Estrada que liga as cidades canadenses de Jasper e Lake Louise, a Icefields Parkway tem cerca de 300 quilômetros de paisagens belíssimas. Percorrendo esse trajeto, o viajante verá cachoeiras congeladas incrustadas em montanhas ou cânions, caminhará sobre lagos congelados e avistará o campo de gelo, ou Columbia Icefields, de onde se erguem alguns dos glaciares mais imponentes da América do Norte.
No inverno, o percurso pelas rochosas pode durar até cinco horas e meia, dependendo das condições do tempo. Faça uma parada no Parque Nacional de Jasper: o local tem trilhas para cavalgar e pedalar. Nele está o Maligne Canion, a fenda esculpida pelo Rio Maligne. Ao longo do cânion, há pelo menos seis pontes, de onde se avista pequenas cachoeiras que se formam entre rochas.
Os caminhos também levam ao Patrícia Lake, um lugar para disfrutar o silêncio. Do alto das montanhas rochosas, ele abriga em suas profundezas as ruínas de um porta- aviões, projeto de Winston Churchill durante a II Guerra Mundial.
Da história para o cotidiano, os moradores da região têm um hábito curioso. No primeiro dia do ano, as pessoas reúnem- se à beira do Patricia Lake, quebram o gelo e mergulham. A temperatura embaixo d'água é de -5 º C e, por isso, não se pode ficar mais que quatro minutos dentro da água, sob o risco de morrer.
Há quem prefira apenas assistir à brincadeira de maluco. Mas quem fica de fora encara uma temperatura que pode chegar a -20 º C, fazendo muita gente perguntar: o que seria pior, afinal? O lago começa a congelar em novembro e permanece assim até meados de junho, nos lugares mais altos, ou abril, na parte baixa.
Pedaço Europeu
A cidade de Jasper é um dos primeiros assentamentos europeus no país. Tem cerca de 8 mil habitantes e está entre as mais visitadas do Canadá. Você pode ir de trem partindo de Toronto ou de Vancouver. Além de estar dentro de um dos maiores parques do mundo, tem uma das menores cargas tributárias do Canadá. Lá se paga 5%, enquanto em Toronto se desembolsa 13% em cada compra.
O Glaciar Athabasca, as Athabasca Falls e o Glaciar Saskatchewan são três pontos impressionantes da viagem pela rodovia. No inverno, ninguém vive neles, porque a temperatura chega a -50 º C. É, sem dúvida, o lugar mais frio da viagem. Sair do ônibus para fazer uma foto torna- se um desafio quase impossível. O vento forte parece levantar camadas finas de neve. A visão assemelha- se à das tempestades de areia do deserto. Tirar a luva para fazer duas ou três fotos é o suficiente para sentir as mãos congeladas. Em menos de três minutos ao ar livre, você fica com a sensação de que o rosto e a boca estão dormentes.
Pouco antes de Lake Louise ficam o Peyton Lake e o Crowfoot Glacier. O lago tem estacionamento com vista panorâmica. O glacial foi batizado desse jeito porque parece uma pata de corvo feita de gelo agarrada às pedras.
O último continente
ARMANDO BOESE AZAMBUJA*
Saímos do Rio de Janeiro no navio de cruzeiro Star Princess, um grande transatlântico com mais de 2,6 mil passageiros e 1,4 mil tripulantes. A embarcação de bandeira inglesa navegou por quatro dias até sua primeira escala, nas Ilhas Falkland ( ou Malvinas, para os argentinos). Ficamos um dia conhecendo Port Stanley e seguimos navegando em direção à Península Antártica.
Agora, aguardava- nos o turbulento Estreito de Drake, que vai do Cabo Horn até a Antártica. Agitado pelo encontro dos oceanos Atlântico e Pacífico, o Mar de Scotia tem águas frias e densas. O forte vento e as altas ondas fizeram o nosso navio" cavalgar aos trancos", destarte seu descomunal tamanho. O Princess Star tem mais de 100 mil toneladas, 300 metros de comprimento e 18 deques. Tudo valeu a pena - em 30 de dezembro passado, estávamos na Antártica, mais precisamente navegando ao longo da península.
Nosso primeiro contato foi com a Ilha Elephant, seguindo para King George, onde está a Estação Polar Brasileira Comandante Ferraz ( foto abaixo). Seguimos navegando ao largo do cênico canal de Neumayer. Uma parada perto da Estação Polonesa Arctowsky e seguimos até o canal de Livingstone. Voltando ao norte, seguimos atravessando novamente o Drake até o Cabo Horn. Uma escala em Ushuaia, na Argentina, e seguimos pelos canais fueguinos ( Estreito de Magalhães) até Punta Arenas, no Chile.
Voltamos ao Oceano Atlântico, fazendo escalas em Puerto Madryn, Montevidéu e Buenos Aires, onde terminou nosso passeio. A Antártica é pura magia, montanhas que emergem do oceano, glaciares, icebergs, ilhas vulcânicas, tudo numa perfeita sintonia entre o céu azul e o continente branco. Pinguins, baleias e lobos marinhos seguiam nosso barco. Ao sabor do vento, planavam petreis e albatrozes. Nas profundezas do oceano, peixes e muito krill, um pequeno tipo de camarão que dá sustentabilidade à cadeia alimentar polar.
A Antártica é um sonho, e retratá- la é tão difícil como tentar tocar o noturno número 2 de Chopin em um tambor.
* Leitor de Porto Alegre