Para a aposentada Maria Luisa Nunes dos Santos, de 84 anos, o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) é mais do que uma ferramenta de acesso a benefícios sociais. A idosa é integrante do grupo de convivência da unidade Eixo Baltazar — um dos 22 Cras de Porto Alegre. No local, ela encontra lazer, carinho e uma alternativa para o isolamento social, muitas vezes imposto a quem chega à terceira idade.
— Para nós, a referência é muito importante porque nos dá a oportunidade de fazer cursos, assistir a palestras, participar de jogos, colônia de férias. É muito importante para os idosos, principalmente na nossa idade, em que muitas pessoas são sozinhas — diz a viúva, moradora do bairro Costa e Silva.
No último ano, os Cras da Capital apresentaram redução na quantidade de atendimentos. Em 2022, foram 181.090, enquanto em 2020 e 2021, o número ultrapassou os 270 mil atendimentos ao longo de cada um dos anos. Uma das possíveis explicações para a redução é que, durante o período mais intenso da pandemia, a procura por doações de alimentos teve um crescimento, o que não se manteve desde o ano passado. Desta forma, os Cras têm se aproximado novamente do cenário anterior à pandemia: em 2019, ocorreram 120.523 atendimentos. Veja o gráfico abaixo.
No entanto, engana-se quem pensa que os Cras servem somente para atender a pessoas em vulnerabilidade econômica. Apesar de a maior procura ser com relação a temas como Cadastro Único (exigido para acesso a benefícios sociais), vale-transporte, documentação, segurança alimentar e Benefício de Prestação Continuada (BPC), o Cras é uma porta aberta para cidadãos de qualquer classe social, como define a terapeuta ocupacional Joelma Paolazzi, 46 anos, coordenadora do Cras Eixo Baltazar:
— Todo ser humano é vulnerável. A assistência atende desde aquela pessoa que já nasceu em uma família vulnerável até aquele cara que tem pós-graduação e mestrado e que, por alguma questão da sua vida, se perdeu no caminho. A assistência social é utilizada por quem necessita dela.
Com uma experiência de 13 anos na assistência social de Porto Alegre, Joelma explica que o termo vulnerabilidade não está restrito a questões econômicas, mas, também, a aspectos emocionais, por exemplo. Ela já atuou no que classifica como os "três níveis" da assistência social: os Cras, considerados como "postos de saúde", de portas abertas, os Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), que seriam "os hospitais", com atendimentos mais específicos e direcionados, e os abrigos, que seriam as "UTIs", para aqueles cidadãos que estão desprovidos de qualquer estrutura familiar, financeira e social.
O idoso não tem muita mobilidade, tem dificuldade de reivindicar seus direitos, saber o que pode e o que não pode fazer. Então, é muito importante a orientação do Cras
MARIA LUISA NUNES DOS SANTOS
Integrante do grupo de convivência do Cras, na unidade Eixo Baltazar
— Deu uma diminuída nos atendimentos porque a economia melhorou, e as pessoas estão se recolocando no mercado (de trabalho) — analisa a servidora.
Em períodos de retração econômica, os atendimentos dos Cras crescem, em uma relação direta, segundo Joelma, não só pelas consequências financeiras, mas pelo impacto na saúde da população. Os centros, em geral, possuem dois psicólogos e dois assistentes sociais. Caso as demandas fujam da alçada da assistência social, o cidadão é encaminhado para as estruturas de saúde ou para os serviços públicos mais adequados.
Estrutura de atendimentos
Os Cras da Capital atuam com duas linhas principais: o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif) e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV). O primeiro consiste no fortalecimento de família, para prevenir a ruptura de vínculos, promoção de acesso a direitos e melhorias na qualidade de vida. Já o segundo é um serviço realizado em grupos, a exemplo do que Maria Luisa participa, variando de crianças a idosos, com o objetivo de promover a socialização e o pertencimento comunitário.
— Eu, por exemplo, gosto de teatro e de música clássica, mas os espetáculos são sempre à noite. A sociedade tem uma restrição, sim, aos idosos. O idoso não tem muita mobilidade, tem dificuldade de reivindicar seus direitos, saber o que pode e o que não pode fazer. Então, é muito importante a orientação do Cras — reforça Maria Luisa.
Os Cras funcionam de segunda-feira a sexta-feira, das 8h ao meio-dia e das 13h às 17h. Os endereços de cada um podem ser conferidos no site da Fundação de Assistência Social de Cidadania (Fasc).