Barras, argolas e paralelas são palavras que, depois de algumas décadas, voltaram a fazer parte do vocabulário de um grupo de ex-ginastas. Após anos sem praticar o esporte, eles se reuniram para voltar a treinar com o intuito de participar da 1ª Copa MasterGin do Rio Grande do Sul, uma competição voltada para masters de ginástica, como são conhecidos os veteranos acima de 35 anos.
A copa ocorre no dia 16 de outubro, no Ginásio do Centro Estadual de Treinamento Esportivo (CETE), em Porto Alegre, das 14h às 18h. Este sábado (8), porém, foi dia de ensaiar no treino de pódio.
A ideia de criar o primeiro campeonato estadual para masters veio depois do 1º Meeting Master Siegfried Fischer, encontro nacional de masters de ginástica que ocorreu em novembro do ano passado, na Capital. Organizado pela Federação de Ginástica do Rio Grande do Sul (FGRS) e batizado com o nome do fundador da própria FGRS e da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), o evento reuniu mais de 40 ginastas, de 35 a 75 anos, de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.
— Foi um evento meio aventureiro, então tivemos muita cautela. Alguns esportes focam em pessoas com mais idade, mas a ginástica precisa de uma estrutura física e regulamento adequado. Fomos adaptando e foi dando certo. Era muito mais sociocultural, digamos assim, do que competitivo — afirma o presidente da FGRS, João Carlos Oliva.
Entre os participantes, estava a professora de ginástica artística Soraia Gonçalves, 61 anos, que estava há quase quatro décadas longe dos holofotes de uma apresentação própria.
— Foi muito emocionante voltar, competir e rever pessoas que eu não via há muito tempo — relata.
Soraia praticou ginástica dos seis aos 20 anos de idade, quando já estava na faculdade de educação física e já tinha começado a ensinar.
— Voltei a treinar no ano passado, para competir no Meeting Master — comenta.
Depois do evento, surgiu o Movimento MasterGin-RS, criado para resgatar e valorizar a trajetória dos ex-atletas da modalidade. Em menos de um ano, a iniciativa reuniu interessados, montou um comitê técnico e estruturou, então, a 1ª Copa MasterGin-RS.
— Pensamos em um regulamento bem inclusivo, para que todos possam participar. Não adianta utilizar o regulamento formal porque não somos mais tão jovens e isso afasta as pessoas — explica Soraia, que faz parte do comitê técnico.
As adaptações feitas nas regras da competição incluem a opção de adicionar colchonetes mais grossos ou minitrampolins para os saltos, por exemplo. O atleta terá liberdade para escolher se irá realizar os movimentos convencionais ou adaptados, sem alterações nas pontuações.
— Temos dois programas, o Elite e o Mastershow. O primeiro é para quem quer competir, nos aparelhos. E o segundo é para apresentações, para quem quer estar no meio, mas não quer competir — esclarece Soraia.
Ao total, a lista de inscritos conta com 37 veteranos, de 35 a 74 anos. Desses, 15 são da divisão Elite e 17 são do Mastershow.
Retorno dos ginastas olímpicos
Atualmente, as ginásticas artística, rítmica e de trampolim são as três modalidades reconhecidas pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB). A primeira costumava ser conhecida, até umas décadas atrás, como ginástica olímpica. E é assim que o empresário Sérgio Stringhini, 53, define sua carreira no esporte.
— Eu comecei a fazer ginástica olímpica em 1979 e parei em 1992 ou 1993. Depois disso, fui técnico de ginástica olímpica até os meus 40 anos — conta, relembrando que, quando descobriu sobre o 1º Meeting Master, logo se engajou e voltou a treinar, depois de 30 anos sem praticar o esporte. — Me inscrevi no campeonato nacional, no ano passado, e fiz uma apresentação completamente inédita — acrescenta o empresário.
Segundo o COB, o solo da ginástica artística é uma série de exercícios realizado sobre um tablado montado em uma estrutura com molas e espumas. A regra é clara: mulheres se apresentam com música e homens, sem.
— Resolvi inovar e fiz um solo com música e coreografia. Foi um sucesso — lembra, feliz, Stringhini, que está treinando três vezes por semana para a apresentação na 1ª Copa MasterGin-RS.
Diferentemente de Stringhini e Soraia, que continuaram em contato com o esporte, a administradora Rita Nunes, 49, estava há 35 anos longe da ginástica artística. Ela fez ginástica artística dos sete aos 15 anos. Na época, treinava no CETE, onde ocorrerá a Copa.
— Amo fazer ginástica. Não sou mais a mesma, mas isso não importa, o importante é outra coisa. Saímos do objetivo de competição, de ser o melhor. E agora é apresentar para as pessoas. A ginástica artística se tornou um hobby agora, para o corpo, a saúde e para as velhas lembranças. É uma forma de lazer que eu não tinha mais. A ginástica artística é um esporte muito especial — conta ela.
Rita e outras ex-ginastas do CETE montaram um grupo chamado Geração G.O., uma brincadeira que refere ao fato de todas as participantes serem da época em que a ginástica artística se chamava ginástica olímpica. O time, que começou pequeno, hoje já reúne mais de 20 veteranas que treinam juntas três vezes por semana. Rita e as meninas do Geração G.O. também são presença confirmada na Copa.
Qualidade de vida
O objetivo do Movimento MasterGin-RS é, de acordo com Soraia, valorizar a trajetória de ex-ginastas. Mas, mais que isso, é uma forma de promover qualidade de vida entre pessoas nestas faixas etárias. Ela conta que, quando voltou a praticar, notou que o corpo precisava de reforço muscular e melhor condicionamento físico. Desde então, tem cuidado ainda mais da saúde para poder praticar.
Já Rita, que ficou três décadas longe do esporte, confessa:
— Quando se falava de ginástica artística, se falava em terminar a carreira com 20 e tantos anos. Então, só retornei agora com essa grande oportunidade que o Movimento está nos proporcionando. Essa é a minha terapia.
Segundo o médico geriatra Virgílio Olsen, a iniciativa é muito positiva porque o retorno ao esporte pode trazer muitos benefícios, desde o condicionamento físico, passando pela prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares, até a parte cognitiva.
— O exercício físico tem uma questão social muito importante, a pessoa acaba se envolvendo na sociedade e em um grupo de amigos que, a médio e longo prazo, é muito positivo para o processo de envelhecimento — defende.
Ele chama atenção, porém, para o fato de que praticar atividades físicas depois de algum tempo sem ter contato pode causar lesões.
— Antes de uma atividade competitiva, é importante fazer uma avaliação médica para ver se pressão está em dia ou para ver se não tem nenhuma doença cardíaca compensada. No dia da competição, é bom manter a hidratação e uma alimentação balanceada — aconselha.
Ele enfatiza, também, que competições podem fazer com que participantes queiram superar limites e que, nesse caso, seria saudável ter o cuidado de não fazer nada além do que se pode.
O calendário dos veteranos da ginástica artística deve seguir cheio nas próximas semanas, já que a segunda edição do encontro nacional, dessa vez com o nome 2º Meeting Master Raimundo Blanco, está marcada para os dias 25 e 26 de novembro. O evento será realizado na cidade de Santos, no litoral de São Paulo.
Produção: Yasmim Girardi