Em Arroio do Meio, no Vale do Taquari, um advogado e empresário deseja construir em seu terreno no alto do morro São José, a oito quilômetros do centro do município, a estátua de um gaúcho de 40 metros de altura. O monumento seria o ponto alto de um parque tradicionalista com atrações e restaurantes para celebrar a cultura gaúcha.
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O parque de 19,5 hectares exibiria a estátua gigante do gaúcho a uma altura de 464m, com ampla visão para os municípios de Colinas, Teutônia, Fazenda Vila Nova, Estrela, Cruzeiro, Lajeado, Santa Clara e a zona urbana de Arroio do Meio. O investimento previsto é de R$ 50 milhões – não há previsão de início, uma vez que a empreitada está na fase de licenciamento prévio.
— Precisamos ter um parque no Rio Grande do Sul para resgatar o folclore e celebrar a cultura gaúcha, para ver um tiro de laço da arquibancada, vaca mecânica para laçar, ter gineteada, show de rédea, comer churrasco e assistir dança do facão, visitar o museu da cruz missioneira. A intenção é iniciar com monumento e depois construir um open mall — diz o empresário Jerson Zanchettin, idealizador do projeto do Parque do Gaúcho de Arroio do Meio.
Zanchettin assegura que a empreitada não é uma aventura inocente e que a região despertou para seus potenciais. Cita a presença de vales, cascatas, rios e grutas, o encontro de imigração alemã, italiana e portuguesa na gastronomia, o turismo de aventura no viaduto 13, em Vespasiano Corrêa e o roteiro do trem dos vales.
— Esta onda de investimentos vai acontecer no nosso vale. O setor turístico é grande gerador de emprego e de renda. O cavalo está passando encilhado no Vale do Taquari. É uma oportunidade para todos os tipos de investidores, temos o vale dos vinhedos a só 70 km do parque e Gramado, a 170 km — diz o empresário.
Construção também recebe críticas
O projeto, contudo, não é consensual. Um grupo de moradores critica a ideia: um abaixo-assinado com mais de 3,1 mil assinaturas se opõe ao empreendimento. É citado também o risco de impacto ambiental negativo. Uma denúncia feita na internet motivou o Ministério Público a instaurar notícia de fato. Contatada por GZH, a Promotoria informou que está com procedimento para investigar a legalidade ou não do empreendimento. Acrescenta, ainda, que não foi dada licença ainda e que não houve reunião com o prefeito.
— Um dos impactos é a supressão da vegetação, de manejo de 30 mil metros quadrados. Há um impacto visual, provavelmente haverá erosões no processo. Não somos completamente contra porque não tivemos acesso ao projeto como um todo. Não somos contra o desenvolvimento do turismo e de um empreendimento que vá gerar renda e emprego. Mas não temos acesso ao projeto, a comunidade está preocupada porque não se tem transparência no processo — diz o engenheiro ambiental Cleberton Bianchini, integrante da ONG Ecobé.
Responsável pelo projeto, Zanchettin afirma que o parque, ainda em fase inicial, prevê suprimir praticamente a mesma quantidade de mata que o Cristo de Encantado, mas que serão destinados 101 mil metros quadrados de mata densa para preservação permanente. Também será formada uma Unidade de Conservação atrelada à constituição de uma Fundação Cultural e de Proteção Ambiental.
— Teremos aqui um parque com baixo impacto ambiental. Faremos turismo cultural e de natureza, então preservar é fundamental para nós. Nosso projeto será de carbono verde e vamos seguir as normas de sustentabilidade da ONU (Organização das Nações Unidas), gerando centenas e centenas de empregos diretos e milhares de empregos indiretos. Temos, com esse movimento (a ONG), mais convergências do que divergências. É da essência do nosso projeto preservar, queremos oferecer turismo de natureza — declarou o empresário a GZH.
Movimento e melhora na infraestrutura
Outra parcela da população saúda a ideia. O empresário Mickael Breitenbach, 30 anos, dono de uma loja de roupas masculinas no centro de Arroio do Meio, espera que o comércio “bombe” com a inclusão da cidade em uma rota religiosa.
— Acho uma ideia boa. Para nós, quanto mais turista, melhor. A gente tem que valorizar Arroio do Meio. Muita gente vai para outras cidades, vão para Lajeado. Talvez esse monumento ajude a reter pessoas aqui — diz o lojista
Os entraves de um município com pouca oferta de serviços ainda são apontados por outros moradores.
— Tem a questão da infraestrutura para passar. Tem bastante restaurante na cidade, mas não tem hotel — diz a confeiteira aposentada Ligia Meneguini, 72 anos, que caminhava nas ruas locais na manhã chuvosa de terça-feira (13).
A reportagem não conseguiu contato com o prefeito de Arroio do Meio.