A construção de uma nova ponte entre Imbé e Tramandaí, no Litoral Norte, iniciou a fase da elaboração de um projeto para identificar os impactos da construção da travessia. O processo consiste na produção de estudos ambientais para obtenção de licenças junto à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), órgão responsável por autorizar esse tipo de construção no Rio Grande do Sul.
O objetivo é criar uma opção à Ponte Giuseppe Garibaldi, atualmente a principal ligação entre os municípios. A ideia do novo empreendimento recebe reclamações de especialistas, que temem prejuízos ambientais na região.
Em janeiro deste ano, governo estadual anunciou que destinaria R$ 40 milhões para a obra. Uma empresa receberá R$ 420 mil para conduzir o estudo de impacto em dois locais. O trabalho começou em outubro e tem 180 dias para ficar pronto. Os recursos para esse levantamento são do Ministério do Desenvolvimento Regional, que destinou R$ 2,7 milhões por indicação de emenda parlamentar da bancada gaúcha.
Entre outras informações, a empresa contratada apresentará um relatório técnico com identificação dos impactos ambientais da nova travessia, com plano de controle ambiental com propostas de medidas mitigadoras e compensatórias aos impactos identificados.
Depois de concluído o estudo, a Fepam avaliará se será possível instalar a ponte em um dos dois locais indicados e/ou indicará quais mudanças deverão ser feitas para se adequar às regras. Além disso, o órgão estadual pode vetar a obra nos dois pontos.
Na primeira fase do projeto, chamada de plano funcional, foram identificados dois locais que poderiam receber a instalação da nova estrutura entre os municípios. O primeiro é a de uma travessia binária que ligaria a Avenida Nilza Godoy, em Imbé, à Avenida Beira Rio, em Tramandaí. O valor estimado é de R$ 40 milhões, na via que teria, ao todo, 180 metros de extensão. Esse traçado é o que se enquadra no valor disponível para a construção do empreendimento garantido por verbas estaduais.
A segunda opção compreende a construção da travessia por dentro da Lagoa do Armazém, que conectaria a Avenida Porto Alegre, em Imbé, à Avenida Rubem Berta, em Tramandaí. A via tem traçado de 1,6 quilômetro, e previsão de investimento de cerca de R$ 140 milhões.
— As pontes atuais (faz referência ao complexo da Ponte Giuseppe Garibaldi) oferecem um problema pela deterioração, pouca capacidade de carga e trazem transtornos ao trânsito, engarrafamentos homéricos. É um problema para o qual estamos tentamos buscar uma solução — diz Luis Henrique Vedovato, prefeito de Imbé.
Conforme o chefe do Executivo, o projeto da nova ponte foi dividido em três partes: o levantamento dos pontos onde poderiam ser instaladas as estruturas, o licenciamento ambiental (que está em andamento) e, por fim, ocorrerá licitação, caso a construção seja autorizada pela Fepam. No entanto, segundo o prefeito de Imbé, antes, a população dos dois municípios será ouvida sobre a elaboração da nova via.
— Todo o processo está sendo conduzido com responsabilidade. Há muitas falácias de pessoas com interesse no assunto, mas sabemos que isso faz parte do processo. Todas as obras dessa magnitude enfrentam esse tipo de dificuldade. Em um primeiro momento, os ambientalistas acham que a ponte será feita sem licenciamento, sem cuidado com o meio ambiente, mas isso não acontece, nem o governo federal, nem o Estado permitem — comenta Vedovato.
Cuidado com o meio ambiente
A instalação de uma nova ponte entre Imbé e Tramandaí causa preocupação entre pesquisadores que estudam a pesca cooperativa feita entre pescadores e botos na Barra do Rio Tramandaí, que separa as duas cidades do Litoral Norte. Conforme cientistas, a construção da estrutura impactará o habitat dos botos que vivem ali, o que pode acabar com a interação entre animais e pescadores. Por isso, eles defendem que estudos sejam conduzidos antes de qualquer investimento.
Marlise Reinehr Dal Forno, integrante do Projetos Botos da Barra e Camp Oceano, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que impactos serão notados em qualquer local de instalação. No entanto, ela diz que se a ponte atual, a Giuseppe Garibaldi, fosse revitalizada ou construída uma nova no local onde ela já está instalada, a influência da estrutura no meio ambiente seria menor.
— Uma ponte instalada em qualquer outro local que não o atual tem o potencial de espantar os botos, que pescam de forma colaborativa com os pescadores artesanais da barra, alterar a dinâmica das aves migratórias que descansam na barra, interferir no ciclo de reprodução de quatro espécies de peixes que ali habitam e reduzir a atividade pesqueira — resume.
A pesquisadora diz não ser contrária à instalação da estrutura, considerada por ela uma obra "necessária e importante" para a região. No entanto, pondera: é preciso que haja diálogo entre a comunidade científica, os tomadores de decisão e as pessoas envolvidas direta e indiretamente na construção da ponte.
— E que, acima de tudo, sejam realizados e posteriormente respeitados os apontamentos de cunho técnico e científicos apresentados nos estudos que devem, indiscutivelmente, ser realizados antes ser tomada qualquer ação — acrescenta