Com tom esverdeado, o mar tem chamado a atenção nos últimos dias nas praias do Litoral Norte. Após a chuva que caiu no sábado passado (11), as correntes estão mais fracas e com temperatura mais amena do que a registrada no início da temporada. O vento também deu uma trégua, fator determinante para a calmaria das águas, que dá aos veranistas a sensação de estarem banhando-se em uma lagoa.
O cenário é ideal para quem não colocava os pés na água salgada havia 20 anos.
— Nossa, está lindo. A gente não é muito de praia, mas como a minha filha falava muito que queria conhecer, resolvemos vir — conta a cabeleireira Jocemara Cândido, 40 anos, de Caxias do Sul, que passa férias na Prainha, em Torres, referindo-se à pequena Giovana, quatro anos.
Na segunda-feira (13) à tarde, sob sol forte, a bancária Madeleine Montenegro, 34 anos, enchia um balde de água e despejava sobre a filha Kalia, quatro anos, na Praia Grande. Também estava impressionada com as condições do mar.
— Está morninho e com essa cor linda. Parece o de Santa Catarina — comparou a moradora de Guaíba.
O barbeiro Moisés da Silva, 19 anos, aproveitou a tarde com a namorada, Evellin Schardosim, 17, e a cunhada, Natally Schardosim, 10. Até mesmo os moradores de Torres disseram não estarem acostumados a ver a água tão cristalina como nesses dias.
— Normalmente, a água é mais escura. Não sei o que houve para limpar tanto assim — disse Evellin.
Mãe das meninas, Patricia Schardosim, 35 anos, observava o trio da areia, enquanto ouvia música gospel sobre uma esteira colorida e celebrava a paisagem:
— Não tem explicação pra essa maravilha que Deus criou.
De acordo com Cacinele Mariana da Rocha, química do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), a redução no vento tem feito com que o fundo do oceano fique menos remexido, evitando que sedimentos subam à superfície, o que explica a coloração da água. O fato de chover pouco também evita a proliferação das algas e, consequentemente, o escurecimento do mar, já que, em grande quantidade, elas são responsáveis pelo aspecto "chocolatão" do oceano.
— Teve uma virada de tempo, e isso fez com que essa chamada Corrente do Brasil tenha ganho força. É mais pobre em nutrientes, por isso a água fica mais limpa, com menos algas — explica a especialista.
Bandeira verde e mais salvamentos
Em Capão da Canoa, desde domingo até a manhã desta segunda a bandeira era verde — o que indica que o mar está mais calmo, com menos buracos e repuxo pouco intenso.
— Não podia estar melhor. Surpreendeu de tão boa. O dia de hoje está até melhor do que em Itapema (em Santa Catarina), onde costumo ir — afirmou a fonoaudióloga Cristiane Scapin, 42 anos.
O surfista Max Senger, 48, trabalha como analista de marketing no Estado vizinho e também faz a comparação com as águas para lá do Mampituba:
— Não tem muita onda, mas o mar está lisinho, com uma textura boa. Lá dentro, sentado na prancha, eu até enxergava meus pés.
A água quente e límpida é um convite ao banho de mar, o que se reflete no aumento do número de salvamentos. Até domingo (12), 202 pessoas haviam sido resgatadas das águas, contra 185 no mesmo período do verão passado, um aumento de 9%.
— É um fator visível. Vínhamos em queda nas situações de afogamento, mas a melhora da água influenciou mais gente a se aventurar — avalia o major Isandré Antunes, comandante das operações de salvamento em todo o litoral gaúcho.
Comandante dos guarda-vidas de Capão da Canoa, o tenente Luís da Fontoura Iglesias reforça o alerta:
— O mar mais atraente não exclui o cuidado. Nós, inclusive, redobramos os cuidados, pois, se o banhista abusar, pode potencializar o risco.