Quando planejei minha viagem a Liverpool, no início de 2010, cometi dois erros de principiante. O primeiro foi não estudar detalhadamente o trajeto que eu gostaria de fazer na cidade, identificando no mapa a distância da estação de trem até os pontos mais importantes para os beatlemaníacos.
O segundo erro, mais grave, foi não checar cuidadosamente a previsão meteorológica para aquela gélida semana de janeiro. A primeira falha de planejamento foi causada, em parte, pela minha fantasia a respeito de Liverpool.
Imaginava uma espécie de Disneylândia dos Beatles, uma cidade que giraria unicamente em torno do turismo musical, com indicações para fãs distraídos distribuídas generosamente por todas as ruas - várias " yellow brick roads" instaladas unicamente para garantir que chegássemos sem atropelos a locais sagrados como Strawberry Fields ou a casa onde Paul McCartney cresceu.
Bom, a primeira dica aos futuros visitantes é que o negócio não é bem assim. Chegando à estação de trem, não há sequer um escritório de turismo nas proximidades, nenhuma indicação visível para os milhares de turistas que se deslocam até lá todos os anos apenas para cumprir a romaria beatlemaníaca. Por incrível que pareça, Liverpool, uma cidade de 500 mil habitantes, não vive só de Beatles (mas bem que poderia...).
O segundo erro, esquecer de checar a meteorologia, como um bom inglês teria feito, acabou sendo fatal: enfrentei, em Liverpool, a pior nevasca dos últimos 30 anos na Inglaterra, o que, além de dificultar bastante as caminhadas, suspendeu todo o transporte público durante boa parte do dia.
Para minha sorte, havia, sim, algo que valia a pena fazer em Liverpool e que não envolvia o risco de ser soterrada por uma montanha de neve. O passeio que salvou meu dia valeu cada minuto de caminhadas sob (e sobre) a neve e as cinco horas de ida e volta desde Londres, onde eu estava hospedada.
Mesmo não sendo exatamente grandioso, o museu The Beatles Story é o Louvre dos beatlemaníacos, com direito a objetos raros ( alguns instrumentos usados pelos Fab Four), reproduções de ambientes, linha do tempo, experiências " sensoriais" e, claro, uma magnífica lojinha de quinquilharias, discos e memorabilia - onde eu torrei boa parte do orçamento da viagem.
O grande barato do museu é que ele vai contando a história dos Beatles à medida em que vamos andando de uma sala para outra. Há reproduções do Star Club de Hamburgo, onde os Beatles tocaram no início da carreira, e do Cavern Club, os estúdios de Abbey Road como eram em 1963, centenas de fotografias inéditas, roupas usadas pelos Beatles, a recriação do que poderia ser o interior do Submarino Amarelo e uma impressionante maquete em três dimensões da histórica capa do álbum Sgt.Peppers.
O mais emocionante, no entanto, fica para o final: pequenos ambientes dedicados a cada um dos beatles - em que são celebrados o talento e as diferenças individuais que tornaram o grupo formado por Paul, John, George e Ringo em algo ainda maior do que a soma de todas as partes.
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