Em um ano, as coisas mudaram para o gremista Marcelo Oliveira, 35 anos, e o colorado Osmar Müller, 68, que veraneiam nas casas mais célebres de Curumim. O vizinho da esquerda pôde substituir a faixa na sacada, exaltando, além da conquista da Copa do Brasil, o tri da Libertadores. Já o da direita trocou as bandeiras desgastadas — de volta à série A, é "ano novo, vida nova" — e precisou apagar a inscrição no qual se orgulhava de ser campeão de tudo, em respeito ao acordo registrado em entrevista a ZH na temporada passada.
Mas a corneta, essa não muda com o passar dos verões.
— As coisas voltaram a seu devido lugar. Inclusive, é como nossas casas aqui: se for ver, uma é maior do que a outra — provoca Marcelo, empresário e genro dos donos da casa tricolor.
— Mas quem é o maior campeão do Rio Grande? E eu ainda tive a felicidade de estar no Japão sendo campeão mundial em cima do Barcelona — responde Osmar, comerciante de Canela.
— Sempre seguindo o pai — é a tréplica do gremista.
Osmar solta uma gargalhada e emenda:
— Eles começaram primeiro, mas nós aprendemos o caminho da roça e certamente vamos agitar muito ainda.
Osmar e Marcelo começaram a pintar e decorar as casas com a temática Gre-Nal no começo da década. Separados apenas por um muro de um metro de altura, os vizinhos se completam. Até na hora do chimarrão: Osmar tem a cuia com o símbolo Inter, Marcelo, a térmica do Grêmio. Se eles se amam ou se odeiam é uma das perguntas mais frequentes dos (muitos) curiosos que passam pela Avenida Aimoré, a principal da praia, quase na faixa de areia.
— Somos muito amigos, uma irmandade que às vezes famílias não têm — diz Osmar.
Tanto que o vendedor Luciano Santos Dias, 40 anos, infiltrado na casa de Osmar com a camisa do Grêmio, migrou para o outro lado do muro na hora de tirar a foto com toda a turma das casas. Mas quando Marcelo procurou o apoio de Luciano para provocar o comerciante de Canela, ficou "no vácuo":
— Não posso falar nada. Senão fico sem pouso.
À espera do Gre-Nal
Para 2018, os desejos dos vizinhos têm rumos diferentes. Confiante, Marcelo quer o hexa da Copa do Brasil e o tetra da Libertadores — e o Mundial, acrescenta seu filho Matheus, de 10 anos. Certo de que vai ver o Inter jogando "de igual pra igual" na elite do futebol, Osmar almeja o título do Brasileiro. E já é grande a expectativa pelos Gre-Nais da temporada.
— Nós sempre tivemos esses três pontos no Brasileirão meio garantidos — comenta Osmar.
— É mais gostoso mesmo, ainda mais quando dá cinco a zero — rebate Marcelo.
As competições ainda nem começaram e eles já vão pensando em mais decoração para a fachada das casas. Marcelo cogitou um grafite com o rosto de Renato Portaluppi na calçada, talvez do Pedro Geromel.
— Mas isso aí vai ser para a próxima matéria — brinca.