A qualidade das guaritas onde trabalham os guarda-vidas é um desafio para que o Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS) e as prefeituras municipais garantam monitoramento dos banhistas nas praias do Litoral Norte, assim como o número de profissionais trabalhando. Nesta primeira semana do ano, ainda há regiões sem guaritas instaladas e com estruturas sem condições adequadas de funcionamento.
De acordo tenente-coronel Isandré Antunes, chefe de operações do CBMRS, das 209 guaritas distribuídas pelas praias do Litoral Norte, 190 estão em condições adequadas. As outras 19 estão sendo reconstruídas — os dados são da tarde de quarta-feira (4). Algumas delas são do modelo antigo, atualmente em extinção, com sustentações de concreto e corredores precários nas laterais.
O chefe de operações não divulgou uma lista com a localização exata das estruturas com problemas pois, segundo ele, as informações mudam a cada dia. Porém, afirma que a maior concentração de guaritas em reconstrução está em Cidreira, Quintão, Balneário Pinhal, Xangri-Lá e Nova Tramandaí (leia abaixo mais informações sobre cada local).
— O acordo com as prefeituras é de que, até o dia 10 de janeiro, todas as guaritas estariam de pé. Até agora, os prazos têm sido cumpridos e o número de locais em reconstrução já diminui desde o início da semana — afirma Antunes.
O tenente-coronel destaca, ainda, que os locais onde as guaritas não estão em condições de uso são monitorados na modalidade volante, com guarda-vidas circulando eventualmente ou chamados em caso de emergência.
— A partir de Capão da Canoa, estamos com todas as guaritas reestruturadas, no padrão que tem que ser — aponta.
Quintão
Entre o Balneário Quintão, em Palmares do Sul, e o Farol da Solidão, há um grande trecho sem guaritas instaladas. Durante a visita da reportagem de GZH ao local no domingo (1º), foi possível conferir uma considerável extensão sem a presença das estruturas, na altura da Rua Dom Pedro I.
Moradora do local há sete anos, Ivone Rosa Reis, 53, afirma que uma equipe volante passa pelo local às vezes, mas não há guarda-vidas que fiquem de forma permanente nas proximidades atualmente.
— A gente fica preocupada com as crianças, então temos que sentar quase na beira do mar para poder cuidar, porque é um risco. A gente nunca sabe se o mar está bom, se está calmo, não tem as bandeiras que eles botam, então, é bem crítico. A gente vem, mas fica com uma preocupação, não pode deitar e ter um lazer, tem que ficar atenta. Imagina se uma criança se afoga, não tem o que fazer — relata, destacando que antigamente tinham guaritas naquela região.
De acordo com o tenente-coronel do CBMRS, o trecho ficou sem guaritas nesta temporada, mas os guarda-vidas procuram cobrir as áreas mais distantes, de Quintão até o Farol, com o modelo volante. Antunes também afirma que a prefeitura de Palmares do Sul indicou que vai instalar as estruturas até 10 de janeiro.
O chefe de gabinete do município, Lucas Lima da Silveira, explica que a prefeitura está instalando as guaritas conforme o Estado disponibiliza guarda-vidas para atuar na região. Ele comenta que essa decisão foi tomada porque, em anos anteriores, houve muito vandalismo e depredação das estruturas:
— Não é que não tenha guaritas, é que não as instalamos porque não tem efetivo para fazer essa cobertura. Então, até para não dar uma falsa segurança para o banhista, que pode ver a guarita e achar que tem guarda-vidas lá, e para garantir a integridade das guaritas, nós não estamos instalando. Se mandarem outros profissionais, nós instalamos outras em outras regiões.
Segundo Silveira, Palmares do Sul tem uma cobertura de 12 guaritas na extensão da praia, sendo que, atualmente, somente sete estão instaladas (na área onde se concentra o maior número de banhistas, que é no centro de Quintão). Ele aponta que há previsão de vir mais dois guarda-vidas para a região e, caso seja confirmada, será instalada mais uma ou duas estruturas de madeira.
— A Rua Dom Pedro fica em um bairro mais afastado do Centro, então ainda não chegamos lá, pois não tem efetivo. A região do Farol é mais afastada e mais utilizada por pescadores. Temos que ter esse cuidado: já que tem limitação para a cobertura com os profissionais, estamos instalando as guaritas onde tem mais movimento — enfatiza.
Cidreira
Já em Cidreira, a reclamação dos veranistas é sobre guaritas sem manutenção, especialmente em Salinas. Na visita à beira da praia, a reportagem de GZH encontrou a guarita 173 com uma placa de desativada. A estrutura antiga possuía uma escada improvisada, estava sem uma das telhas e apresentava danos em sua base de concreto.
Apesar da placa de desativada, a guarita contava com a presença de guarda-vidas no domingo (1º). Conforme o tenente-coronel Antunes, todas as estruturas foram ativadas no último final de semana, em função do Ano-Novo:
— Agora, nesta semana, aquelas que não estão oferecendo segurança para os guarda-vidas ficam desativadas.
