A única balsa existente no Litoral Norte faz um trajeto de três minutos, conectando duas localidades do interior de Maquiné. Na condução, o experiente Flávio da Rosa, 54 anos, que há três décadas é o responsável por levar carros, motos e bicicletas do Cantagalo até a margem de Faxinal do Morro Alto. Sem ele, a balsa, definitivamente, não sai do lugar.
Desde que o outro colega se aposentou, há quatro anos, Flávio é único profissional legalizado pela prefeitura e pela Marinha do Brasil para realizar o trabalho na região. Funcionário público escolhido para a função, ele passa os dias numa casa azul de madeira, ponto oficial de cobrança da balsa, ou sentado sob a sombra de uma árvore, ao lado da travessia.
Quando precisa sair do local para realizar alguma tarefa, Flávio fica atento ao celular, já que o telefone dele está registrado na placa informativa da balsa. Caso prefira não esperar, o motorista terá que fazer o retorno para a BR-101, ampliando o trajeto em quase 20 quilômetros até o outro lado da margem.
— Se alguém precisa passar, a pessoa pode me ligar e eu volto na mesma hora — conta o balseiro, que mora em Linha Prainha, a três quilômetros da passagem na localidade do Cantagalo.
E é no período do verão que a estrada sem asfalto do Cantagalo recebe mais movimentação, principalmente, de ciclistas que fazem o trajeto e dependem da balsa para cruzar até o outro lado da margem. Flávio faz de 12 a 15 viagens diariamente, neste período. No inverno, quando a maior parte dos clientes é composta por moradores, os pedidos não passam de cinco por dia.
— Às vezes, fico sentado sozinho esperando passar um carro e as pessoas perguntam por que nunca larguei este trabalho. Simples: eu amo o que faço — relata com orgulho.
Há cerca de oito anos, durante um vendaval, a balsa se soltou no rio, que tem profundidade de seis metros no canal. Foi a única vez que o equipamento precisou ser resgatado quase dentro da Lagoa dos Quadros, a 200m do local. Em dias de temporal, a balsa não é operada por questões de segurança.
Casado há 27 anos, Flávio tem dois filhos, de 21 e 22 anos, que são mecânicos e não pensam em exercer a função do pai. Até por isso, o balseiro vem se preocupando com o futuro da Princesa do Vale. Afinal, ele está mais próximo de se aposentar e já pensa em quem o substituirá.
— Fui preparado para exercer esta função, fiz cursos para isso. Eu também sou responsável pela manutenção mais básica, como pintura. Esta balsa é como uma filha para mim — finaliza Flávio.