Estou escrevendo toda quarta-feira sobre verões no interior do Estado. Ou o que esse pessoal faz para assassinar o calor. Estou recebendo inveja e maus agouros de quem passa no Litoral. Pessoal muito exibido. Coitados. São minoria. Por isso seguirei ao lado da maioria que prefere verão longe do Atlântico. E dentro de um clube. Com piscinas, claro.
Você já deve ter vivido isso. No Alegrete, minha época de adolescente foi se associar em algum clube para passar essa estação que sem água e ar-condicionado é fogo. E, nesse tipo de recinto, há uma fauna rica. Vivi e respirei anos nesse hábitat estilo Jurassic Park sem efeitos visuais avançados.
Na verdade, o melhor visual que poderia acontecer para nós, meninos, espinhas, puberdade e banhos demorados, era ver as nossas colegas, as meninas, de biquíni. Ou maiô (que acho mais sensual, não brigue comigo). Causavam alvoroço na gurizada elas para lá e para cá, segurando garrafas de vidro de refrigerante, canudinho, pastel de queijo. Éramos educados. Não gritávamos ou assobiávamos, apenas observávamos de forma discreta.
O problema era que eu pesava uns 57 quilos em um corpo de 169 centímetros (mesma centimetragem do Messi, um a mais do que Beyoncé). Eu era o "seco". Os bonitos e musculosos eram outros, que chamavam como ímãs os olhos femininos e por isso o clube só ajudava a aumentar o tempo do meu banho em casa depois.
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Ir ao clube era de bicicleta. Sem ciclovia, sem balaca, sem marcha. Ir ao clube era jogar bola, conseguir vaga na principal partida do dia, no areião ou na quadra. O jogo das 18h era o mais esperado, com maior público – cerca de 34 corneteiros –, o que transformava o ambiente em Bombonera alegretense, e perder era vergonhoso.
"Torrada com bastante queijo e presunto duplo" era o nome do meu Deus porque piscina dá fome. Coração batia disparado como um Usain Bolt porque o amor da vida estava passando por mim, para depois, metros depois, beijar um musculoso. Descobria que vôlei é legal, que a menina que não se encaixava nos padrões de beleza – assim como eu – aceitava minhas acnes e meu jeito. E, finalmente, dava o primeiro beijo na vida em alguém com pouca roupa e descobria que o sentido da vida poderia ser isso. Só isso.
E, a maior pergunta, algo que até hoje me enche de pontos de interrogação, que intriga meio mundo que habita clubes de Interior no verão: o exame médico para a piscina. Tenho uma frieira de estimação desde os 12 anos. Passei em todos os exames médicos. Nota 100, A+, excelente. Ou peguei essa maldita – boa de coçar – na piscina do Real ou o cloro mata frieira e os exames eram apenas caça-níqueis.