Um Dia das Mães fora de casa e sem conforto. Assim será o domingo (12) da babá e empregada doméstica Viviane Santos Oliveira, 43 anos. A vida dela virou de cabeça para baixo no dia 4 de maio. Naquele sábado, a moradora da Vila Elizabeth, no bairro Sarandi, precisou ser resgatada pela Defesa Civil de barco no apartamento onde vive de aluguel, por conta da enchente em Porto Alegre, na companhia das duas filhas pequenas e do companheiro.
— Nunca tinha visto uma inundação de água subir tão alto. Tenho uma sensação de gratidão por estar viva junto da minha família. E de tristeza por ter perdido tudo — desabafa, sentada em uma cadeira no abrigo do Centro Vida, no bairro Costa e Silva, onde está desde então.
Mais de 500 pessoas estão abrigadas no local. São vítimas da cheia e vieram do Sarandi e de pontos como a região das Ilhas. Todos viraram uma espécie de náufragos, apesar de não serem sobreviventes do afundamento de alguma embarcação.
No Centro Vida, Viviane trata de seguir em frente. Em torno das 11h, pegou a filha Maria Alice Santos Oliveira, de seis meses, no colo. A menina de cabelos crespos sorria e não tinha noção do momento difícil que todos passam. A outra filha, Valentina Oliveira Arduin, de cinco anos, brincava com as demais crianças abrigadas. O companheiro Carlos Alberto Fontela, 63, descansava.
— Moro atrás do dique do Sarandi. Não consegui ainda ir em casa para ver todas as perdas. Até de bote é arriscado, porque a água segue alta — compartilha Viviane.
Enquanto isso, a pequena Maria Alice olha para a mãe. O olhar das duas se encontram. A ternura se espraia no espaço onde a família está instalada. Colchões, cobertores e algumas roupas completam o cenário. Há outros como elas ali. Mas todos sobreviveram. E isso é uma imensa vitória.
Sem destino
A coordenadora das operações no Centro Vida da Avenida Baltazar de Oliveira Garcia é a presidente da Comissão Municipal dos Festejos Farroupilhas de Porto Alegre, Liliana Cardoso. Neste domingo, ela passa o Dia das Mães auxiliando no abrigo. A cheia não poupou ninguém. São milhares de mães sem casa ou sem ter para onde ir no Rio Grande do Sul.
— Estão chegando muitos donativos e arrecadações. Estamos abrindo um ponto aqui para doar para quem precisa — conta Liliana.
Nunca o Dia das Mães foi tão triste. Este domingo será um dia que jamais será esquecido por milhares de pessoas que perderam tudo, menos a esperança. Quando a pequena Maria Alice crescer, ela escutará a história de luta da mãe. E de como sua família sobreviveu ao dilúvio das águas e a maior enchente dessa terra ao sul do país.