Na tarde de terça-feira (15), a UTI da Santa Casa de Porto Alegre abriu as portas para um visitante especial. O pequeno Bartolomeu, Bartô para os íntimos, chegou ao hospital dentro de uma caixinha de transporte. Mas não foi preciso muito tempo para que ele já se sentisse em casa e se esparramasse na cama junto de Ruth Helena Oliveira Flores, 70 anos, que, embora pedisse muito, nem imaginava receber tal surpresa.
— A minha mãe relatou que estava com saudade do Bartô. Ela dizia: "imagina ele aqui na minha cama". E eu disse para ela que isso já era demais, porque ela está em uma UTI, é bem mais difícil — conta Marcia Oliveira Flores, filha de Ruth.
Xodó de Ruth, o shih tzu faz parte da família há 12 anos — nessa longa trajetória de vida para um pet, Bartô teve um glaucoma e, desde então, não tem o olho esquerdo. Filha única, Marcia, que é enfermeira, pegou o cachorro quando começou a fazer plantões, para proporcionar uma companhia aos pais dentro de casa.
— Ele é meu, mas ficou como se fosse dela, porque se apegou a ela. O Bartô acabou trazendo benefícios, porque ela passeava com ele na rua, fez amizades, ele criou muitos vínculos para ela, que foi o que eu planejei. Ele é muito especial — relata Marcia.
Desde sexta-feira (15), Ruth está internada na UTI da Santa Casa. Ela foi diagnosticada com fibrose pulmonar, um quadro crônico, há quase 10 anos, após exames de rotina que identificaram uma mancha no pulmão. Desde então, vinha se tratando com uma medicação que conseguiu retardar o avanço da doença. No fim de 2021, porém, teve de suspender o tratamento devido a efeitos colaterais. Com o agravamento do quadro, precisou do uso do oxigênio e, desde a última semana, está internada.
— Agora, é irreversível. Então, a gente tentou proporcionar a realização desse desejo a ela — diz a filha.
Enfermeira do Centro Obstétrico do mesmo hospital em que a mãe está internada, Marcia compartilhou com os colegas a saudade que a mãe sentia de Bartô. O seu gestor, o enfermeiro Fabrício Cunha, foi quem fez a ponte para que o desejo se concretizasse, contatando a chefia da UTI para viabilizar a visita de quatro patas.
Com o pedido autorizado pela direção da Santa Casa, o controle de infecção do hospital acompanhou o processo da visita. Marcia precisou levar o pet no veterinário para atestar que Bartô estava com a saúde em dia para entrar no ambiente hospitalar e também foi necessário apresentar comprovação das vacinas.
De acordo com a comunicação da Santa Casa, visitas de animais não são comuns, mas ocorrem esporadicamente. Cada caso é analisado de forma individual, levando em consideração as condições de saúde e a história de cada paciente e também mantendo os cuidados de saúde necessários com o pet, como as vacinas em dia. Assim, a visita de Bartô foi possível e, durante 20 minutos, a saudade mútua pôde ser amenizada.
— Ela ficou bem emocionada. No quarto ele saiu da caixinha, já foi em cima da cama e lambeu o rosto dela. Ele já estava deitado, não queria ir embora, estava em casa. Ele se comportou muito bem. Foi muito legal a experiência. A fisionomia da minha mãe mudou, a saturação ficou boa — finaliza Márcia.
Produção: Isabel Gomes