Caminhar pela Reserva Natural Salto Morato, no litoral Norte do Paraná, faz você encolher diante da grandeza do ecossistema local. Não só por conta da biodiversidade, mas pelo tamanho e pela quantidade de plantas, animais e cascatas, proporcionais ao que representa a Mata Atlântica no País, que chegou a ocupar 16% do território nacional.
Para conservar a porção de menos de 7% que restou, a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza comprou uma fazenda na localidade de Morato, em 1994, e a transformou em um reduto de pesquisa e de ecoturismo. A Área de Proteção Ambiental ( APA) de Guaraqueçaba concentra o maior remanescente contínuo de floresta atlântica do País. Nas trilhas dessa mata, plantas comuns de jardins, como as samambaias e as bromélias, são capazes de encobri-lo e fazê-lo imaginar-se em algum dos universos de Lewis Carroll ( autor de Alice no País das Maravilhas).
Na reserva, há mais de 750 espécies de plantas catalogadas, inclusive a do gênero Lycopodium, do mesmo período dos dinossauros. E são mais de 520 bichos. Uma floresta tropical precisa de muita água: no Salto Morato, uma cascata de cerca de 130 metros de altura rega esse imenso jardim.
Para observar de perto as belezas naturais, o ideal é percorrer as duas trilhas abertas à visitação. São roteiros que podem ser feitos em um dia, mas muita gente prefere estender o passeio por um final de semana, já que a reserva oferece estrutura para camping.
O caminho que leva à cascata é o mais curto e bonito.Naturalmente, é o mais procurado. O percurso de cerca de 1,5 quilômetro é vencido facilmente por causa do terreno plano e do grande número de distrações da natureza, principalmente de pássaros que assinam a trilha sonora. As águas límpidas do rio Salto formam um aquário natural, onde os turistas podem se banhar e relaxar, pouco antes de avistar a imponente cachoeira.
Macacos, gralhas azuis e quatis vivem no local
A Trilha da Figueira é 300 metros mais extensa do que a do Salto e sua principal atração é uma árvore gigantesca que emoldura um riacho repleto de pedrinhas verdes. No caminho, há um trecho em que é preciso atravessar o rio Engenho com ajuda de cabos de aço. Não se preocupe: o riacho é raso, e a corda está a poucos metros do chão. Assim como na Trilha do Salto, pinguelas dão charme e emoção ao passeio.
Ao final de outra trilha, a da Onça, há uma árvore tão grande que seria preciso 14 pessoas para abraçá-la por completo. Como o lugar é de mata fechada, o caminho é vetado ao público. Porém, a fundação está analisando a possibilidade de liberá-lo para visitantes. Em outra árvore, ficou a marca das unhas de uma onçaparda.
Outros bichos exóticos costumam dar as caras, como macacos-prego e bugio, gralhas azuis, quatis e as indesejáveis cobras, como a coral. Para isso, é preciso ter sorte ou a paciência de um pesquisador.
Acolhidos pela riqueza da mata
Além de viver de pesca, a população de Guaraqueçaba - município paranaense de 8 mil habitantes e com jeito de vila de pescadores -, trabalha em fazendas de palmeira imperial, em órgãos públicos, no comércio e no turismo. Há também quem pratique a extração ilegal de palmito nativo jussara e a caça.
Para afastar os moradores das atividades ilícitas, o cooperativismo tem sido a melhor alternativa. Com apoio do governo do Paraná, a cooperativa de artesãos de Guaraqueçaba, formada, em sua maioria, por mulheres de pescadores, comercializa produtos biossustentáveis, feitos com fibras de banana, cipós, juncos e outros materiais naturais.
As flores de escamas de peixes são o cartão de visita do centro de compras, que conta com 33 cooperados. Mulher de pescador, Rosilda Américo Cunha, 45 anos, quer aprender a função para complementar a renda familiar, apesar de seus seis filhos já terem deixado Guaraqueçaba rumo a Paranaguá e Curitiba em busca de melhores condições para o estudo e para o trabalho:
-Quero ficar. Aqui a gente vive tranquilo, não tem violência, não tem nada. Só vamos para Curitiba em caso de doença.
COMO CHEGAR
Por terra
Por terra, o percurso de Curitiba até a comunidade do Morato, em Guaraqueçaba, pode ultrapassar três horas de viagem de carro. Pela BR-277, saindo de Curitiba em direção ao litoral Norte do Paraná, pegue a PR-408, que passa por Morretes, no km 30. Antes de chegar à cidade de Antonina, entre na PR-440 e siga as placas indicando Guaraqueçaba. Em seguida, pegue a PR-405. Outra opção é ir pela BR-116, partindo de Curitiba em direção a São Paulo, até a estrada da Graciosa ( km 60). Em Antonina, entre na PR-440 e, em seguida, na PR-405.
Por mar
Quem optar por pegar um barco em Paranaguá economiza tempo e admira uma bela paisagem ( dá até para ver golfinhos), mas não dinheiro. Em cerca de uma hora, chega-se a Guaraqueçaba. Pode-se alugar uma lancha ou embarcar em barcos urbanos, que saem diariamente da frente do Mercado Público de Paranaguá. Há apenas dois horários, um de ida pela manhã e outro de volta à tarde.