Símbolo da cidade de Imbé, no Litoral Norte, a escultura de um boto foi removida da barra do Rio Tramandaí pela prefeitura na última terça-feira (27). A obra, de três metros de altura e cinco de largura, estava no local, que também é chamado de Guia Corrente, desde que foi construída, no início da década de 1990.
De acordo com a prefeitura de Imbé, a retirada se deu pelo fato de que o monumento estava em um lugar visualmente poluído — no entorno do espaço onde ficava a escultura há restaurantes, quiosques e vagas de estacionamento. A gestão municipal afirma que a obra será reconstruída na rótula ao lado da Praça Lourdes Rodrigues, na beira-mar da cidade. Entretanto, a artista plástica responsável pela peça, Cláudia Stern, 78 anos, garante que não foi consultada sobre a remoção.
O secretário municipal de Comunicação e Transparência da cidade, Leandro Luz, informa que o prefeito de Imbé, Ique Vedovato, recebeu a artista em seu gabinete nesta semana e que a mesma teria concordado com a retirada e construção em um novo local.
— A prefeitura está fazendo a revitalização do Guia Corrente e as obras iniciaram nesta semana, quando a escultura foi retirada. Quando fomos remover, ela quebrou, e a artista ficou de passar o projeto para a prefeitura para que façamos a reconstrução. Há cerca de quatro meses, o secretário de Governo, Edinho Quadros, já havia comunicado a ela sobre essa decisão. O local onde a obra será reconstruída é muito mais adequado e dará mais destaque ao monumento — explica Luz.
Claudia afirma que a escultura era formada por três peças de concreto, pintadas na cor branca, que formavam o boto. Segundo a artista, motoristas costumavam estacionar próximo ao monumento, às vezes até encostando o veículo na obra. Após a retirada das peças na terça-feira (27), o estacionamento que ficava ao lado foi “alargado” pela prefeitura, até as proximidades da calçada.
O boto foi construído a partir de um concurso público específico para a escultura do animal símbolo de Imbé, em 1992, vencido por Claudia. Ela conta que teve a ideia porque o Rio Tramandaí é o habitat dessa espécie e é onde os animais interagem com os pescadores locais, apontando os cardumes de tainhas:
— Bolei essas três paredes em que a soma delas projetava a figura do boto no habitat dele. Não existiam esses restaurantes. Então, a visão das peças formava o boto e as pessoas enxergavam o boto com o rio. Eu acompanhei a execução do projeto junto aos arquitetos.
Anos depois, conforme a artista, a prefeitura pediu para replicar a escultura, em um tamanho maior, para colocá-la na entrada de Imbé. Assim, Cláudia concordou e forneceu os cálculos da obra. Na época, afirma que alertou que o monumento perderia um pouco do seu significado, já que não teria o Rio Tramandaí ao fundo, como resposta, teve a garantia de que o boto original seria conservado.
Na terça-feira, a artista diz que estava passando pelo local, já que passa todos os verões em Imbé, desde sua infância, quando viu uma máquina removendo a escultura.
— Fui conversar com o prefeito e ele me disse que iriam refazê-la. Questionei por que não retiraram inteira para colocar em outro lugar e ele afirmou que a parte de cima havia quebrado, mas que daqui dois anos iriam construir de novo — relata a escultora, que assina 62 obras públicas, sendo mais de 40 em Porto Alegre.
O secretário de Comunicação e Transparência informou, contudo, que a prefeitura ainda não tem um cronograma para a reconstrução.