Na semana passada, uma tainha pulou do Rio Tramandaí e caiu no colo de um passageiro. Às vezes, é um hidroavião que pousa no rio e vai estacionar junto a uma mansão. No pátio de outra casa, em vez de carros, vê-se um helicóptero particular.
Essas são algumas das surpresas reveladas por um passeio de barco que sai todos os dias das imediações da ponte entre Imbé e Tramandaí e revela facetas desconhecidas de dois dos balneários mais famosos do litoral gaúcho.
Realizado no Comandante Armindo, um barco com capacidade para 15 passageiros, o trajeto inclui 10 quilômetros pelo rio e pela lagoa, percorrendo o que se pode definir como o pátio dos fundos das duas praias.
A grande surpresa são os palacetes espetaculares que se estendem ao longo da margem do rio. Quem percorre a cidade está acostumado a ver apenas as enormes muralhas que escondem esses imóveis da vista, mas na parte de trás não há muro algum: as mansões dão direto para o rio, sem barreira. Quem vem no Comandante Armindo, um barco sem quilha e de fundo achatado, ideal para a navegação na baixa profundidade da lagoa, depara com uma sucessão de deques, piscinas, lanchas, gente tomando sol em espreguiçadeiras pousadas em largos gramados, casas de cinema.
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A gestora ambiental Angélia Silva, que atua como guia do passeio, vai desfiando o nome dos proprietários: grandes empresários, jogadores de futebol, celebridades.
– Aqui não estamos em Imbé. Estamos em Imbeverly Hills. É só mansão – brinca.
Sentados lado a lado no barco, o autônomo Jarbas Jaroszewski, 40 anos, e sua mulher, a professora estadual Suzana Jaroszewski, 45 anos, moradores de Guarani das Missões, espantam-se com a ostentação.
– Eu nem imaginava que existiam essas mansões. O que mais chama a atenção é o contraste entre a riqueza e a pobreza. Essa gente tem tanto, enquanto outros sofrem para ganhar um salário – comenta a professora.
O trajeto revela também marcos históricos e uma natureza insuspeitada tão perto dos altos prédios de Imbé e Tramandaí. Já na saída, Angélia ou o proprietário do barco, Miguel Romor, informam que a ponte entre os dois municípios chama-se na verdade Giuseppe Garibaldi, porque foi dali que o herói farroupilha partiu com dois lanchões para atacar Santa Catarina.
Miguel também se alonga em um assunto que o fascina: a história da navegação lacustre no Rio Grande do Sul, que ele luta para manter viva com seu passeio de barco.
– Pela lagoa de Tramandaí e pelo rio, se consegue ir de barco a 11 municípios. Por aqui, seria possível navegar até a Lagoa Itapeva, em Torres. Antes da BR-101, havia vários portos nas lagoas, que era a principal via de escoamento de produtos – afirma Miguel.
Com a Serra e o Parque Eólico de Osório ao fundo, a natureza se revela pela presença de biguás, garças, um ninho de lontras e peixes saltando da água. Há também aguapés, juncos mais altos do que uma pessoa e ilhas, cobertas de matagais e com áreas abertas onde o gado pasta. Uma delas é ligada ao continente por uma ponte para pedestres de metal, em arco, sob o qual o barco passa. Em uma das margens, Angélia mostra alguns pés de imbé, a planta que deu nome ao município.
– Os índios usavam o imbé para fazer um chá e curar inflamações dos testículos – diz.
Lorete Alves da Silveira, 58 anos, moradora de Porto Alegre, estava fazendo o passeio pela segunda vez, mas ainda se mostrava impressionada com a natureza.
– Estou repetindo porque valeu a pena. As pessoas vêm para a praia e nem têm ideia dessa natureza linda aqui – disse.
Serviço
Os passeios duram uma hora e saem das 10h às 18h, atrás da Câmara de Vereadores de Tramandaí.
Preços: R$ 35 (adulto), R$ 30 (seis a 12 anos), R$ 25 (idosos). Crianças de até cinco anos não pagam.