Você pode até não saber o nome ou qual a utilidade, mas certamente já os viu por aí nas mãos de alguma criança. Com diferentes tamanhos, cores e formatos — tem de coração, estrela, dinossauro, unicórnio e inclusive de pé —, os pop its são brinquedos formados por bolinhas de silicone apertáveis que se tornaram febre entre os pequenos.
Os itens fazem parte dos chamados fidget toys (em português, brinquedos para inquietação), que são utilizados para relaxar e acalmar. Eles ficaram conhecidos nas redes sociais, especialmente pelos vídeos no TikTok e no YouTube, e se popularizaram com o retorno das aulas presenciais.
Entre julho e agosto, por exemplo, os termos “fidget toys”, “pop it”, “pop it fidget”, “brinquedo pop it” e outros derivados atingiram o pico de popularidade entre as pesquisas no Google. No entanto, algumas crianças, como a filha mais velha de Thais Guimarães, 39 anos, conheceram esse tipo de brinquedo ainda em 2020.
No início, Maria Cecília, 11 anos, produzia seus próprios brinquedos de relaxamento, com papel, fita adesiva, tampinhas de garrafa e prendedores de roupa. Após fabricar dezenas, a paixão pelos itens deu uma “sossegada”, mas só até a volta das atividades escolares presenciais.
— Quando elas voltaram para a escola presencialmente, viram que os colegas estavam levando (os fidget toys) para a aula e as lojas começaram a vender. Aí, elas voltaram com tudo. Elas ganham uma mesada e só querem gastar com isso, querem todos os tipos — relata a administradora de empresas, que também é mãe de Martina, oito anos.
Segundo Thais, a coleção das meninas já conta com mais de 80 fidget toys e nada prende tanto a atenção de Maria Cecília quanto os tais brinquedos, que também fizeram com que ambas saíssem um pouco das telas, como celular e televisão. O problema, entretanto, é o preço da brincadeira: um pop it custa cerca de R$ 39 a R$ 49, mas, dependendo do tamanho, pode chegar até R$ 70.
Foi justamente por esse motivo que Danielle Kayser Sauter adiou ceder aos pedidos da filha Manuela, sete anos, até encontrar um brinquedo com valor mais em conta. De acordo com ela, a menina conheceu o pop it por meio de vídeos do YouTube e, quando finalmente compraram um, até os filhos mais velhos, de 11 e 13 anos, quiseram brincar.
Professora de matemática do 6º ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio, Danielle afirma que costuma ver os estudantes menores com pop its em sala de aula:
— Vejo que alguns alunos estão em aula fazendo suas atividades e mexendo no pop it, mas é uma coisa que não me atrapalha.
Realmente tem efeito “antiestresse”?
Renata Kieling, neuropediatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que a maioria das pessoas já brincou de fidget toys mesmo sem saber. Ela compara o uso desses brinquedos com o ato de ficar apertando a caneta retrátil para ver a ponta sair, balançando as pernas ou tamborilando com os dedos.
De acordo com a neuropediatra, cada pessoa percebe as sensações e os estímulos do ambiente de uma forma diferente. Por isso, a ação de usar um fidget toy ou um objeto de forma mais repetitiva é uma maneira de regular o nível de estimulação recebido. Esses brinquedos são utilizados há muitos anos nas terapias de crianças com transtornos do neurodesenvolvimento com este intuito, destaca Renata.
— Por exemplo, as crianças que têm transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) geralmente ficam bem com mais movimento. Elas têm dificuldade de ficar paradas e precisam do movimento para ajustar o nível de estimulação. Então, os fidget toys servem para a criança poder descarregar essa energia, ficar mexendo naquele brinquedo gera para ela um certo conforto — explica.
É essa sensação de conforto que pode fazer com que as crianças (e inclusive os adultos) se sintam mais tranquilas e menos ansiosas ao manusear um brinquedo desse tipo. No entanto, na visão da neuropediatra, a popularização do pop it está mais relacionada à moda do momento do que aos seus recursos terapêuticos.
Segundo Ana Márcia Guimarães Alves, membro do Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), os benefícios dos fidget toys se assemelham aos de outros brinquedos lúdicos, como livros, quebra-cabeças e massinhas de modelar. Ela afirma que todos possibilitam o entretenimento e o exercício da criatividade e da atenção, além de trabalharem habilidades como aprender a lidar com as emoções, a tolerar o não e saber esperar.
Entretanto, a especialista ressalta que o brinquedo tem efeito de amenizar somente a ansiedade natural das crianças, que não precisa de tratamento e nenhum tipo de acompanhamento médico:
— Se a criança tem um estado de ansiedade patológica, que traz sofrimento e prejuízos para suas atividades e sua socialização, aí ela precisa de uma avaliação especializada.
Recomendações e cuidados necessários
A neuropediatra Renata Kieling destaca que, embora os brinquedos sejam vendidos como ferramentas para aliviar o estresse e a ansiedade, seu uso pode não ser bom em determinados contextos. Ela afirma que eles podem representar um elemento de distração, caso a criança o leve para a sala de aula, por exemplo.
Por este motivo, é necessário haver um limite para o uso. Os responsáveis devem ficar atentos se a criança está deixando de fazer outras atividades ou de se envolver com outros brinquedos e crianças para ficar somente brincando com seu fidget toy.
— Esse uso tem que ser ocasional, como é o uso de qualquer brinquedo, e não como algo que a criança depende para estar bem — alerta.
Ana Márcia Guimarães Alves sinaliza que o uso dos brinquedos deve seguir algumas regras, como não usar fora do horário de brincar, não levar para a escola fora do dia do brinquedo e não usar durante a aula, seja ela online ou presencial. Também é preciso respeitar as recomendações de cada produto, pois alguns são menores ou têm peças pequenas, então não são indicados para crianças mais novas.
— Deve-se adquirir um produto de qualidade, por causa do material usado na confecção, ver se o brinquedo tem o selo de garantia do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) e ler na embalagem do produto para qual idade é indicado — orienta.