As aulas presenciais tinham sido retomadas há pouco na cidade de São Paulo quando os pais de Theo Costa Ribeiro, de cinco anos, foram chamados pela direção da escola onde o menino estudava, em agosto do ano passado. O assunto era o desempenho da criança nos poucos dias de atividades, meses depois do afastamento devido à pandemia de covid-19. Na reunião, pai e mãe ouviram elogios: um menino inteligente, que aprendia rápido e tinha capacidades acima da média dos colegas de turma. Ao terminar as próprias tarefas, ajudava os que tinham dificuldade. Apresentava comportamento de líder.
— Vocês já fizeram um teste de inteligência com o Theo? — perguntou a diretora da escola.
Ygor Ribeiro, 33 anos, e Jessica Ribeiro, 36, responderam que não. Em casa, notaram tratar-se de uma criança inteligente. De acordo com o pai, eles relacionaram essa percepção inicial à ideia de que pais tendem a considerar os filhos espertos e capazes, ainda que sejam tão espertos e capazes quanto a maioria das crianças.
— Por causa da pandemia, ele não tinha contato com outras crianças. Também é o nosso primeiro filho. Não tínhamos base de comparação e, por isso, não suspeitamos de algo tão diferente — explica o pai do menino em entrevista a GZH.
Os dois saíram da reunião com um conselho: buscar a opinião de um neuropsicólogo, profissional que poderia avaliar se Theo tinha a inteligência acima da média. Assim, o menino foi submetido a testes do quociente de inteligência (QI), número que expressa a capacidade intelectual de uma pessoa. O resultado é obtido por meio da avaliação de habilidades de diversas áreas do conhecimento como matemática, raciocínio e lógica. Leva também em conta a idade mental da pessoa. Theo fez os testes durante seis dias - cada sessão de avaliação durou entre uma hora e uma hora e 30 minutos.
O teste indicou 146 pontos, o que equivale a 99,8 de percentil (ou seja, o resultado do menino é melhor do que 99,8% da população). Isso significa, portanto, que Theo tem a capacidade intelectual de alguém uma década mais velho.
— Esses testes não apontaram apenas para um nível elevado de inteligência, mas para um nível de inteligência que pode ser classificado como gênio. Foi uma surpresa, nos assuntou – comenta o pai.
O resultado fez com que o menino entrasse para a Mensa International, importante sociedade de pessoas de alto QI, fundada em 1946, no Reino Unido. A organização demorou cerca de seis meses para aprovar o ingresso do menino paulistano a partir de um pedido feito pelos pais. Com o feito, ele tornou-se o brasileiro mais jovem a entrar na organização.
Mudanças na rotina
De acordo com os pais, Theo tem o comportamento igual ao de outras crianças: é comunicativo, alegre, gosta de dinossauros, de jogar videogame, ler livros e correr. Além disso, está em uma escolinha de futebol e estuda música nos momentos fora do colégio. A descoberta da capacidade intelectual incomum implicou mudanças na rotina escolar da criança. Theo adiantou uma série e, assim, frequenta o segundo ano.
Isso ocorreu porque, nesses casos, a lei brasileira permite que alunos "pulem" até dois anos escolares. No entanto, hoje, a opção da família é mantê-lo no segundo ano. No momento da decisão de adiantá-lo um ano, os pais temiam pela adaptação da criança aos novos colegas, mais velhos.
— Ficamos preocupados no começo, mas vimos que ele tirou de letra, fez amizades. Optamos por ir aos poucos, pois o emocional é importante também — comenta o pai.
De acordo com o Censo Escolar 2020, há 24.424 estudantes com perfil de altas habilidades – expressão também utilizada para definir pessoas do grupo - e superdotação matriculados na educação especial no Brasil. Por isso, para o Ministério da Educação (MEC), se considerados os mais de 47 milhões de alunos da Educação Básica, no mesmo estudo, estima-se que cerca de 2,3 milhões de estudantes façam parte do grupo. No entanto, o número pode ser maior, pois é de difícil identificação sem uma avaliação profissional. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que 5% da população têm algum tipo de alta habilidade ou superdotação.
Atenção ao desenvolvimento da criança
A professora Luciane Kruche, do curso de Pedagogia da Universidade Feevale, é cautelosa quanto ao tratamento dado a crianças de alta habilidade. A profissional alerta para a necessidade de cuidados à integração da criança a indivíduos da mesma idade, para que não haja prejuízos durante o crescimento e na socialização da pessoa:
— É uma criança que precisa brincar com crianças da mesma idade. Precisa do lúdico, pois é um sujeito como qualquer outro, que necessita de orientação, e encarar isso de uma forma saudável, para evitar sofrimentos.
A professora explica que, em casos similares ao de Theo, deve-se ter tratamento especial nas atividades escolares, algo garantido por lei por meio da educação especial. Se isso não for feito da maneira correta, a capacidade intelectual do menino pode fazer com que problemas apareçam durante o desenvolvimento e em outras fases da vida.
— Ele pode avançar para outras séries, mas isso depende de uma avaliação realizada pela escola e a conversa com os pais. Em muitos casos, os responsáveis optam por manter a criança por causa da interação com os pares (crianças da mesma idade). Todos os extremos podem prejudicar. Os pais não podem se afobar com isso — conclui.