Não é exagero dizer que a região de Bonito oferece um cenário arrebatador. Principal fonte de renda da cidade, o turismo é bem explorado pelos locais, sempre com o cuidado de não agredir o ambiente. Logo na chegada à cidade, é fácil perceber a preocupação em atender bem: na avenida central, diferentes agências de turismo disputam a atenção do cliente. E elas são de fato obrigatórias, pois a maioria dos passeios é agendada por meio dessas empresas, que oferecem preços tabelados e distribuem vouchers na véspera do programa.
Como as opções são numerosas e o fluxo de turistas é grande ( principalmente em julho, janeiro, dezembro e nos feriados prolongados), a dica é planejar os passeios com antecedência e intercalar atividades radicais com momentos contemplativos. Assim, sobra fôlego para todas as aventuras - se bem que as belas paisagens sempre darão conta de tirá-lo em um instante.
As grutas ao redor de Bonito são um indício da riqueza geológica da região. Uma das mais visitadas, a do Lago Azul, já foi cenário de novelas e encanta pela intensa cor azulada do lago - na verdade, uma ilusão de ótica. O percurso não é cansativo. Em minutos, percorre-se uma trilha na mata e, numa descida de pouco mais de 100 metros, é possível ver o lago, descoberto nos anos 1920 por um índio terena.
Em dias ensolarados, a vista é ainda mais deslumbrante. Mas nem adianta insistir para dar um mergulho: não é permitido sequer tocar o lago. O motivo é uma espécie rara de camarão albino e cego. Descoberto no interior da gruta, ele pode se extinguir, tamanha a fragilidade do ecossistema do qual faz parte. No fundo do lago, ainda foram identificados fósseis de uma preguiça gigante e de um tigre de dente de sabre. A gruta chama atenção pelo azul intenso e pelas formações geológicas no teto e no piso do lugar.
O passeio dura pouco mais de uma hora e é restrito. Os grupos são de 15 turistas, no máximo. Para chegar até a Fazenda Jaraguá, é preciso percorrer 20 quilômetros de estrada de chão (a partir do fim da rua principal da cidade, a Coronel Pilad Rebuá). Logo ao lado, a gruta São Miguel é uma boa pedida para aqueles que gostam de cavernas. A dica é estender o passeio e atrasar um pouco o almoço. Pode-se visitar as duas grutas pela manhã e deixar a tarde livre para fazer uma flutuação.
Passeio pelo Rio da Prata
Distante 50 quilômetros de Bonito, o passeio do Rio da Prata é um dos mais procurados pelos turistas em busca de belas imagens subaquáticas. A estrada que leva até a sede da fazenda onde se faz o tour é asfaltada e bem sinalizada. Ainda na sede da propriedade, o turista recebe instruções sobre a flutuação no rio e a trilha na mata, que leva pelo menos 30 minutos.
Esse percurso é feito com todo o vestuário necessário para o passeio nas águas: macacão e botas de neoprene, snorkel e máscara de mergulho, além de colete para aqueles que desejarem. O fato é que usar toda essa roupa por uma longa trilha - ainda que sob mata fechada - cria um certo incômodo. O calor é intenso e não há alternativa para chegar de outra forma ao lugar do início do passeio. Durante o percurso, o guia ainda faz pequenas pausas para dar explicações sobre uma ou outra árvore típica do cerrado.
As informações, ainda que interessantes, logo se tornam secundárias diante da combinação calor-mosquito-sede que acompanha o turista durante o trajeto. Quando o grupo finalmente chega à área de flutuação, a vontade é mais de se refrescar do que de ver a diversidade de espécies de peixes do Rio da Prata.
Mas a bela paisagem submersa logo supera a sensação incômoda. Depois de uma rápida aula do guia, é possível identificar espécies como curimbatás, piraputangas, dourados e pintados, entre outros. A visibilidade das águas parece infinita. Durante o trajeto, de pouco menos de duas horas, não é necessário fazer muito esforço: a correnteza é suficiente para levar o visitante. A intenção, aliás, é que os movimentos sejam suaves, para não agitar os sedimentos do fundo do rio e turvar a vista. Não vale a pena diminuir as chances de ver um cardume deslizando pelo rio.
A sinfonia das araras
Para aqueles que tiverem fôlego para um novo passeio, o Buraco das Araras é uma boa opção. Distante cinco quilômetros do Rio da Prata, abriga dezenas de araras-vermelhas numa dolina ( definição geológica desse imenso buraco).
O paredão rochoso, com 120 metros de profundidade, é um dos hábitats preferidos das aves, que aproveitam as fendas na rocha e as árvores no fundo da cratera para proteger o ninho. Com sorte, é possível ver papagaios e tucanos.
As araras, entretanto, chegaram no lugar aos poucos. Em décadas passadas, o imenso buraco servia de depósito de entulho ao ar livre. Quando os atuais proprietários resolveram revitalizar a área, foram necessários três caminhões para retirar o lixo acumulado. A fazenda que abriga a dolina tornou-se Reserva Particular de Patrimônio Natural.
O passeio a pé - acompanhado pelo guia - ao redor do paredão dura cerca de 40 minutos. Dois mirantes também foram instalados.
Só para relaxar
Foto: Divulgação
Depois de flutuações, mergulhos e rapel, vale a pena relaxar e aproveitar o visual de Bonito. E não faltam opções para o visitante preguiçoso que apenas deseja tomar um banho de cachoeira e apreciar a natureza. Ao redor da cidade, estâncias e fazendas oferecem esse tipo de passeio, que se prolongam até o fim da tarde. O tour pelas cachoeiras do Rio do Peixe segue um ritual próprio.
Logo na chegada, o proprietário da fazenda exibe as araras que moram no lugar. É a oportunidade de os turistas tirarem fotos e alimentaremos bichos com sementes e frutas, antes de seguirem para o passeio das cachoeiras.
A caminhada na trilha, na mata fechada, dura cerca de duas horas. O percurso é linear e, de tempos em tempos, os visitantes fazem pequenas pausas para aproveitar as cachoeiras e as piscinas naturais. No retorno à sede, um almoço caseiro aguarda os visitantes. Ali, são servidos churrasco e verduras plantadas na fazenda. E é bom não esquecer a sobremesa: o colorido das compotas de frutas da região é irresistível - assim como as dezenas de redes, sempre elas - à espera dos visitantes.
À tarde, depois de um papo furado como proprietário da fazenda e o descanso na rede, o turista é convidado a alimentar os macacos escondidos na mata. Pequenos pedaços de banana são entregues aos visitantes, que esperam a vinda dos gulosos macacos-prego da fazenda. O grupo se aproxima timidamente, mas, já acostumado com a comida fácil, em breve torna-se numeroso. Chega, então, mais uma chance para fotos e uma oportunidade ideal para sair da tranquilidade da rede e encarar uma tirolesa, num último passeio pelas cachoeiras da fazenda antes do retorno a Bonito.