Com 3,3 quilômetros, a nova ciclofaixa de Tramandaí ainda não está pronta, mas já tem causado transtornos na Avenida Beira-Mar. As obras do trecho começaram no início de dezembro e seguiram ao longo do mês. O objetivo é estender a faixa existente para ciclistas próximo à estátua de Iemanjá até a outra ponta da praia. Para isso, o estacionamento paralelo que ficava junto à orla foi substituído pela ciclofaixa.
Enquanto a obra não é finalizada – falta instalar a sinalização adequada, o que deve ocorrer nos próximos dias –, os motoristas têm estacionado junto à ciclofaixa, causando confusão e perigo na beira da praia. A reportagem de GZH circulou pela orla na manhã desta quinta-feira (4) e flagrou motoristas com as portas abertas na ciclofaixa, pedestres passando pelo local e ciclistas tendo de alertá-los. Além disso, a visão acaba sendo bloqueada pelos carros estacionados e dificulta a travessia.
— O que eu vejo geralmente é bastante desatenção do pessoal com os carros, eles vêm, abrem a porta, o ciclista vem também, aí dá confusão, eles começam a discutir. Também tem falta de atenção dos pedestres no atravessar ali, quase dá atropelamento — relata Richard Schwambach, 24 anos, garçom no quiosque Bangalô da orla.
— A gente observa que eles estacionam em cima da faixa, às vezes vão descarregar o carro e colocam as coisas. Ou então deixam as crianças soltas, o que é um perigo. Para atravessar não é tanto um problema, mas eles também circulam pela ciclovia, nisso tem de ficar atento também — ressalta a engenheira civil Thaís Mikulski, 41 anos, de Porto Alegre, que veraneia em Tramandaí e pedalava com sua família de ciclistas.
Para Edison Neves de Oliveira, 50, proprietário do Quiosque da Vivi, ao lado da esposa, é questão de tempo até resultar em um acidente, o que já quase aconteceu.
— Acho que devia ter feito diferente, ela inclinada não serve como ciclofaixa. Está errado. Isso aí para alguém cair também é pouco. Olha essa água acumulada ali. Se quisesse fazer uma ciclofaixa, fizesse aqui em cima da calçada, reduz para o povo caminhar e faz, era melhor. Muito transtorno — afirma Edison, que é engenheiro civil.
Estacionamento
O militar Avelar Albernaz, 51, e a esposa Lissandra Monteiro, 48, empresária, vieram de Santa Maria e estacionaram o veículo junto à ciclofaixa. O casal avalia que a estrutura atual está ruim e acaba dificultando, sobretudo para quem tem crianças. Os dois também acreditam que o espaço estaria melhor se a faixa estivesse na calçada.
— Ficou estreita a pista para estacionar, e aí tem de tomar muito cuidado quando desce do carro do lado da ciclofaixa. Ficou complicado, tinha de ter um balizamento melhor, ou não deixar estacionar e fazer mais travessias para as crianças — destaca Albernaz.
O estacionamento de fato será removido, segundo a prefeitura. A conclusão da obra está prevista para a próxima semana. O passo seguinte será a prefeitura instalar a sinalização de proibido estacionar.
— Não vai ter estacionamento ao lado da ciclofaixa. Ele vai continuar ao lado do comércio, que é o lado oposto. Ali vai ter estacionamento oblíquo e paralelo — explica o secretário de Segurança, Transporte e Trânsito, Claudiomir da Silva Pedro.
Na opinião de Schwambach, do quiosque Bangalô, a medida é boa, pois garantirá uma vista melhor para a praia.
— Mas é ruim também, porque daí a pessoa vai ter de estacionar longe. Isso para nós, que trabalhamos aqui na beira da praia, também é ruim, porque daí a gente perde bastante movimento — apontou, lembrando que já é difícil encontrar vagas próximo à praia, sobretudo no verão.
A prefeitura promete suprir as vagas em ruas paralelas, alterando, em alguns casos, para sentido único ou permitindo o estacionamento dos dois lados.
A transformação de estacionamentos paralelos em oblíquos na Avenida Beira-Mar também deve aumentar o número de vagas. Além disso, o poder público criará vagas junto ao canteiro central da Av. Protásio Alves e da Av. Caldas Júnior. O secretário espera começar as obras em breve e ressalta que a guarda municipal fará a supervisão nesses locais.
Para o militar Albernaz e sua família, a criação de novas vagas amenizaria a situação, mas complicaria para quem vem de longe, com cadeiras e crianças.
Por outro lado, as mudanças na orla beneficiam os ciclistas, que ficaram contentes com a iniciativa de extensão da ciclofaixa.
— Acho que realmente deve ter diminuído as vagas, mas, para o ciclista, acho que ficou bom. É uma boa opção, porque antes a gente tinha de dividir a calçada e ficar cuidando mais ainda, e era ruim até paroa os pedestres. Acho que já está bem legal assim — diz Thaís, que também gostaria de uma ciclovia ampliada no centro.
— Eu adorei a ciclofaixa, foi tudo muito bom — acrescentou a aposentada Albertina Mikulski, 65, mãe de Thaís, também ciclista.
Em Imbé, obras não avançaram
No município vizinho, a ciclovia da praia é separada dos carros até um determinado ponto. Depois, torna-se uma ciclofaixa, com a mesma situação verificada em Tramandaí: carros abrindo as portas na ciclofaixa, além de pedestres caminhando sobre ela. No local, a sinalização indica que é permitido estacionar.
Na avenida Osório, a ciclovia ainda acaba em meio a via. Lá, os ciclistas têm de andar na rua, junto aos carros e aos caminhões. A prefeitura prometeu 15 novos quilômetros de ciclovias na cidade para 2023, mas ainda não entregou o que anunciou. No último ano, nenhuma dessas obras avançou. De acordo com a prefeitura, os trabalhos atrasaram em virtude das condições climáticas e da priorização de obras de drenagem.
— Algumas obras de deslocamentos da rede elétrica que foram contratadas também ainda não foram entregues pela CEEE Equatorial, o que também atrasa a realização das ciclovias — explica Leandro Luz, secretário municipal de Comunicação e Transparência.
A prefeitura destaca que há obras de infraestrutura de ruas e avenidas em andamento nas áreas onde estão previstas as ciclovias. Ainda segundo a gestão municipal, estabelecer prazos tem sido difícil, especialmente com novos períodos de chuva previstos. A nova estimativa é de que ainda no primeiro semestre as obras sejam concluídas.
O técnico em eletrônica Evandro Antunes, 50 anos, é de Bento Gonçalves, mas tem residência em Imbé. Sua família costuma pedalar pela ciclovia da Avenida Beira-Mar, indo de uma ponta à outra.
— Se tivesse mais extensão de ciclovia seria melhor, o pessoal usaria mais. Para quem está de bicicleta chega a ser curto — pontua. — A gente não vai (pedalar no centro) justamente por não ter a ciclovia, aqui é mais tranquilo para andar. Lá tem muito movimento de carro, é mais complicado.