A maioria das pessoas que passa pelos sambaquis talvez não tenha noção da sua importância, ou então, em alguns casos, nem sabe que esses locais existem. Mas eles estão lá, e há muito tempo. Somente ao longo do litoral gaúcho, 40 já foram mapeados, todos sob responsabilidade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Sambaqui é uma palavra de etimologia Tupi e quer dizer "amontoado de conchas”. Em sua origem, a palavra nada mais é do que o seu significado ao pé da letra. Em dunas de areia, acumulam-se conchas e resquícios de mariscos no geral. Esse “amontoado” pode carregar informações históricas de milhares de anos.
Por esse motivo, a reportagem de GZH decidiu visitar dois dos principais sítios arqueológicos do Litoral Norte que são constituídos por sambaquis: em Xangri-lá e Arroio do Sal. A intenção foi observar quais as condições que esses lugares se encontram e se há orientação para que os turistas entendam do que se trata.
Em Xangri-lá, a área de sítio arqueológico está situada na Rua Rio Apucaé. O espaço não chega a ser muito grande, com um tamanho de cerca de duas quadras.
Ao passar pelo centro da cidade, há placas que sinalizam que próximo dali existe um sítio arqueológico. No entanto, ao chegar no local, não há placas e nenhuma sinalização. O ponto onde deveria existir uma entrada, hoje só tem um portão pregado e muito mato no entorno.
Todo o entorno do sítio é cercado, mas há partes em que a proteção foi cortada. Além disso, praticamente a área é cercada por lixo.
A poluição e a falta de sinalização também são destaque dentro do local. Próximo aos sambaquis, há lixo seco e orgânico, enquanto placas explicativas enferrujam quebradas no chão e já tomadas por folhas secas.
Já em Arroio do Sal, as condições apresentadas parecem melhores quanto à conservação. Em uma área maior, mas também cercada, está o Sambaqui de Marambaia.
O turista que chega ao local depara com uma estrutura de alvenaria com banners com ensinamentos sobre a importância e história dos sambaquis. Esse espaço foi construído por uma empresa em parceria com a prefeitura, e entregue em 2020. O problema, porém, é que a equipe de reportagem encontrou o espaço trancado e sem nenhum guia para orientar.
O único ponto acessível é uma passarela de madeira que leva o turista até alguns dos sambaquis no sítio. A estrutura transmite uma sensação de mais segurança ao ambiente histórico, já que o visitante consegue observar as formações sem que faça contato direto.
Segundo o professor Klaus Hilbert, do programa de pós-graduação de História da PUCRS, os sambaquis são objetos de proteção há mais de 80 anos e importantes para compreender transformações.
— Eles não têm uma aparência espetacular, não chamam a atenção. Mas são importantes pelo fato de olharmos ao litoral hoje e vermos mar, dunas, lagoas e encostas. Os sambaquis podem ajudar a explicar essas formações nos últimos 10 mil anos — explica o professor.
Além das respostas sobre o ambiente, esses sítios arqueológicos podem abrigar informações sobre o homem primitivo.
— Eles guardam sinais sobre o povo que viveu até cerca de 2 mil anos atrás. Consideramos os sambaquis como pesquisadores do passado. Em conchas, como o marisco branco, podemos extrair informações dessa época — afirma Matias Ritter, professor do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ceclimar-UFRGS).
A reportagem questionou o Iphan sobre os problemas e falta de estrutura nos dois sítios arqueológicos visitados, porém, até a data de publicação desta reportagem, não obteve resposta.