De olhos vidrados, Laura Pilar, nove anos, procurava coragem para realizar o desejo alimentado desde o início do verão. Moradora de Uruguaiana, a menina, que passa férias em Capão da Canoa, precisava de apenas de uma resposta:
— Dá pra respirar aí dentro?
O objeto em questão é a "bola d'água", estrutura de plástico PVC na qual o visitante embarca para um pequeno passeio dentro d'água, puxado por uma corda. Com dois metros de diâmetro, a esfera é preenchida com ar por um soprador semelhante aos utilizados na varrição de folhas de árvores nas ruas e fechada por dois zíperes, um interno e outro externo, além de um velcro que garante a vedação.
De acordo com Eduardo Araújo, 26 anos, empreendedor gaúcho responsável pelo aluguel do brinquedo, a estrutura suporta até 200 quilos:
— A maioria (dos frequentadores), cerca de 80%, são crianças. Mas, como o limite é o peso, também entram casais. Nesse caso, orientamos para que não se movam muito para não se machucar.
Nascido em Guaíba, Araújo viaja com a esposa pelo Brasil há quatro anos. Na mala, carrega 20 bolas d'água, que hoje são responsáveis pela principal renda da família. Só aos finais de semana, garante, realiza mais de cem passeios por dia. Entre segunda e sexta-feira, o número cai pela metade.
Passado o receio, a pequena Laura decidiu encarar o desafio. Escolheu a opção mais popular, que custa R$ 10 e dá direito a cinco minutos dentro da bola no mar. Para 10 minutos de brincadeira, o valor é R$ 15. Tentando se equilibrar, caminhou até a primeira marola, quando sofreu o primeiro tombo. O pai, Fábio Lagranha, 46, acompanhava tudo da areia.
— Há dias ela namora essa bolha, e agora foi. Parece que está se divertindo — diz o técnico em próteses dentárias, sem tirar o olho da filha.
Depois da experiência, a menina correu ofegante ao encontro do pai.
— Que calor lá dentro, meu Deus! Mas é bem legal. Quando a onda batia, eu pulava e caía no chão. É muito difícil se equilibrar — contou a criança, com a fala e a respiração aceleradas.
O espírito aventureiro de Pietro Calleari, sete anos, foi determinante para a mãe concordar com o passeio.
— Ele viu a bola e perguntou: tem R$ 10 para eu andar? Ele é muito curioso e aventureiro, então isso é tudo de que ele gosta — disse a nutricionista Morgana Calleari, 37 anos.
Entusiasmado, Pietro saiu da água com a adrenalina nas alturas e cheio de história para contar.
— Foi muito show, fiquei só com um pouquinho de medo de vir uma onda grande e eu afundar. Imagina se eu saio em uma ilha? Ia ficar esperando um barco me buscar. Ou um helicóptero — disse o menino, cheio de criatividade.
A reportagem de GaúchaZH não ficou de fora da brincadeira e testou o equipamento. Nos primeiros metros, ainda na areia, há muita dificuldade de caminhar. Ao chegar ao mar, a queda é inevitável. A surpresa vem quando a esfera começa a flutuar sobre a água, em movimentos que transmitem uma certa tranquilidade. Nas ondas, cambalhotas tornam o passeio divertido. O mais desagradável é mesmo o calor, confirmando o relatado pelas crianças. Ao chegar aos 10 minutos, a experiência se torna um pouco sufocante, especialmente sob sol a pino do meio-dia.
— Tem criança que aguenta até mais, porém, a gente limita a 10 minutos porque vai ficando mais difícil de respirar — explica Araújo.