos com subidas íngremes. Nada de pressa, até porque é comum haver caminhões ou ônibus pela frente, e as ultrapassagens são difíceis em vários trechos.
Procure também se informar sobre as muitas histórias que passam de geração para geração. A Serra do Rio do Rastro começa em 1870, quando os primeiros habitantes da região andavam por ali com mulas para transportar produtos do Porto de Laguna.
Ao chegar no topo, pare no mirante e deixe-se apaixonar pela imagem completa da estrada que, do alto, parece uma serpente.
Bom Jardim da Serra
No topo da Serra do Rio do Rastro, bem em frente ao mirante de onde se avistam as sinuosas curvas da estrada, há um hotel. É nas terras desse hotel, o Rio do Rastro Eco Resort, que fica um dos picos do cânion onde está o banquinho. O acesso ao local é exclusivo para os hóspedes, levados até lá de 4x4. No lugar são montadas mesas com café da manhã ou lanche da tarde.
Estamos em Bom Jardim da Serra, onde ficam os três cânions mais conhecidos do Estado - o da Ronda, o do Funil e o das Laranjeiras. Há muitos além deles, garantem agentes de turismo. Os outros apenas não foram batizados.
Tire um tempo para o passeio. O mais distante de todos, o das Laranjeiras, exige 40 minutos sacolejando em um 4X4 e outros 40 minutos caminhando.
O Parque Eólico da cidade, no alto dos cânions, é uma novidade. São 62 torres que modificaram o cenário. O produtor Jorge Rodrigues Borges, 42 anos, dono de parte das terras onde elas foram instaladas, reabriu o passeio aos visitantes após dois anos de obras. Por lá, é possível passear de carro, cavalgar, ver duas cascatas e chegar bem pertinho das torres de energia e do próprio cânion.
Aproveite também os passeios organizados pelos hotéis e pousadas locais. São cavalgadas, quadriciclos, passeios no veículo 4x4 e até de helicóptero. Eles levam para conhecer as 35 cascatas da cidade e os 23 rios que nascem no município.
Nos sábados à noite, não perca o galpão crioulo do Rio do Rastro Eco Resort, criado só para manter as tradições típicas da serra. O proprietário do hotel, Ivan Cascaes, faz questão de mantê-lo para preservar a música, a dança e a gastronomia locais.
Urubici
A cidade é a que mais oferece opções de turismo de inverno na Serra. Nos últimos vem ganhando hotéis-fazenda que apostam mais alto. Na gastronomia, a novidade é o Arcadia Empório, Arte e Gastronomia, e os mais conhecidos, Átrio e A Taberna. Para o lanche da tarde, o Canto do Sabiá oferece saladas, wraps, cafés.
Uma dica importante para quem não fecha pacotes com as agências de turismo locais é estar de carro- as atrações na SC-439 são distantes entre si e do Centro. Outro aspecto importante é o tempo. Com excesso de serração ou chuva, vários passeios ficam comprometidos ou impossibilitados. Para visitar, há cascatas, morros, cânions e outras curiosidades, como inscrições rupestres deixadas por povos que habitaram a região há 3 mil anos.
Há uma vinícola da Associação Catarinense dos Produtores de Vinhos Finos de Altitude (Acavits) na cidade. A Serra do Sol, com safras desde 2008, acaba de inaugurar um empório gourmet, em um deque envidraçado e com lareira, onde servirá o vinho da casa com tábuas de frios. O empório não fica na vinícola, a nove quilômetros da cidade, mas junto da Pousada das Flores, do mesmo dono, no Centro.
São Joaquim
Foto: Alvarélio Kurossu/ Agência RBS
Arrume tempo para visitar a cidade logo cedo. Pela manhã, os turistas lotam a praça do centrinho da cidade, lá onde as árvores congelam e o chão fica branquinho. É o lugar ideal para os visitantes azarados que não veem neve ou sentem temperaturas abaixo de zero: em seis árvores do local, os galhos e as folhas viram gelo. Logo o gelo começa a derreter e a despencar. Na calçada, quem tem equilíbrio patina de tênis, mesmo.
Depois, circule. A cidade é pequena, mas repleta de bonecos de "neve" - feitos de materiais como garrafa pet pintadas. Vale uma parada no Divino Grão, cafeteria com 39 tipos de bebidas à base de café. O Sensação e o Bombom (com leite condensado misturado ao caldo de morango ou de chocolate) são os mais vendidos. Também há variedades menos esperadas, como o café com cachaça ou com sorvete. O sócio-proprietário Mauro César de Souza já estuda a possibilidade até de ampliar a carta ainda neste inverno, com ingredientes típicos da serra: a maçã e o vinho.
Na estrada que liga a cidade a Bom Jardim, dê uma parada na Snow Valley, parque de aventuras fundado por um casal de americanos há 46 anos. No local há três tirolesas (de 200, 300 e 700 metros), arvorismo, muro de escalada com pêndulo, passeios de quadriciclos e trilhas ecológicas. Há ainda a imersão de inglês, com escolas que passam um fim de semana com aulas práticas no local.
Passeio evidente mas indispensável, a visita à Villa Francioni dura cerca de 1h30min, inclui degustação e custa R$ 30 que podem ser revertidos em compra.