Poucos dias após seu início oficial, a temporada de verão 2022-2023 ainda não tem uma peça ou cor considerada tendência pelos comerciantes ambulantes de Tramandaí, no Litoral Norte. Como em outros anos, entretanto, as estampas coloridas se destacam nos carrinhos estacionados no calçadão — a maré alta deixou a faixa de areia estreita na manhã desta segunda-feira (26), afastando os comerciantes da beira da praia.
Mesmo com o céu nublado, com poucos períodos de sol entre nuvens e temperatura amena, veranistas ocupavam a pequena faixa de areia, assim como as quadras esportivas e outros espaços da orla. Contudo, o movimento não se refletia entre carrinhos recheados de vestidos, saídas de praia, biquínis, cangas, acessórios e brinquedos. A expectativa dos comerciantes é que as vendas aumentem depois do Ano-Novo.
Natural de Diamantina, em Minas Gerais, a comerciante Rosângela Soares de Araújo, 24 anos, veio para o Rio Grande do Sul com a família, ainda em novembro. A venda de itens de praia no litoral gaúcho começou com os pais dela há mais de 30 anos e passou de geração em geração. Além deles, o marido da jovem, Ademilson Pereira Barbosa, 25 anos, e seus dois irmãos estão no Estado para trabalhar durante a temporada.
A família costuma alugar uma casa e permanecer em Tramandaí até depois do Carnaval. Na manhã desta segunda, eles tinham quatro carrinhos espalhados pelo calçadão da praia.
— Ficamos mais é na areia, mas hoje o mar está jogando e fica difícil, pesado de puxar. Hoje vendemos só algumas peças, está bem fraco. A semana anterior também foi fraca, mesmo tendo bastante gente — relata Rosângela, destacando que a concorrência e o preço das peças aumentaram, deixando o movimento pior do que em outros anos.
A viagem de três dias até o Litoral Norte também foi enfrentada pela mineira Joana Martins, 56 anos. Natural de Araçuaí, a comerciante concorda que as vendas estão muito devagar e que, apesar do aumento de veranistas na última semana, a situação ainda não melhorou.
Joana vem para o Rio Grande do Sul trabalhar no verão há quase duas décadas, acompanhada do marido — o casal tem dois carrinhos e se divide para percorrer a praia. Em Minas Gerais, os dois atuam como agricultores. A expectativa é que as vendas melhorem em janeiro e fevereiro.
— Realmente tem mais concorrência este ano. Atrapalha um pouco, mas o sol brilha para todos. Temos o mesmo objetivo. Além disso, o preço de tudo subiu, o aluguel e as mercadorias que compramos. Então, não dá muita coisa, mas corremos atrás — comenta Joana, reforçando que conhece vários outros mineiros que vêm para o Estado vender itens de praia:
— Os que vendem roupas, são mineiros. Trazemos tudo de lá. Tenho vários conhecidos aqui, que se dividem entre Tramandaí, Capão da Canoa, Imbé. Já acostumamos com o lugar (litoral gaúcho) e com o pessoal, é como uma segunda casa.
Em busca de emprego
A longa viagem até o litoral gaúcho é justificada pela falta de emprego em Minas Gerais, afirma Diego Vinicius da Silva, 36 anos. Morador de José Gonçalves de Minas, o comerciante é natural de Novo Hamburgo e casado com a mineira Luciete Carvalho de Araújo, 31 anos.
— É longe, mas vale a pena, porque lá não tem trabalho. Lá chove muito e, tendo chuva, não tem trabalho. A época de chuva é essa no final do ano e, o restante, é seco, e também não tem emprego. Normalmente, a gente consegue mais longe. Quando não estou aqui, trabalho a 500 quilômetros da minha casa — explica.
Os pais de Luciete trabalham com vendas no Litoral há quase 30 anos. A família também costuma ficar no Estado de três a quatro meses, durante a temporada de verão. Ela afirma que não sabe o que motivou os pais a escolherem o Rio Grande do Sul, mas garante que os gaúchos compram bastante. A família costuma ficar o dia inteiro na beira da praia, indo até as 19h em determinados dias, quando o movimento está bom — o que não tem ocorrido nos últimos dias.
— As vendas estão um pouco mais devagar do que o esperado, a gente sempre espera mais. Mas está começando agora, geralmente é depois do Natal que as vendas melhoram um pouco — aponta Diego.
Questionada por GZH sobre se existe um levantamento da origem dos ambulantes que atuam no município, a prefeitura de Tramandaí não se manifestou até o fechamento da matéria.
Tendência indefinida
De acordo com os comerciantes, ainda não é possível afirmar qual peça ou cor será a tendência deste verão. Mesmo assim, todos os carrinhos estão carregados de itens neons ou com estampas bem coloridas, já que são procurados todos os anos.
— É cedo para dizer, porque ainda não tem nada em destaque para falar “essa mercadoria vai ser bombástica”. Geralmente a gente chega e espera para ver o que vai ser febre, mas ainda não dá para saber, nem a cor. Mesmo assim, apostamos muito nas estampas e o neon não morre, ele está sempre presente — ressalta Joana.
Rosângela acrescenta que, em seu carrinho, está vendendo um pouco de cada coisa e não tem como saber o que as pessoas estão procurando mais. No entanto, concorda que neon e colorido ainda estão em alta.