Depois de 47 dias internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) lutando pela vida em razão de infecção pelo coronavírus, Alvaro Bernardes Camargo, 63 anos, passará o Réveillon com a família. Sob aplausos da equipe médica, ao som da música O Que É, o Que É, de Gonzaguinha, e conduzido por dois filhos, o produtor rural deixou a emergência do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS) às 11h desta quarta-feira (30).
Sua história foi contada em GZH após o filho Afonso Schifino Camargo, 36 anos, marcar com um cortador de grama uma súplica no solo da propriedade onde vive com a esposa e o filho de dois anos em Palmares do Sul: "Volta pai".
— Foram tempos difíceis, mas finalmente ele conseguiu se recuperar e voltou para casa. Será o Réveillon mais feliz da minha vida — celebra, aliviado, Afonso .
Álvaro foi entubado no dia 13 de novembro, após complicações em razão da covid-19. Com as UTIs lotadas, aguardou por dois dias na emergência até obter um leito intensivo. No total, foram 24 dias entubado e um mês e meio na UTI.
— Neste tempo todo, ele só falava em sair do hospital e hoje ficou muito emocionado ao chegar em casa e rever as irmãs, netas e filhos que aguardavam no pátio com balões e tanta alegria. Todos guardando distância de dois metros e de máscara, evidentemente — sublinha.
Álvaro sentiu dor nas costas no trajeto para casa, um efeito esperado após tanto tempo acamado, e ainda sentia-se bastante cansado ao chegar em casa. Pediu para ir para o quarto descansar. Os quatro filhos se revezarão para cuidar do pai — eles optaram por não contratar uma assistente para evitar contato com mais uma pessoa. Além do patriarca, a esposa, o filho mais novo e a nora, mulher de Afonso, também se infectaram com o coronavírus. Todos já se recuperaram.
— Depois do que passamos com o pai, a última coisa que queremos são mais casos de coronavírus na família — reforça Afonso.
Conforme o médico Fabiano Ramos, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital São Lucas, Álvaro ainda precisará de cuidados médicos. Em razão de danos causados pelo vírus nos pulmões, precisará de oxigênio mecânico por pelo menos duas semanas. Também terá de fazer trabalho de fisioterapia para recuperar os movimentos e a normalidade da respiração. Uma vez por semana, terá de ser levado ao hospital para acompanhamento.
— Apesar da saudade grande das netas e dos funcionários da propriedade, ele sabe que terá de manter rigor no distanciamento em razão da saúde ainda estar fragilizada — explica Ramos.
A alta do produtor foi uma vitória para médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e equipes da UTI do São Lucas, celebra Ramos. A mortalidade de pacientes acometidos com gravidade pela covid-19, quando entubados, varia de 20% A 50%. No caso de Álvaro, embora estivesse na idade de risco, sua boa condição de saúde, sem doenças prévias, ajudou na recuperação. E quando há uma recuperação, ainda que restem sequelas, a sensação de vitória renova as energias dos profissionais da saúde.
— A saída da UTI é sempre emocionante em meio a este momento extremamente difícil que estamos atravessando. A alta do seu Álvaro, com aquela súplica do filho no gramado, sintetiza muito bem a angústia que tantas famílias estão passando com esta doença —desabafa o médico.