No primeiro verão que passei em Porto Alegre, depois de ter me mudado de Florianópolis (trajeto oposto ao senso comum), a capa da Zero Hora anunciava "O verão mais quente em 40 anos". Eu não tinha ar-condicionado, nem em casa e nem no carro, e a solução pra refrescar minha filha pequena foi comprar uma piscina de mil litros, daquelas de plástico, e colocar no meio da nossa sala.
O chão era de parquê. As visitas achavam meio estranho, mas meio engraçado, vez ou outra uma mais bêbada entrava na piscina também, normalmente molhando o chão do oitavo andar. Não tinha nem um ventinho na cidade, não tínhamos nada além de alguns cubos de gelo que iam direto da geladeira para a água da nossa piscina proletária, única forma de refresco, além da cerveja e da caipira (minha filha tomava suco de laranja). Pois o verão não passava, e nossa piscina precisava ter a água trocada.
Essas piscinas têm aquela pequena abertura no fundo delas, mas não podíamos usá-la no chão de parquê. Começamos a esvaziar a piscina com baldes, mas chegou uma hora que, pra tirar toda a água, tivemos de levantar o plástico todo, pra jogar o resto de líquido no tanque da área de serviço. E aí vimos que, após semanas de uso, tínhamos destruído um pedaço do piso. Agora sim ia ferver pro nosso lado.
Volta a fita seis meses. Quando cheguei na cidade, em agosto, fazia perto de 5°C. Estávamos felizes por arrumar um apartamento pra alugar perto do trabalho, com vista pro rio, por R$ 850/mês. Nos quartos pegava sol à tarde, e minha filha às vezes passava desenhando em folhas de papel de rascunho, no chão. A dona do imóvel morava logo abaixo da gente, no 704. E é aí que estava o problema.
Veja também:
>>> Saiba que produto usar para ficar com a pele da cor do verão
>>> Praia da Ferrugem: aqui é o meu lugar
De volta ao verão, a água da nossa jacuzi improvisada já tinha molhado tanto o parquê que o negócio estava mole. A água já tinha chegado na laje, e provavelmente era questão de dias pra locatária perceber nossa imprudência da pior maneira possível: com manchas de infiltração no teto da casa dela. No dia seguinte, a Ana fez um bolo de cenoura e descemos para explicar a situação. Tocamos a campainha, e a Sra. Não Posso Dizer o Nome gritou "só um minuto!" lá de dentro, vindo atender a porta enrolada numa toalha.
De canto a gente conseguiu perceber, no meio da sala dela, uma piscina colorida, daquelas de criança, cheia, no meio da sala dela. O chão completamente molhado. E ela disse: "Dane-se o vizinho, esse calor tá insuportável". Era domingo, e comemos o bolo dentro da piscina.
Leia na areia
Marcos Piangers: o verão em que coloquei uma piscina na sala do meu apartamento
"Eu não tinha ar-condicionado, nem em casa e nem no carro, e a solução pra refrescar minha filha pequena foi comprar uma piscina de mil litros"
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: