Um dos mais conhecidos e premiados fotojornalistas brasileiros, Orlando Brito, morreu na madrugada desta sexta-feira (11), aos 72 anos, em Brasília. Ele estava internado há 34 dias na UTI para tratar um problema no intestino. Ao passar por uma cirurgia,acabou não resistindo, tendo falência múltipla dos órgãos. Brito deixa a filha Carolina e dois netos, Theo e Thomas.
Orlando Péricles Brito de Oliveira nasceu em 8 de fevereiro de 1950 em Janaúba, Minas Gerais. Em 1960, na época de inauguração de Brasília, acabou se mudando para a cidade com a família. Quatro anos depois, foi para o Rio de Janeiro, onde teve sua primeira experiência profissional, atuando como laboratorista da sucursal do jornal carioca Última Hora. Em 1966, começou a trabalhar como fotógrafo para o veículo de comunicação.
Entre 1968 e 1982, o mineiro começou a atuar no jornal O Globo, onde se firmou profissionalmente e teve importantes conquistas. Em 1979, se tornou o primeiro brasileiro premiado no World Press Photo Prize do Museu Van Gogh, de Amsterdã, na Holanda — o mais prestigiado prêmio de fotojornalismo do mundo. Ele obteve o primeiro lugar na categoria "sequências" com o trabalho "Uma missão fatal", que consiste em uma sucessão de fotos sobre um exército militar.
No entanto, seu maior reconhecimento profissional começou quando foi para a revista Veja, periódico no qual atuou por 16 anos, chegando até a ser editor de fotografia, em São Paulo. Depois de uma breve passagem, no final da década de 1980, pelo Jornal do Brasil, Orlando optou por retornar a Brasília, nos anos de 1990. Lá, assumiu o cargo de chefe do escritório local da revista Caras.
Algum tempo depois, Brito optou por voltar a atuar na Veja, dessa vez como repórter fotográfico. Somando as idas e vindas no veículo, ele conseguiu produzir fotografias para 113 capas para a revista. Em 1991, recebeu a distinta Bolsa de Fotografia da Fundação Vitae, de São Paulo, e prêmios de Aquisição da I Bienal de Fotografia do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e da Bienal Internacional de Fotografia de Curitiba
Além do trabalho nos veículos de comunicação, Orlando lançou cinco livros de fotografia: Perfil do Poder (1982), Senhoras e Senhores (1992), Poder, Glória e Solidão (2002), Iluminada Capital (2003) e Corpo e Alma (2006). Ele planejava lançar outros três livros em breve. Além disso, depois que saiu da Veja fundou sua própria agência de notícias, a Obrito News.
Recentemente, além do trabalho na agência, o fotojornalista ministrava cursos, workshops para grupos em empresas e aulas em universidade, faculdades e escolas de comunicação e jornalismo.
Momentos históricos
Durante a carreira, Orlando testemunhou diversos momentos históricos, como o fechamento do Congresso Nacional, em 1977, durante o governo do general Ernesto Geisel.
Em 8 de outubro de 1992, conseguiu tirar uma das últimas fotos do então deputado Ulysses Guimarães na rampa do Congresso. Quatro dias depois, o parlamentar, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, morreu em um acidente de helicóptero na baía de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
Em 2011, Brito fez uma das últimas fotos do ex-presidente Itamar Franco. Na época, em entrevista a um podcast, relatou que o "ar estranho" do então senador de Minas Gerais o motivou a fotografá-lo.
— Aquele ar estranho me levou a fazer uma fotografia. Uma foto triste e surpreendente. Foi a última imagem que eu fiz do doutor Itamar. Horas depois, ele seria internado, em São Paulo, e viria a falecer de leucemia aos 81 anos — contou no programa.
Nos últimos 55 anos, Brito conseguiu registrar todas as posses presidenciais — desde o ex-presidente Arthur Costa e Silva, em 1967, até Jair Bolsonaro, em 2019. Em 3 de maio de 2020, ele e outros jornalistas que acompanhavam uma manifestação de apoio ao atual presidente, ocorrida na Praça dos Três Poderes, em Brasília, foram agredidos.
Pelos trabalhos produzidos, o fotojornalista conquistou alguns prêmios. Além do World Press Photo Prize, recebido na Holanda em 1979, ele foi laureado 11 vezes pelo Prêmio Abril de Fotografia, do qual foi considerado hors-concours da premiação — termo em francês relativo a uma pessoa que não pode mais participar de uma competição devido ao grande número de conquistas.