Dois ginásios de Gramado são as moradias de famílias que tiveram de sair às pressas de casa por conta do risco de deslizamentos. Neste sábado (25), a cidade da Serra contabilizava 45 moradores nesses espaços: são pessoas que não conseguiram outro lugar até o momento. Por isso, são assistidas pela prefeitura enquanto não há uma definição se elas poderão voltar para casa.
Ao todo, 526 moradores permanecem fora de suas residências no município, segundo a prefeitura de Gramado divulgou na noite de sexta-feira (24). A maioria deles conseguiu outros espaços por meio de aluguel, hotéis ou com a ajuda de amigos e familiares. O grupo precisou ser retirado dos locais pois a cidade registrou deslizamentos e rachaduras em pavimentos. A situação fez a prefeitura de Gramado decretar estado de emergência pública.
No ginásio da Escola Senador Salgado Filho, no bairro Piratini, há 15 pessoas à espera de definições sobre o futuro das moradias evacuadas.
Entre elas está a venezuelana Rina Galea, 30 anos, que ocupa o local com o marido e três filhos. Ela está em Gramado há quase três anos e trabalha em uma pousada no bairro Três Pinheiro, um dos mais afetados na evacuação. Tanto o empreendimento quanto a moradia dela foram interditados após uma encosta apresentar risco de desmoronar.
— No sábado (18), já tínhamos visto o deslizamento da terra, mas não achamos que seria algo grave. No dia seguinte, bateram na porta de casa e avisaram que a gente tinha que sair, que era um risco ficar — conta.
Desde segunda-feira (20), os venezuelanos estão no ginásio, onde convivem com outras duas famílias no momento. Rina relata que tem procurado casas para se mudar e não pretende deixar Gramado no momento, pois considera uma cidade segura, com bom ensino para os filhos e oportunidades de emprego. O empecilho para ter uma nova casa é financeiro:
— Achamos uma por R$ 800 por mês, mas não nos aceitaram quando disse que eu tinha três filhos. As casas são caras: R$ 1,5 mil a R$ 2 mil, o que não podemos pagar, mas seguimos atrás de uma — conta.
"Estão se aproveitando desse momento"
A reclamação é a mesma de Mikaely Jardaisa, 25 anos, atendente em uma loja de doces no centro de Gramado.
— Estão se aproveitando desse momento pra botar um valor lá em cima. Além disso, pedem dois ou três meses de caução. Tem família que não consegue alugar por ter filhos. Também não aceitam por ter animais. É injusto: estão sendo desumanos em um momento difícil — comenta.
A pernambucana mora com o marido em Gramado desde janeiro em uma casa no bairro Três Pinheiros. O imóvel fica próximo à Estrada da Pedreira, uma via que foi interditada para o trânsito por apresentar rachaduras no pavimento e na barreira de contenção.
— Estão dizendo que pode cair todo o barranco. Esse tipo de coisa é complicada, por isso não quero voltar para lá: tenho medo do que pode acontecer — afirma Mikaely.
O ginásio de uma escola do bairro Altos da Viação Férrea é ocupado por cerca de 30 pessoas da mesma família, que foram retiradas de uma área de risco no entorno.
— Saímos antes mesmo de começar a chover (no sábado, 18). Começou a desmoronar uma pedra e ficou perigoso. Eles (funcionários municipais) olharam e interditaram. Não dava mais para ficar lá — resume Alex dos Santos, 20 anos, um dos abrigados no local.
Quando a reportagem esteve no ponto, o grupo se preparava para almoçar em uma mesa no centro do ginásio. Os moradores elogiaram o acolhimento e a organização da prefeitura frente à demanda do grupo. Mas, segundo Alex, eles têm procurado opções para não continuar ali.
— A família é grande e não nos aceitam por isso. Também tem os cachorros. Hoje em dia está muito chato e caro arrumar uma casa em Gramado. Estamos conversando com a prefeitura para ver como será, se teremos um aluguel social ou outro lugar para morar — acrescenta.