A Revolução Francesa, o grande incêndio de Londres, a ascensão do nazismo, a invenção da bomba atômica e até mesmo os atentados terroristas de 11 de setembro. Todos esses acontecimentos históricos supostamente foram previstos por Nostradamus. E diante de tantos acertos presumidos, não é de se espantar que todos os anos algumas pessoas revisitem seus textos para tentar adiantar o que está por vir nos próximos 12 meses. Para 2022, por exemplo, alguns versos do vidente podem nos adiantar fome, inflação e até canibalismo.
"Tão alto o alqueire do trigo que o homem comerá seus próprios companheiros", trecho escrito na quadra 75 do Século 2, de As Centúrias (Les Propheties, em original). Esse é um dos trechos mais replicados nos últimos dias para indicar o que se pode esperar para o ano que vem.
Nascido em Saint-Rémy-de-Provence, no sul da França, no dia 21 de dezembro de 1503, Nostradamus foi o nome "latinizado" de Michel de Nostradame, que veio de uma família judia convertida ao cristianismo. Sendo o mais velho entre seus irmãos, nos primeiros anos de vida adquiriu conhecimento em línguas clássicas, astrologia e ocultismo graças aos ensinamentos de seus avós. De acordo com alguns registros, seus colegas de classe diziam que ele possuía uma "memória quase divina", além de encantar a todos com seu espírito brincalhão.
Os conhecimentos que adquiriu em medicina o levou a viajar pela França para tratar dos doentes da Peste Negra e, durante as viagens, ele acabou se casando e tendo um casal de filhos. Infelizmente, até mesmo sua família acabou padecendo por conta do surto de peste bubônica, o que levou a Nostradamus questionar seu trabalho como médico. Desanimado, ele passou a viajar sem rumo pela Europa durante aproximadamente seis anos, tempo que supostamente acabou descobrindo seus poderes proféticos. Anos mais tarde, ele acabou se casando de novo e teve seis filhos.
Nostradamus revelou ser capaz de prever o futuro através de uma combinação de estudos astrológicos e inspiração divina. Seu maior trabalho de profecias ficou conhecido como As Centúrias, cuja primeira parte fora publicada em 1555. Os textos foram divididos em doze "séculos", com cada constituído de cem quadras proféticas (algo próximo das estruturas de quartetos, os quatro versos poéticos utilizados na métrica da poesia).
Muitos dos versos do profeta foram atribuídos a uma lista de acontecimentos históricos, como a Revolução Francesa, o Grande Incêndio de Londres, a Primeira Guerra Mundial, a morte do presidente John F. Kennedy e da princesa Diana. Contudo, para o professor e historiador Leandro Karnal, todas as profecias são falsas, incluindo as de Nostradamus. E o professor não é o único a tecer críticas a forma como as pessoas tendem a interpretar o trabalho do profeta, alegando que os textos são vagos e que deixam a livre interpretação de quem os consome.
— Veja que a profecia nunca é objetiva, tem que ser metafórica para que no futuro você possa adaptar ao que acontece — sentenciou Karnal, ao apontar os critérios arbitrários de quem faz a leitura dos versos.
Desde que foi publicado, As Centúrias raramente deixou de ser editado. No Brasil, achar uma edição traduzida do livro na íntegra pode se revelar um desafio, pois praticamente todas as versões trazem comentários (contudo, é possível encontrar algumas traduções amadoras na internet). Quem domina o idioma francês ou inglês pode ler os versos gratuitamente através do Internet Sacred Text Archive.