Uma tela interativa que permite uma viagem no tempo, a partir da década de 1930, é considerada o coração do Memorial da Imigração Judaico-Alemã. O ambiente virtual reúne fotos, documentos e depoimentos em vídeo que retratam a história de uma comunidade fundada no século 20. Dispostos em uma sala no primeiro andar da sinagoga da Sociedade Israelita Brasileira de Cultura e Beneficência (Sibra), em Porto Alegre, outros objetos físicos, como livros, malas, candelabros e solidéus, compõem o acervo.
Idealizado pelo rabino Guershon Kwasniewski e desenvolvido por um grupo de associados e profissionais, o memorial foi inaugurado em eventos realizados em 22 de novembro e em 3 de dezembro, na sede da Sibra (Rua Mariante, 772, bairro Rio Branco). O primeiro encontro reuniu autoridades como o embaixador da Alemanha no Brasil, Heiko Thoms, e os cônsules da Alemanha em Porto Alegre, Milan Simandl e Michael Serra, além de associados da entidade.
De acordo com Kwasniewski, a expectativa é de que o local esteja disponível para visitas agendadas a partir de março de 2022. No total, foram cerca de cinco anos de planejamento, aprovação e execução até que o memorial ganhasse a forma atual. Entretanto, a pandemia de coronavírus atrasou um pouco alguns processos, como a gravação dos depoimentos em vídeo, que ainda precisa ser concluída.
— A Sibra completou 85 anos em 2021 e, já pensando para a frente, faltam apenas 15 anos para o centenário. Então, preparamos um memorial para resgatar a história da imigração judaico-alemã — relata o rabino, explicando que o projeto foi feito em parceria com o Consulado Geral da Alemanha em Porto Alegre e com o apoio do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.
Componentes do memorial
Ao subir as escadas para chegar à sala do memorial, os visitantes poderão acompanhar uma linha do tempo com a história da Sibra desde sua fundação, em 1936. Já no espaço dedicado ao acervo, é possível ter acesso aos expositores com os objetos físicos e à tela interativa que permite um passeio virtual.
Entre os livros, candelabros, malas, enfeites, fotos e documentos expostos, Kwasniewski aponta peças que foram salvas da guerra e trazidas pelos imigrantes. Segundo ele, alguns itens já existiam na Sibra e outros foram doados ou emprestados pelas famílias associadas., após o lançamento do projeto.
Um dos expositores, por exemplo, mostra situações opostas, na visão do rabino: de um lado, a medalha que um judeu ganhou do governo alemão por sua participação na Primeira Guerra Mundial. De outro, a estrela amarela que os nazistas obrigavam os judeus a usar na época do Holocausto:
— É um contraste de como os judeus estavam inseridos na sociedade e de como, depois, foram perseguidos.
Outra prateleira abriga carteirinhas originais de associados da Sibra, o que, para muitos imigrantes, na época, era a primeira documentação obtida, antes mesmo do RG. Já em um espaço no canto direito da estante, estão solidéus — itens usados para cobrir o alto da cabeça — personalizados, incluindo peças com estampas do Grêmio e do Internacional.
O monitor no centro do ambiente, que é descrito pelo rabino como o “coração do memorial”, conta com um vídeo de apresentação e outros espaços virtuais divididos em três tópicos: ciclo da vida, festividades e eventos, e minha vida na Sibra. As duas primeiras páginas apresentam fotos e documentos históricos, separados por décadas a partir de 1930, enquanto a terceira abriga os depoimentos em vídeo.
— Aqui, nós fazemos uma viagem pelo tempo. O monitor é uma porta para o ilimitado, tu entras e pode ficar ali, viajando, é uma capsula do tempo — afirma.
Kwasniewski esclarece que todos os arquivos estão em uma nuvem, porque, no futuro, a ideia é disponibilizar também um acervo online, que possa ser acessado por pessoas de qualquer parte do mundo. Agora, contudo, a organização está trabalhando para alimentar o banco de dados e treinar os guias, que serão os próprios associados da Sibra, que conhecem muito bem a história e estão motivados para contá-la.
Em relação ao público-alvo do memorial, o rabino informa que este é um projeto da Sibra para todos, considerando que pode atender pesquisadores, estudantes e quaisquer pessoas que tenham interesse na história da imigração. Mas, até o momento, as visitas estão disponíveis apenas para os associados, em número reduzido, devido à pandemia.
A partir de março de 2022, quem tiver interesse em visitar o espaço precisará entrar em contato com a equipe do memorial para agendar um horário, pelo e-mail secretariasibra@gmail.com ou pelo WhatsApp (51) 99207-2919. O Memorial da Imigração Judaico-Alemã também segue aceitando objetos e documentos variados, de valor histórico, para incrementar a coleção, além de doações e patrocínios para ajudar a preservar todo o acervo. Para doar ou emprestar itens, basta acionar a organização por meio de um dos contatos acima.