Com a união de muitas mãos, boas ideias, uso de material reciclado e o desejo de recuperar uma área degradada, moradores do bairro Aldeia da Lagoa, em Tramandaí, no Litoral Norte, transformaram as margens da Lagoa das Custódias no Parque dos Botos, um espaço de lazer e de contemplação do pôr do sol para as mais de 300 famílias do bairro.
O idealizador do parque, que faz parte do projeto Descubra Onde Você Vive, é o arquiteto Gilberto Santos de Souza, 60 anos, conhecido como Beto. Ele também é o do Parque da Coruja, uma área que até 2010 era baldia e servia como depósito de lixo a menos de 50 metros do mar. Hoje, além de uma das mais visitadas da cidade, se tornou sala de aula a céu aberto para falar sobre proteção ao meio ambiente.
- É um projeto holístico, onde todos os seres têm que se comunicar e viver em harmonia. Vivemos numa cidade que tem mar e lagoa, somos beira mar e também ribeirinhos. Procuro, com isso, fazer o resgate da fauna, da flora e de tudo o que existe aqui em comunhão com as pessoas - explica Beto.
Iniciado em 2019, com a ajuda da Associação de Colaboradores da Aldeia da Lagoa, capitaneada pela presidente Rosana Lessa Sagas, o Parque dos Botos começou com a construção de uma pista de caminhada feita com taipas de restos de paralelepípedos. A trilha acompanha a topografia natural do terreno, sem a interferência de terraplenagem, e o piso é feito com a própria grama do local. Mas as interferências benéficas ao lugar não param no caminho de pedras.
Criativo, Beto buscou raízes e troncos de árvores casuarinas soltas na beira do mar. No Parque dos Botos, viraram mirantes e floreiras para bromélias, cactos e girassóis. Uma roda de bicicleta agora é moldura para quem deseja fotografar o sol se pondo na lagoa. Da praia também chegaram grandes cordas abandonadas por pescadores que, junto com os dormentes antigos de um trilho de trem de Palmares do Sul, viraram um pontilhão no meio do parque. Os bancos foram feitos com restos de decks de piscina.
Em breve, um catavento galvanizado de 7m de altura, presente de um fazendeiro para Beto, será instalado na área. Outro presente recebido é um trapiche de 100m de comprimento que ainda depende de liberação da prefeitura e da Secretaria de Meio Ambiente para ser instalado no local. A ideia é que ele também sirva de apoio aos bombeiros quando há queimadas na beira da Lagoa das Custódias.
- Este lugar precisa ser protegido, aqui temos cardeal do brejo, tarrãs e jacarés. Tudo o que desejamos é que ele continue preservado e sem lixo - comenta Beto.
Placas coloridas com mensagens positivas e de conscientização ambiental estão espalhadas por todo o ambiente, que conta também com balanços para as crianças. Numa das extremidades da praça há uma geladeiroteca repletas de livros, que podem ser pegos pelos moradores. Doações são aceitas, basta deixar dentro da geladeira colorida transformada em armário.
Apoiadores da iniciativa de Beto, o casal Ana Maria Martini, 60 anos, e Clóvis Willi Gaiger, 61 anos, ajudam na conservação do Parque dos Botos desde o começo. Nesta semana, plantaram mais duas árvores para se tornarem sombra nos próximos anos. Uma delas, uma muda de figueira, foi retirada da calha de uma casa há um ano. Clóvis a plantou no terreno de casa e agora transferiu a árvore para o Parque.
- Temos a visão da lagoa e um pôr do sol maravilhoso. Eu amo! Por isso, queremos beneficiar a comunidade com a sombra das árvores. Se cada um fizer um pouco, teremos muito - conta Ana Maria, moradora do bairro há cinco anos.
Curiosidade sobre o nome
E por qual motivo o lugar passou a se chamar Parque dos Botos? Beto explica que o nome está vinculado ao projeto de identidade do bairro Aldeia da Lagoa, também iniciado pelo arquiteto. A marca dele, que mora no local, começa na entrada, onde há dois monumentos de botos, responsáveis pelas boas-vindas aos visitantes, e nos jardins coloridos, mantidos pelos moradores. A partir de uma sugestão de Beto, as ruas do bairro, que até então eram identificadas por letras, ganharam nomes e personagens por meio do projeto Botos Coloridos Urbanos. Foi ele também quem ofereceu a fôrma do animal para que os moradores reproduzissem as esculturas. Os logradouros viraram Rua Boto Amarelo, Rua Boto Verde, entre outros.
- Agora, temos o Parque da Coruja, para ver o sol nascer, e o Parque dos Botos, para ver o sol se pôr - resume Beto.