Dizem que tudo foi fruto de um erro colossal de navegação, mas, até hoje, a história não foi bem explicada. Pedro Álvares Cabral tentou chegar à Índia e deu de cara com a costa da Bahia. Mas isso foi há cinco séculos, quando instrumentos de navegação não passavam de rudimentos.
O fato é que ele descobriu o Brasil e foi melhor para ele. Cabral, no entanto, esteve poucos dias por aqui e voltou a navegar para o Oriente, para nunca mais retornar a essas terras.
Se tivesse vida eterna, veria que aquele pedaço do Brasil - do qual só viu muito verde, água e abundância - se transformou num lugar turístico de alto potencial. A Bahia de todos os santos e gente. Do litoral de águas mornas e contornos sensíveis.
Em Porto Seguro, veria a cidade se transformar em uma das maiores do sul do Estado, impulsionada pelo turismo e pela opulência de lugares vizinhos, como Arraial d'Ajuda e Trancoso, antigos redutos hippies que se renderam ao sofisticado, mas que mantêm o ar de paraíso dourado.
Não andaria muito para chegar a Santa Cruz Cabrália, onde poderia comprar artesanato indígena e embarcar numa escuna para ir ao Parque Marinho da Coroa Vermelha. Ou seguir pelo Rio João de Tiba até o supercharmoso distrito de Santo André. Com sangue de descobridor e homem do mar,
Cabral não se contentaria em ficar em um só lugar. Lógico, iria mais para o norte e chegaria a Ilhéus. A tempo de conhecer Gabriela pelas mãos de Jorge Amado, com o qual fumaria um charuto e beberia um licor de cacau no Bar Vesúvio.
Pediria licença e seguiria para Itacaré para ver a Mata Atlântica com o mar. Sempre ao norte, passaria por Maraú, Ilha de Boipeba, Camamu e Morro de São Paulo. Isso, parando nas barracas à beira-mar, em meio a milhões de coqueiros, esperando a cerveja que sempre demora para chegar, mas vem com a simpatia da garçonete e a indefectível frase: "Sorria, você está na Bahia".
Ruínas e resorts
Em Salvador, Pedro Álvares compraria no Mercado Modelo, depois de descer pelo Elevador Lacerda vindo do Pelourinho. Antes, lá do alto, iria contemplar a Baía de Todos os Santos e sentir orgulho de ter descoberto aquela terra.
Se Cabral fosse eterno, passaria pela Praia do Forte para visitar a base do Projeto Tartarugas Marinhas (Tamar) e as ruínas do Castelo de Garcia D'Ávila. Seguiria pela Costa do Sauípe, com um ar de surpresa ao ver os grandes resorts que se espalham pela região e um mundo de turistas.
Depois, o rumo da estrada Linha Verde, passando por vilas como Baixio, Conde e Siribinha, até o Rio Real, na divisa com Sergipe, de onde tiraria todas as conclusões.
O navegador, no entanto, morreu quase no ostracismo, em sua propriedade portuguesa de Santarém, depois de brigar com o rei de Portugal, Dom Manuel I. Ele sumiu da história do Brasil. Sua importância só foi resgatada mais de 300 anos depois pelo imperador Pedro II, que reconheceu seu papel na história da nação. E Pedro II, esse sim conhecia bem a Bahia.