Acupuntura, fisioterapia, laserterapia. Estes são alguns dos tratamentos utilizados por muitas pessoas para a recuperação física e alívio da dor. Estas mesmas técnicas também já podem ser encontradas para o atendimento de cães e gatos em Porto Alegre. E não é só isso. Atualmente, os animais de estimação também são atendidos por veterinários comportamentais — especialidade que pode ser comparada a um psiquiatra para os humanos — e utilizar equipamentos de saúde de última geração.
Dados da prefeitura de Porto Alegre apontam que, até julho de 2022, foram emitidos 104 alvarás para clínicas, consultórios e hospitais veterinários. O número é três vezes maior do que o registrado em 2020, por exemplo. Aliado a esse crescimento, novos mercados ligados ao setor não param de surgir, como os planos de saúde para cães e gatos.
A evolução dos tratamentos veterinários em Porto Alegre pode ser considerada um fenômeno recente, conforme os próprios profissionais da área. Práticas como a que une fisioterapia e a acupuntura começaram a ser difundidas por volta de 2005 na Capital. Mas, na época, contavam com poucos profissionais habilitados e eram pouco conhecidas. Nos últimos cinco anos, porém, o número de veterinários capacitados para este tipo de atendimento cresceu, assim como as clínicas especializadas.
Atuando há 13 anos no setor, a médica veterinária Yumi Tanaka tem como base de trabalho a união das técnicas. Assim como para os humanos, a acupuntura tem como objetivo principal o alívio da dor, com propriedades analgésicas e anti-inflamatórias. Já com a fisioterapia, além da redução da dor, há o desenvolvimento de exercícios que auxiliam no movimento dos animais.
Este tipo de tratamento vendo sendo utilizado tanto para cães e gatos que passaram por cirurgias quanto para aqueles que não tem indicação para o procedimento, mas precisam de melhoria na qualidade de vida – como os animais com problemas ortopédicos, de coluna e artrose.
— Cada paciente é único. Temos pacientes que precisam de auxílio por algum trauma ou cirurgia e outros que já são geriatras. Estes enfrentam problemas semelhantes aos nossos quando ficamos velhos. Os bichinhos estão vivendo mais e, agora, temos mais condições de melhorar a qualidade de vida deles — destaca Yumi.
Com dor na lombar e com diagnóstico de uma tendinose, o cachorro da raça cavalier king Fuzzy, oito anos, realizava mais uma sessão de acupuntura e fisioterapia no dia da visita da reportagem. Próximo a ele, recebia atendimento Baby, uma cadela sem raça definida, de sete anos, que passou por uma cirurgia de hérnia de disco e busca recuperar um pouco do movimento das pernas traseiras com acupuntura, fisioterapia e laserterapia.
Cada paciente é único. (...) Os bichinhos estão vivendo mais e, agora, temos mais condições de melhorar a qualidade de vida deles.
YUMI TANAKA
Médica veterinária
Tutora de Fuzzy, a adestradora e advogada Astrid Fetter, 36 anos, conta que o cão começou a apresentar os primeiros sintomas em 2020 e, desde então, vem fazendo as sessões. Sempre pesquisando novidades, ela busca saber quais tratamentos podem ser usados para melhorar a qualidade de vida do bichinho, que ela considera como um filho.
— É bem engraçado, até. Os tratamentos muitas vezes são testados em animais para, depois, serem usados em humanos. E, agora, essas técnicas voltam a ser aplicadas em outros animais — analisou.
Já a tutora de Baby, a economista Marisol Teles, 58 anos, acabou conhecendo os tratamentos após a indicação do veterinário, em função das necessidades da cachorrinha.
— Estamos já na segunda sessão. Eu não imaginava toda essa tecnologia para a reabilitação dos animais. Fui descobrindo como é ao longo do processo da Baby — revelou.
Até equipamento usado por Neymar está disponível
Avanços tecnológicos para tratamento de cães e gatos podem ser encontrados em diferentes clínicas de Porto Alegre. Para atrair o público e aprimorar o trabalho, a busca por inovações não para.
Em uma clínica localizada no Bairro Partenon, uma das possibilidades de tratamento para reabilitação dos animais é um equipamento chamado Sistema Super Indutivo (SIS). A máquina ganhou fama em 2018, quando o jogador de futebol Neymar Jr. utilizou a mesma técnica na recuperação de uma fissura no quinto metatarso do pé direito.
