A falta de sol e o tempo fechado durante o feriadão de Natal não foi problema para veranistas no Litoral Norte. Isso porque o protagonista dos últimos dias foi o mar: mais calmo, limpo e em tom esverdeado que prende o olhar e leva turistas para um mergulho.
A cor da água começou a se destacar ainda no domingo (24), mas ficou ainda mais bonita nesta segunda-feira, segundo Marisa Souza, 63 anos, que mora em Capão da Canoa há cinco meses, depois de encerrar o trabalho em uma pastelaria em Porto Alegre e se aposentar.
Desde a mudança, diz ver o mar todos os dias.
— Sou praieira, todos os dias venho, mas tem dias que não dá vontade de entrar na água. Hoje está lindíssimo, muito bom. Parece um presente de Natal — diz Marisa, que falou com a reportagem enquanto saía de um mergulho.
Nem alguns pingos de chuva ao longo da tarde desanimaram os veranistas. Nesta segunda, havia bem mais pessoas no mar do que nos últimos dias, já que a água não estava tão gelada quanto normalmente está.
A advogada Laís Niederauer, 36, também aproveitou o cenário desta tarde. Ela saiu de Espumoso com a família para passar o Natal em Capão, e permanecerá na praia durante toda a primeira semana de 2024. Com os pés no raso, diz que torce para a água seguir clara nos próximos dias:
— A gente veraneia aqui há mais de 15 anos, e não é comum ver o mar assim. Está maravilhoso, surpreendente. O tradicional é o nosso chocolatão, mas desta vez está lindo. Nem tão gelado está, que também é o normal.
O que explica a tonalidade da água
Doutora em Oceanografia Física, Química e Geológica, Cacinele Mariana da Rocha, que atua no Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), da UFRGS, aponta alguns fatores que podem explicar a tonalidade e limpeza da água vistas neste feriadão de Natal. Um deles é a falta de chuva mais carregada:
— Quando há pouca chuva, não há muita saída de água do continente para o oceano, então o aporte de nutrientes fica restrito. Essa água do mar é muito pobre em nutrientes, o que faz com que as algas não consigam se desenvolver.
Essas algas estão entre os fatores responsáveis pela cor marrom do mar gaúcho, especialmente a da espécie Asterionellopsis glacialis, que se multiplica e fica mais escura quando chega perto da superfície.
Os nutrientes para que as algas se desenvolvam podem ser encontrados na água que corre do sul, da Antártida, que é também mais fria. No entanto, neste momento, é a corrente vinda do norte, do Equador, que alcança o litoral gaúcho. Além de mais clara, essa água é mais quente, o que resulta no bonito cenário à beira-mar de Capão.
Contudo, a oceanógrafa Cacinele Mariana afirma que a chegada de uma frente fria deve mudar o cenário.
— Tem muita chuva prevista, e a descarga de água, do continente para o mar, a deixa mais nutritiva, fazendo com que as algas se desenvolvam. Além disso, a chuva deixa o mar com mais energia, com ondas aumentadas. Elas quebram na praia com mais força, mexendo no fundo do mar e deixando a areia em suspensão, tornando a água mais escura. É muito difícil que o tom verdinho persista nos próximos dias — avalia.