A Feira do Mel, Rosca e Nata, em Ivoti, é essencial para a renda anual do apicultor Leonir Krug, 55 anos. A 17ª edição do evento é apenas uma das festividades gaúchas que precisaram ser adiadas por causa da enchente de maio. Assim como a cidade do Vale do Sinos, outros municípios se readaptaram para garantir a realização de celebrações. Para especialistas da área do turismo, as feiras e festas são responsáveis por gerar fluxo turístico, emprego e movimentar as economias locais, ajudando a reerguer o Rio Grande do Sul.
— No ano passado, eu vendi em torno de 600 quilos de mel na feira toda. Nesse ano, no primeiro final de semana, vendi 500 quilos com um preço bom — conta Krug, proprietário da Mel do Niu. Assim como ele, outros 91 expositores contam com a receita oriunda de feira, que vai até domingo (7). Por conta da grande importância econômica, turística e cultural, essas festividades têm papel fundamental no fortalecimento do Estado após a tragédia climática.
A Fenadoce, em Pelotas, é outro evento que teve que ser adiado. Agora, deve ocorrer entre 17 de julho e 4 de agosto, com o tema É tempo de reconstruir. A feira é responsável por movimentar a hotelaria, a gastronomia e o comércio da cidade, localizada na Região Sul. A diretora de Planejamento e Competitividade de Turismo do Estado, Cláudia Mara, conta que a Secretaria de Turismo (Setur) concordou de prontidão com a mudança de datas das festas municipais.
— Apoiamos porque são eventos que geram muita riqueza, tanto para a agroindústria, como para o comércio, e para geração de fluxo turístico. Hotelaria, restaurantes, postos de gasolina, transporte, agências de viagens e outros empreendimentos estão dentro da cadeia produtiva do setor — afirma Cláudia, que também ressalta a existência de, pelo menos, 52 atividades ligadas diretamente à produção de eventos.
Em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, os empresários esperam ansiosamente pela Oktoberfest, marcada para outubro. Além de movimentar a hotelaria, os bares e os restaurantes da cidade, o evento é importante para o comércio de varejo. O presidente da Associação de Entidades Empresariais de Santa Cruz do Sul (Assemp), Ricardo Bertolucci, afirma que os empreendimentos usam a temática da festa para ter mais faturamento. No ano passado, 400 mil pessoas circularam pelo evento e mais de 184 mil litros de chope foram vendidos. Para este ano, a expectativa é de 450 mil visitantes.
— Os eventos têm esse efeito de incrementar o consumo na cidade. As pessoas vão viajar, vão se hospedar, vão fazer compras, vão fazer um lanche. A principal resposta para restabelecer a economia é esse acréscimo de pessoas consumindo — defende a coordenadora de Turismo do Sebrae RS, Amanda Bonotto Paim.
Além da Oktoberfest, outros dois eventos importantes para o Estado estão com as datas mantidas: a Expointer, em Esteio, que ocorre de 24 de agosto a 1° de setembro, e o Natal Luz, em Gramado, que será realizado de 24 de outubro a 19 de janeiro. Para a subsecretária do Parque de Exposições Assis Brasil, onde a Expointer é realizada, Betty Cirne-Lima, e o secretário de Turismo de Gramado, Ricardo Reginato, garantir a realização dos respectivos eventos é importante para resgatar o senso de normalidade no Estado e para oferecer um sentimento de alívio após tempos difíceis.
— A Expointer é uma feira que vai muito além dos negócios — garante Betty. No ano passado, bateu o recorde de visitantes (822 mil) e de comercialização (R$ 8 bilhões em negócios), mas, para 2024, não há expectativas quanto a esses dados.
Com a dificuldade de operação do Trensurb, a organização da Expointer pensa em oferecer opções de transporte saindo de Porto Alegre para garantir que mais pessoas possam visitar a feira. O transporte também é uma preocupação para Gramado, que costuma receber 2,5 milhões de pessoas durante a realização do Natal Luz. O fechamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho deve impactar negativamente no número de visitantes de eventos como o Festival de Cinema e o Natal Luz. Reginato pontua que fluxo de turistas vindos de outras cidades do Brasil é importante, uma vez que representa 50% do público que Gramado recebe durante o ano.
Entre grandes e pequenos, pelo menos outros 54 eventos estão programados para ocorrer entre julho e dezembro no Rio Grande do Sul (confira a tabela abaixo). Entre eles, a ExpoBento e a Fenavinho, o Festival Internacional de Folclore de Nova Petrópolis, Festival Nacional de Balonismo e a Festa das Rosas são exemplos de festividades tradicionais de diferentes cidades gaúchas.
— Por mais que tenha um público pequeno e nichado, o evento é positivo porque ele emprega fornecedores e prestadores de serviço para acontecer. Agora, quando conseguimos combinar um evento de fluxo médio com outros serviços, incentiva o consumo e valoriza outros produtos e cadeias — acrescenta Amanda.
Para auxiliar na promoção desses e de outros eventos no Estado, a Setur solicitou ao Ministério do Turismo cerca de R$ 90 milhões. De acordo com o secretário de Turismo em exercício, Luiz Fernando Rodriguez Júnior, o pedido foi assinado em conjunto com o governador Eduardo Leite e encaminhado ao governo federal no final de junho. A ideia é que o valor seja distribuído entre todas as festividades que ocorrerão a partir deste mês.
O representante da Setur destaca que a manutenção do calendário de festas é muito importante e significativa para a retomada da economia no Rio Grande do Sul:
— Vem para o aquecimento dessa possibilidade de que os eventos tragam fluxo de turistas para apoiar desde o prestador de serviços até a rede de hotelaria e gastronomia. Se conseguirmos criar esse calendário, tenho total certeza de que vamos dinamizar essa retomada da economia do Estado pelo setor de turismo e eventos. Estou esperançoso e tenho as melhores expectativas de que o ministério vai compreender a importância disso para o nosso Estado.
Consultado pela reportagem, o Ministério ainda não se manifestou sobre o pedido.
Eventos cancelados
Cerca de 65% dos eventos do Estado foram cancelados por causa da enchente, aponta um estudo Setur. A Festa Nacional do Peixe, em Tramandaí, é um deles. O secretário da Fazenda do município, Andrew Carvalho, explica que, na avaliação da prefeitura, por causa da enchente o número de visitantes seria muito menor do que os 200 mil previstos. O impacto do cancelamento é grande, uma vez que o evento costuma movimentar a cidade litorânea na baixa temporada.
— A rede hoteleira indicava quase 100% de ocupação para os dias de festa, antes da enchente. Além dos shows nacionais, dezenas de bandas e artistas locais se apresentam durante o mês de festa. Os artesãos têm um pavilhão inteiro disponível aos seus estandes. E agora, tudo isso só vai acontecer no ano que vem — lamenta o secretário.