Uma postagem feita pela médica obstetra Mariana Barth no Instagram emocionou os internautas, nesta sexta-feira (18). Em fotos e vídeo, Mariana registrou o momento em que a advogada Jéssica de Souza Antonio, 28 anos, com a filha recém-nascida, Ayla Hausen, nos braços reencontra sua cadela-guia, Eva. A cena ocorreu logo depois do parto, no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, no sábado passado (12).
Paciente de Mariana desde o início do pré-natal, Jéssica sempre foi às consultas acompanhada de Eva e havia solicitado à médica a presença da labradora no dia de dar à luz. A médica conta que a jovem internou já em trabalho de parto e que todo o processo durou 3h30min, sempre com Eva ao lado.
— Eva foi muito tranquila e atenta à tutora durante todo o trabalho de parto. Enquanto a Jéssica sentia as contrações embaixo do chuveiro, a cadela permaneceu na porta do banheiro a observando — recorda a médica.
Segundo Mariana, quando a bolsa da Jéssica se rompeu, Eva sentiu o cheiro do líquido amniótico e o farejou no chão. Parecia tentar entender o que estava ocorrendo. Do estouro da bolsa até o nascimento de Ayla foram apenas 30 minutos. Não houve tempo nem de a advogada receber anestesia. Eva só não entrou na sala do bloco cirúrgico onde ocorreu o parto.
— Enrolamos a Ayla ao corpo da mãe e as levamos para apresentar o bebê à Eva, que aguardava na porta do Centro Obstétrico. Imediatamente, a cadela se pôs a sentir o cheiro da bebê e a lamber os pezinhos dela. Foi muito lindo acompanhar a conexão da cadela com a Jéssica, entendendo a chegada do bebê. A sensação era de que Eva havia sentido que estava se tornando a irmã mais velha. Todos nós choramos — conta, emocionada, a médica.
"Foi uma construção muito linda"
Deficiente visual desde o nascimento, Jéssica está na primeira experiência com um cão-guia. A labradora Eva, de seis anos, passou a viver com a advogada há três anos e quatro meses. Quando engravidou, Jéssica e o marido, Luciano Hausen, não perceberam mudança na rotina da cadela. Mas cerca de 15 dias antes do parto, Eva passou a dar sinais de que poderia estar compreendendo a chegada de uma nova vida.
— A Eva começou a lamber e a cheirar a minha barriga. Foi uma construção muito linda, desde a minha primeira consulta com a doutora. Ela quem sugeriu a presença da cadela no parto, algo que eu queria muito — revela Jéssica.
Depois do nascimento de Ayla, Eva permaneceu com mãe e filha no hospital até receberem alta na segunda-feira passada (14). Na data, Ayla e Eva foram presenteadas com bandanas especiais, entregues pela obstetra. A menina ganhou uma com um desenho de um cachorro. Eva, por sua vez, saiu do hospital usando uma peça com a frase "Virei irmã mais velha".
Desde então, a cadela se tornou ainda mais companheira e entrou no ritmo novo da família: se Jéssica está com filha no colo, Eva fica no entorno. Nas noites em que o casal acorda para atender a bebê, Eva permanece ao lado. No dia seguinte, todos estão cansados. E Eva, também.
— Ela ter participado de todo o processo foi muito importante porque, do contrário, poderia ficar triste pela minha ausência por mais tempo. Agora, estamos sempre dando o pezinho da Ayla para ela cheirar e dizemos "olha, olha a mana!". Tenho certeza de que, quando a Ayla começar a interagir, será um sucesso. É capaz da minha filha falar "auau"antes de "mamãe" — finaliza Jéssica.
Hospital Moinhos de Vento tem projeto Amor em Patas
O Hospital Moinhos de Vento implantou o projeto Amor em Patas há sete anos. A iniciativa da qual Jéssica e Eva puderam participar serviu de exemplo para a defesa da legislação estadual sancionada em 2019, sobre a visita de animais de estimação aos donos quando estão internados. No caso de cães-guia, a legislação nacional estabelece que deficientes visuais têm direito a ingressar com seus cães em locais públicos e de uso comum, mas dispensa da obrigatoriedade de permitir o acesso em algumas áreas sensíveis, como hospitais. Mesmo assim, o Moinhos de Vento avalia cada caso para garantir a melhor experiência para o paciente.
— Entre os benefícios da convivência do ser humano com o seu animal de estimação percebemos a melhora da capacidade motora/cognitiva/sensorial, diminui o nível de estresse, favorece a memória, previne doenças cardiovasculares, ajuda o paciente na recuperação da autoestima e da autoconfiança. A ideia de trazer o animal para o hospital é de proporcionar ao paciente a melhor experiência física e emocional, colocando este paciente como protagonista — explica a supervisora de enfermagem da instituição, Elisandra Leites.
Para entrar no hospital, os animais de estimação precisam de autorização do médico, atestado de sanidade assinado por veterinário e ter tomado banho no máximo 24 horas antes. Antes da pandemia, a média era de dez pacientes visitados por seus pets por mês. O projeto foi interrompido em 2020 e retomado em junho de 2021. Hoje, a média é de seis visitas mensais.