Caminhando por cima de um muro e usando um pedaço de madeira, o voluntário Alex Abel tentava acessar uma das centenas de casas inundadas no bairro Mathias Velho. Somente de barco foi possível chegar na Rua Campinas, onde a gata Mili estava presa no segundo andar de casa desde que o rio invadiu a cidade.
Dentro do barco, a tutora Camila Vaz Peixoto acompanhava apreensiva a tentativa de resgate. Pelos dias sem comida, temia que a gata já estivesse sem vida.
— Eu não estava em casa e depois que aconteceu não tinha mais como vir. Jamais deixaria ela ali, não teve uma noite que não dormi pensando nela — disse a mulher, que está abrigada na casa da mãe em Gravataí.
O resgate foi transmitido ao vivo na Rádio Gaúcha. Alex Abel primeiro se equilibrou sobre o muro e depois precisou nadar até a escada de acesso ao segundo piso da casa. A profundidade nesse ponto passava de 2,5m. Dentro da casa, Abel procurou o animal por duas vezes.
— Não está aqui — anunciou Abel na porta, antes de voltar a procurar.
Depois de vasculhar a casa, a gata foi encontrada dentro do armário, embaixo de uma pilha de roupas. Alex conta que ela estava quieta e tentou fugir quando notou que foi vista. A alternativa foi capturar com uma coberta e colocar Milli dentro de uma caixa de transporte.
Para levar a gata de volta ao barco, uma prancha foi amarrada em uma corda e arremessada até a casa. A caixa de transporte por puxada cuidadosamente boiando sobre a prancha.
— A gente vai pra casa, meu amor. Tá assustada? A gente vai pra casa — dizia Camila, enquanto a gata miava. O som foi capturado pelo microfone da Rádio Gaúcha.
Para Alex Abel retornar, a mesma prancha foi arremessada e ele foi puxado. Ofegante, ao chegar no barco, declarou ao vivo:
— Potter, assim como o saudoso e querido David Coimbra, depois que tudo isso passar, vamos nos juntar e tomar alguns chopes cremosos.
Morador do bairro, Alex Abel também é vítima da enchente. Na casa dele, nem o telhado ficou de fora.
— Se eu tiver forças e tiver condições de ajudar, eu vou ajudar. E assim como eu, tem muitos heróis anônimos que não vão aparecer. Tem pessoas que tiramos da água e ficaram ali ajudando, pessoas que perderam entes queridos, familiares e continuaram ajudando — disse.