Das coisas que aprendi na vida - e que por vezes me pego pensando -, as que fazem parte das minhas primeiras experiências, sem sombra de dúvida, foram as que moldaram o meu jeito de ser. As memórias construídas na infância nos impactam de tal maneira que sempre reaparecem, ganham vida e nos fazem pensar.
No exercício da lembrança, percebi que meus primeiros momentos intensos da vida foram em um período totalmente analógico e experimental. Fui uma criança dos anos 1990. Muita cor, muita música, muitos ídolos e muito futuro. Mas, por pensarmos tanto nesse tal futuro, insistimos em adiantar o relógio e antecipar os passos… Mesmo quando não há de ser.
Afinal, por que nos questionam tanto quando somos crianças sobre o que vamos “ser” quando crescermos? Parece uma ansiedade desmedida sobre de que forma cumpriremos o nosso papel social. Oras, quando crianças, somos apenas crianças. Somos feitos de sonhos, de novos cheiros e sabores.
Somos feitos de porquês.
Por que o céu é azul? Por que o sangue é vermelho?
Ah, e muitos são os avisos.
— Aproveite essa fase porque passa rápido!
Rápido. Lento. Como uma criança vai dimensionar o tempo? Nós só sabemos viver. Sem medida, sem ponderações. O ser criança é sentir a vida em sua total complexidade, sem nem ao menos pensar sobre isso.
A nossa sorte é que as recordações permanecem vivas como tinta fresca. Quando adultos, somos feitos, sim, de novas experiências, mas, sobretudo, de memórias.
A Camila de agora sempre revisita a Camila de outrora. Quando dizem que temos a nossa criança interior e que precisamos cuidá-la, é sobre não esquecermos do que passamos, do que vivemos, do que somos feitos.
Quando agora fecho os olhos, lembro do abraço dos meus pais, do carinho dos meus avós, das brincadeiras com meu irmão - que até hoje é meu grande amigo - e sinto toda a riqueza de se viver a infância em sua plenitude. Lembro de sempre ter música em nossa casa, aí ficou fácil ser uma apaixonada pelas letras e melodias. Lembro do meu irmão com uma bola de futebol me dizendo que deveríamos jogar. Ah, esse tal de futebol virou a minha paixão e se tornou profissão.
Mas claro que lembro também das brigas na escola, das broncas dos pais e de balbuciar em momentos de total estupidez que o melhor seria me tornar adulta logo. Coisa de segundos, até me dar conta que havia uma diversão muito mais emocionante no momento do que tentar brincar com o tempo.
Então, se você está lendo esse texto agora, imagino que várias lembranças tenham passado pela sua cabeça, não é? Essa vida toda, pequenos fragmentos do que passamos, nos formam e nos moldam. Te convido, então, a refletir sobre quem você é. Você é esse adulto comprometido, cheio de teorias, qualidades e defeitos. Mas não se esqueça, você também é aquela criança. Aquela. Essa. Se permita olhar para trás e sentir novamente uma grande experiência. Faça algo pela primeira vez, mesmo que já tenha feito, ou queira simplesmente viver aquela sensação mais uma, duas, três vezes.
Se te chamarem de louco, desocupado, coloque a culpa em sua criança interior. Ela não tem grandes preocupações. Só quer permanecer VIVA.
Lembre-se: poucos saberão de muitas coisas, mas todos nós somos capazes de aprender. Não paramos nunca!
Feliz Dia das Crianças. As de ontem, as de hoje, as de sempre.