São comuns as brigas constantes de ex-casais, muitas vezes expondo desavenças nas redes sociais, como fazem os famosos Luana Piovani e Pedro Scooby. Mas os pais precisam saber que esses ataques não se limitam a atingir um e outro. Segundo psicólogos, também têm impacto direto no emocional dos filhos, mesmo que não sejam eles os alvos das agressões.
— Isso traz danos seríssimos para a criança e o adolescente, porque eles são frutos desse amor. Inconscientemente, as crianças acabam tomando para si essa violência, como se fossem elas as responsáveis por essas agressões — alerta o psicólogo Leonardo Garavelo, professor de Psicologia da Universidade La Salle e especialista em terapia familiar e conjugal.
Ao crescer debaixo do fogo cruzado dos ataques promovidos pelos pais, a criança acaba tendo dificuldade de estabelecer vínculos afetivos seguros e saudáveis com as demais pessoas. Segundo Garavelo, a tendência é de que, ao se tornar adulta, reproduza esse padrão de relacionamento conturbado que foi aprendido dentro de casa:
— A criança perde o chão, a base. Acaba tendo um psicológico mais frágil, torna-se irritável, usando da raiva e da violência, e terá baixa tolerância à frustração. Futuramente, vai se tornar um adulto que vai buscar relações inspiradas na do pai e da mãe, na do avô com a avó. Esse tipo de relação afetiva baseada na violência costuma ser reproduzida de geração a geração.
Alienação parental
Em alguns casos, as brigas de ex-parceiros se configuram em alienação parental. É quando a mãe ou o pai falam tão mal do ex-companheiro na frente da criança que acaba destruindo a imagem que o filho tem do progenitor ou progenitora, explica a psicóloga Valéria de Oliveira Thiers, professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
— Alienação parental é quando um dos pais ataca diretamente a figura do outro perante os filhos, e isso vai destruindo a figura daquele pai ou daquela mãe para as crianças. Como os filhos vão desenvolver um apego seguro com aquele pai ou aquela mãe que está sendo mal falado se escuta o tempo inteiro que a pessoa é ruim, que é má? — questiona.
Para Garavelo, é importante a pessoa avaliar se não está sendo injusta na forma como trata o ex-parceiro, independentemente dos motivos que teve para se separar.
— Geralmente, a alienação parental está relacionada ao orgulho, ao ciúme, à possessividade, até mesmo à ganância. O sujeito acaba usando o filho para atingir o ex-companheiro. Mas que tipos de afetos escolhemos para nossas vidas? — reflete.
Justiça
Casos de ex-companheiros que vivem em desavença e expõem essas rusgas nas redes sociais são mais comuns do que se imagina, garante a advogada da família Michele Rosendo. Isso pode ser entendido como difamação e parar na Justiça, gerando dano cível.
— Não acontece só com celebridades. É algo muito comum, porque as pessoas querem destruir a imagem do ex-cônjuge perante a família e os amigos. O que vai caracterizar um dano é a particularidade de cada situação. Há casos de ex-parceiros que mentem sobre o outro nas redes sociais e difamam, mas também há casos de mulheres que vão às redes sociais, sem citar o nome do ex-marido, para compartilhar a dor da decepção. Nesse caso, o viés é de compartilhar a dor e não haverá direito à indenização — pondera.
Em situações mais graves de alienação parental, o genitor que constantemente desqualifica o ex-parceiro para o filho, inclusive adotando medidas para impedi-los de conviver, pode até perder a guarda da criança.
— Conforme a gravidade da alienação parental, as penalidades vão se agravando. Pode ter desde aplicação de multa, que é mais leve, até perda da guarda da criança. Mas é um processo desgastante, porque as crianças terão de ser ouvidas por psicólogos e até pelo juiz. É um abalo emocional muito grande para a família — diz.
Afinar o discurso
Um dos pontos de maior conflito entre ex-casais tem a ver com as regras que cada um vai adotar quando estiver com o filho. Enquanto a mãe pode não querer que a criança use o celular, por exemplo, o pai pode entender que não há problema em apresentar o pequeno à tecnologia.
Pelo bem do filho, é necessário que os dois sentem, conversem e cheguem a um acordo.
— Os valores e as regras precisam ser combinados. Se a mãe diz que não pode usar o tablet e o pai vai lá e libera o tablet, a criança entende que não há uma norma, uma lei. E essa norma é fundamental para a constituição do psiquismo da criança. O próprio Freud falava que, para o indivíduo ser introduzido na cultura de uma sociedade, ele precisa entender que existem leis e regras, que existem combinações que vão ajudá-lo a viver nessa sociedade — explica o psicólogo Leonardo Garavelo.
Pode ser difícil manter uma boa relação com o ex-parceiro ou ex-parceira, mas é necessário baixar as armas em nome da criação dos filhos, frisa a psicóloga Valéria de Oliveira Thiers. Até porque os casais podem se separar, mas permanecerão ligados para sempre, justamente por causa das crianças.
— Às vezes não é possível ser amigo do ex, mesmo que a pessoa queira, mas ela precisa entender que o ex ou a ex seguirá fazendo parte da sua vida, porque é pai ou mãe de seus filhos. Não existe ex-pai nem ex-mãe. Eles podem manter uma relação de distância, mas precisa ser uma relação de respeito em relação aos filhos — reforça.