No cenário típico de um fim de semana de sol no Litoral Norte, além do mar, do céu azul, das cadeiras e guarda-sóis, é comum a presença de outro elemento à beira-mar: as churrasqueiras. Especialidade dos gaúchos, assar carne na praia é uma prática que pode ser vista a distância pela fumaça que provoca, como pôde ser observado com facilidade ontem nas areias de Capão da Canoa.
— Eu gosto e como um montão — disse o pequeno Caio Leonel Silva, três anos, enquanto petiscava o churrasco preparado para toda a família.
Mas o hábito, embora saboroso, exige cuidados importantes com manuseio e transporte, já que alimentos de origem animal têm rápida deterioração e são propícios à multiplicação de micro-organismos, alerta a nutricionista da Santa Casa de Misericórdia, Roberta Carneiro:
— Mesmo que vá assar logo, é indispensável carregar a carne em caixa isotérmica, de preferência com gelo, e só retirar na hora que for para o fogo.
Caso esses procedimentos sejam ignorados, uma infecção por bactérias pode provocar náuseas, dores abdominais, vômito e até diarreia, entre outras reações.
Seja em churrasqueiras compactas ou em tonéis cortados ao meio para sustentar o calor da brasa, quem resolveu preparar o prato típico ontem nas areias de Capão garantiu estar tomando as devidas precauções. É o caso do fabricante de móveis Jucemar Chiod, 37 anos, que tinha com duas caixas térmicas com gelo:
— A carne a gente trouxe em uma delas, e a cerveja, em outra.
Um grupo de amigos de União da Serra, que estava com crianças com idades entre seis meses e 10 anos — entre elas Caio, citado no início da reportagem —, levou frutas em potes separados e uma garrafa de dois litros de água mineral para limpar talheres e fazer a higiene das mãos.
— Até a papinha eu trouxe. Cozinhei de manhã os legumes e a carne e mantenho tudo no gelo — explicou a zeladora Andressa Felício, 32 anos, mãe de Maitê, seis meses.
As medidas tomadas pelo grupo não só são aprovadas como também indicadas pela profissional da Santa Casa de Porto Alegre, que sugere ainda que se use plástico filme para evitar o contato entre os diferentes tipos de alimentos.
Hidratação
Rita Cherutti, especialista em nutrição esportiva e funcional, ainda chama a atenção para outro ponto a ser observado:
— É importante manter a hidratação. Muitas vezes, nas férias, a pessoa perde o hábito de tomar água e aumenta o consumo de álcool, o que afeta o organismo.
Em outro ponto da praia, o auxiliar de laboratório Geverton Poletto, 29 anos, limpava com detergente líquido uma mesa de plástico na qual a família cortaria o pão que acompanharia a carne de ovelha.
— A gente não coloca nada em cima antes de limpar bem — garantiu ele.
A técnica em enfermagem Alexandra Barcellos, 46 anos, fez salada de maionese caseira, com mistura de batata e cenoura.
O preparo levou óleo de canola e ovos, batidos no liquidificador, ingredientes que exigem atenção redobrada, segundo Rira.
— São produtos de origem animal, o que aumenta o risco de contaminação, mesmo a refeição tendo sido preparada poucos instantes antes do consumo — lembra a nutricionista.
Alternativas à carne assada na brasa
Pedalando pelas areias de Xangri-Lá, Paulo Mendonça, 39 anos, tira o sustento de casa, onde vive com a esposa. A bicicleta substitui o quiosque: nela, transporta uma caixa térmica com salada de fruta e outra com pastéis de frango com catupiry ou carne com ovo.
— Fiz há uma hora, são assados, não leva a gordura da fritura. Estão quentinhos ainda _ atesta.
A dispensa do óleo é um fator positivo para a saúde, porém o queijo, em contato com o calor por um período de tempo excessivo, segue a mesma lógica das carnes e pode ser contaminado se não for mantido no gelo durante o transporte.
Em um gazebo próximo ao mar de Tramandaí, uma família de argentinos escolheu sanduíches como refeição em substituição ao almoço. De carne de cordeiro desfiada e pão de forma, o toque final foi acrescentado na praia.
— Trouxemos tudo na caixa (térmica), e a maionese veio fechada. Na hora de comer, é que colocamos, para não ter risco — conta a secretária Alejandra Racith, 53 anos, moradora de Passo de Los Libres, no país vizinho.
Menos cuidado teve a família Soto, também da Argentina. Presunto e queijo comprados no supermercado foram mantidos em uma sacola plástica, sem refrigeração. Já os legumes estavam acondicionados de forma correta, em um pote fechado.
— Gostamos dos lanches porque são práticos e mais econômicos — disse Ernesto Soto, 52.
Dicas de especialista
Atenção a outras recomendações da nutricionista Roberta Carneiro.
Bolos recheados – o ideal é evitar, assim como tortas, por ser muito perecível. Dê preferência a alimentos como frutas e barras de cereais.
Leite e suco de caixinha – devem ser mantidos em embalagens tetra pak fechadas e protegidas do sol e do calor.
Água com gás – no verão, o corpo desidrata mais rápido devido à exposição ao sol. A água com gás tem mais sódio, o que acaba aumentando a desidratação, além de ser contraindicada para pessoas hipertensas.
Bebidas em lata – se for consumida diretamente no bocal, a lata deve ser higienizada, mas deve-se dar preferência por beber em copo.
Frituras – observe o óleo dos quiosques. Se estiver espumando ou com muita fumaça, a gordura pode estar saturada. A cor também é um indicativo – se estiver com aspecto amarelo escuro, passou do ponto para ser utilizado.
Alimentos de ambulantes – fique atento à limpeza, tanto do local onde o alimento é preparado quanto do cozinheiro. Unhas curtas e limpas, rede no cabelo e uniforme bem cuidado devem ser observados.
Bebidas alcoólicas – têm alto poder diurético e podem desidratar ainda mais. Uma dica é intercalar água – natural ou de côco – enquanto se ingere outras bebidas.