Por Fernando Goldsztein
Empresário, fundador do mbinitiative.org
Existe um lugar idílico onde tudo foi cuidadosamente concebido para diversão, socialização e bem-estar. Um local que já fez parte da vida de todos nós e de onde temos muitas memórias afetivas. É amplamente utilizado no mundo inteiro, em países de Norte a Sul e de Leste a Oeste. É encontrado junto a qualquer aglomeração urbana. Pode ser sofisticado e moderno ou extremamente simples e rudimentar.
Neste lugar, o acesso é gratuito e pouco importa a classe social, a cor da pele, o credo ou a religião. Neste lugar, os bens materiais não têm nenhum valor e ninguém se preocupa com as aparências. Todos têm direitos iguais. Neste lugar, não existe radicalização política e nem mesmo esquerda ou direita. Neste lugar, não se vive para fazer posts nas redes sociais. Não existe mundo virtual, avatares ou metaverso. Neste lugar, as pessoas se comunicam, se tocam, se abraçam. Neste lugar, a vida flui alegre, descontraída, leve e, mais do que tudo, inocente.
Este lugar é o playground. Onde não pode faltar o tradicional escorregador, a gangorra, o gira-gira, o balanço e a caixa de areia. É, sem dúvidas, uma das grandes invenções da humanidade. Nenhum pai ou mãe discordará dessa afirmação. Seu inventor foi o pedagogo alemão Friederich Froebel, no início do século 19. Ele tinha ideias revolucionárias para a época. Dizia que “a brincadeira é a expressão máxima do desenvolvimento humano na infância, pois expressa o que está na alma da criança”. Sua concepção sobre o aprendizado por meio da brincadeira se espalhou por todo o mundo. Froebel ainda cunhou a expressão kindergarten (“jardim de infância”) numa alusão às crianças que seriam plantinhas a serem cuidadas pelo professor, o jardineiro.
Porém, foi somente com o advento da motorização, ou seja com a popularização dos carros, que foi dado o grande impulso para os playgrounds. O presidente norte-americano Theodore Roosevelt se pronunciou sobre o tema em 1907: “As ruas das cidades não são adequadas para as crianças brincarem em função do perigo dos carros… Isso significa que a partir de agora os playgrounds devem ser distribuídos por todas as cidades americanas de forma que estejam a uma curta distância (walking distance) de todos as meninas e meninos do país”.
O playground é o lugar onde as crianças são encorajadas a tomar os seus primeiros riscos, balançando-se, cada vez mais forte, e escalando, cada vez mais alto. Deparar com o desconhecido e experimentar a sensação de incerteza faz com que a criança tenha uma melhor compreensão dela mesma e do mundo que a cerca. Essa exposição ao risco e ao desafio é fundamental para o seu desenvolvimento e maturidade. Para a maioria das crianças é o horário favorito. Funciona como um alivio das pressões de aprendizado ao longo do dia. Elas sabem que o tempo ali é o tempo que elas tem para elas mesmas.
Temos dois filhos com diferença de sete anos. Portanto, quando um estava saindo dos plays, o outro chegava. O que para muitos é um problema, pois preferem “resolver tudo de uma vez”, para nós foi uma dádiva. Tivemos a oportunidade de curtir, por muitos anos, este lugar tão corriqueiro e, ao mesmo tempo, tão mágico e importante na formação das crianças.
Torcemos para que a nova geração, que povoa hoje os playgrounds do mundo, cresça mais tolerante; não resolva as suas divergências através das guerras; se empenhe para reduzir a pobreza e, por último mas não menos importante, cuide melhor do nosso planeta.