O secretário de Obras e Meio Ambiente de Cidreira, Flávio Leandro Zanoni de Andrade, informa que o município tem 24 guaritas em sua orla, sendo que 19 estão operando normalmente e cinco estão desativadas pela falta de efetivo. Algumas ainda estão passando por pequenos reparos, destaca, mas seguem em condições de atender os veranistas e moradores.
— Cerca de 70% das nossas guaritas têm de quatro a cinco anos, ou seja, não são guaritas velhas. Nós estamos desativando aquelas guaritas que têm 30 e poucos anos, que são de concreto, para substituí-las. Também estamos planejando para o verão de 2024 uma parceria público-privada para que as empresas possam nos ajudar a substituir todas as guaritas, para tirar essas de concreto e fazer tudo em um padrão só — garante o secretário.
Segundo o prefeito de Cidreira, Elimar Tomaz Pacheco, as guaritas de concreto já deveriam ter sido retiradas, mas faltou tempo para fazer novas estruturas de madeira nesta temporada, em função de problemas de aquisição de materiais. Em relação aos postos de madeira, que já estão de acordo com o padrão exigido pelo Corpo de Bombeiros, ele afirma que 90% passaram por reparos solicitados pela corporação, como troca do telhado, melhoria do fundo do assoalho e pintura.
— Essa guarita 173, que é a última de Salinas, foi construída em 1998 e no verão passado já estava desativada porque não tinha efetivo, e também não passou por reforma. Inclusive, começamos a reformá-la, mas os Bombeiros disseram que não tinham gente para colocar lá, então se interrompeu o trabalho — aponta o prefeito, comentando que as guaritas de concreto devem ser retiradas após a temporada de verão.
Pinhal
Em Balneário Pinhal, a guarita 202 foi removida. Sem a estrutura, a faixa de areia ficou com uma área significativa sem monitoramento, entre os postos 201 e 203.
O casal Alissom Charqueiro, 22 anos, e Nadine Lacerda, 21, de Porto Alegre, estava com a filha de seis na beira da praia de Pinhal no domingo (1º) e reparou que as guaritas estavam muito distantes uma da outra. Eles afirmam que a falta de uma estrutura mais próxima causa preocupação, especialmente porque a área estava com bastante buracos.
— No sábado (31), ficamos mais perto do Centro e tinha uma placa avisando que tinha buracos no mar, daí nos afastamos do local. A gente sempre procura ficar perto das guaritas e ficar atento aos avisos – explica Alissom.
Conforme a Secretaria de Turismo de Balneário Pinhal, a guarita 202 já está sendo reconstruída e deve ser instalada na praia até o dia 10 de janeiro.
Ao total, a praia conta com 15 guaritas na beira-mar, e uma na Lagoa de Rondinha, com 33 guarda-vidas em atuação. Apenas a 202 não está em funcionamento. O tenente-coronel do CBMRS afirma que, até a construção da guarita de Pinhal, os guarda-vidas estão cobrindo a área sem estrutura de forma volante.
Tramandaí e Xangri-Lá
Ao caminhar pela beira de praia de Tramandaí, é possível observar que as guaritas apresentam condições melhores em comparação às estruturas das cidades mais ao sul do Litoral Norte. Entretanto, segundo Antunes, o município ainda precisa ajustar alguns postos de trabalho.
De acordo com o secretário de Segurança da cidade, Claudiomir da Silva Pedro, 31 guaritas de Tramandaí foram revitalizadas durante os meses de novembro e dezembro de 2022. Outras duas estão sendo restauradas, mas ele afirma que estão em condições de serem utilizadas. Das 33 guaritas, 16 estão localizadas em Tramandaí e 17 na Zona Sul.
— Quem solicita novas guaritas é o Corpo de Bombeiros. Só instalamos novas se tiver previsão de guardas-vidas escalados para atuação — defende o secretário.
Em Xangri-Lá, segundo a prefeitura, todas as 25 guaritas estão sendo restauradas. Até a última quarta-feira, sete já estavam renovadas e a previsão é de que mais oito sejam entregues até esta quinta-feira (5). As 10 faltantes devem ser recolhidas e finalizadas até a próxima semana.
O secretário de turismo de Xangri-lá, Cristovão Wolff, afirma que as áreas da praia que ainda não tiveram a guarita reformada seguem funcionando, uma vez que as estruturas antigas continuam no local.
Padrão exigido desde 2018
As guaritas de guarda-vidas precisam estar dentro de um padrão exigido desde 2018 pelo CBMRS: devem ter no mínimo 1,80 metro de altura, sustentação de madeira, proteção contra sol, vento e chuva (teto e paredes), avanço na parte dianteira de no mínimo 50 centímetros para servir de plataforma de observação e corredores nas laterais para os guarda-vidas melhor se locomoverem, também de no mínimo 50 centímetros. As guaritas são de responsabilidade dos municípios, mas só costumam ser substituídas quando são danificadas pela maré alta ou pelo vento.