A tecnologia do baseia-se na criação de um campo eletromagnético de alta intensidade que influencia positivamente o tecido humano — agora, também felino e canino. Os principais efeitos terapêuticos incluem alívio da dor, consolidação de fraturas, relaxamento e estimulação muscular e mobilização articular.
Conforme o médico veterinário Ricardo Pacheco, a aquisição do SIS foi pensada para trazer mais eficiência nos resultados, aumentar o número de animais atendidos em um dia e garantir mais altas hospitalares.
— Por semana, atendemos, em média, 70 animais, entre cães e gatos. Acredito que conseguiremos mostrar o potencial deste equipamento na veterinária. Em 15 dias, quando começamos a trabalhar com ele, já tivemos casos que superaram as nossas expectativas, de pacientes que não vinham melhorando tão bem com os equipamentos mais tradicionais — ressaltou Pacheco, que também proprietário da clínica VitalVet.
Conforme os responsáveis, atualmente, além da máquina operando em Porto Alegre, apenas outro estabelecimento veterinário trabalha com o SIS no Brasil, em São Paulo. O uso do equipamento nos pacientes ocorre somente após a avaliação do médico veterinário. O valor cobrado é o mesmo que uma sessão de fisioterapia tradicional oferecida na clínica, que é de R$ 190.
Tratamentos não são somente físicos
Além das inovações na reabilitação dos animais de estimação, a medicina veterinária avançou também no tratamento psicológico de cães e gatos. Assim como os seres humanos, os bichinhos já contam com profissionais que trabalham para entender seus sentimentos e comportamentos.
No entanto, em vez de um divã, a consulta ocorre em um tatame rodeado de brinquedos e comidinhas gostosas. É neste espaço que a médica veterinária comportamental Joice Peruzzi faz, junto com sua equipe, a avaliação do paciente e os motivos que levaram o tutor a procurá-la.
A consulta pode ser também a domicílio, principalmente, no caso dos gatos. Já que o paciente não consegue se comunicar verbalmente, fica a cargo dos tutores contar tudo o que acontece. Conforme Joice, que afirma que sua profissão poderia ser comparada à de um psiquiatra para humanos, o principal desafio é entender o que motiva aquele comportamento do animal e garantir o sucesso dos responsáveis em lidar com a situação.
Nós somos facilitadores do processo, mas quem efetivamente é responsável pela mudança e o sucesso do tratamento é o tutor.
JOICE PERUZZI
Veterinária comportamental
— Alguns pontos vamos abordar diretamente com o animal, fazer o exame físico e as atividades diretamente com ele. Mas isso jamais é feito sem a presença do tutor, pois ele é o principal ator na mudança no comportamento do animal. Nós somos facilitadores do processo, mas quem efetivamente é responsável pela mudança e o sucesso do tratamento é o tutor — destaca Joice.
A veterinária atende não só clientes particulares, mas também aqueles que chegam por meio das ONGs que atuam no auxílio de cães e gatos abandonados. Um dos atuais pacientes da equipe, formada por Joice e outras duas veterinárias, é Apolo, um cão sem raça definida que, segundo análise das profissionais, não deve ter mais do que dois anos de idade.
O paciente já tinha um diagnóstico prévio: "excesso de felicidade". O designer Leonardo Pereira, 28 anos, que é o responsável temporário por Apolo, vem enfrentando dificuldades para controlar o temperamento do cão. Com muita energia, o animal não para quieto, pula e morde as pessoas – sem raiva, apenas pela emoção do contato – e não perde a oportunidade de mastigar alguma coisa.
— Eu sou o quarto tutor dele. Em uma semana, ele passou por três casas. Na primeira, ele rapidamente comeu um sapato. Na segunda, ficou só umas horas e, na terceira, a menina permaneceu com ele por uma semana. Comigo, ele está desde maio e acho que vou adotá-lo de vez — revelou Leonardo, enquanto observava as estripulias de Apolo no consultório.
O caso de Apolo, em que há mais empolgação do que agressividade, não é o mais atendido pelas profissionais. De acordo com um levantamento realizado pela equipe, os principais motivos de procura por ajuda entre os cães são agressão contra pessoas, agressão entre cães, problemas de separação do dono, medos e problemas de treinamento (como o que acontece com Apolo).
Já entre os gatos, a maior procura acontece por agressões entre gatos na mesma casa, agressões contra pessoas, necessidades fora do local apropriado, integração de um novo gato na família e comportamentos repetitivos.